Quantos de nós temos a nossa criança assustada, à espera de ser resgatada. Em tempo de guerra é doloroso perceber os traumas perpetuados nos corações de milhões de crianças, quer pelo que sofrem na pele, quer por tudo que presenciam. É impossível ignorar, é impossível não meditar por elas, é impossível não vislumbrar o seu futuro sem sofrimento, sem medo, raiva, em desesperança e descrença no amor… e na vida!
A Leonor (nome ficticio) quis explorar o porquê de tantos medos exarcebarem após os 60 anos…
Uma visita rápida à primeira infância, relata factos de uma vida conturbada, entre o luxo e a pobreza, a fuga dos pais de um país em guerra, violações, perdas de bens… O relato é feito de cor, como se contam quase todas as histórias de familia. Histórias recontadas vezes sem conta, sem parar no tempo, na época. Uma narrativa cheia de interpretações viciadas e circunscritas aos interesses familiares. Raramente se olha para além do que se conhece, raramente se olha para a pessoa antes de tudo o que aconteceu, raramente assumimos que sabemos muito pouco dos nossos; de como sentiram, como pensaram, como viveram, das expectativas defraudadas, dos amores e sonhos não vividos, dos traumas perpetuados gerações após gerações…
Na viagem feita à criança da Leonor esta percebeu que também ela, nunca tinha olhado para a sua criança, para além do que lhe contaram e da curta memória e entendimento… Como poderemos ter uma visão diferenciada dos outros, se nem connosco o sabemos fazer!
A menina apareceu assustada, demasiado atenta ao mundo, e a calcular sempre o que de pior lhe poderia acontecer:
“Tive medo, de ser criança…
Depois de ser jovem e mulher…
Tive medo da vulnerabilidade feminina
que me violassem o corpo, e resumissem a minha existência à superação de um trauma…
Tive Medo de ser gorda ou magra demais…
De ser apetecida, de ser vista,
do meu andar ser mal interpretado…
Tive medo de não passar despercebida,
aos olhares críticos, julgadores, predadores…
Tive tanto medo desta condição “feminina” que amo e odeio!
Medo do romantismo, da traição, da vingança das raivas dos outros em mim…
Tive medo da dor no coração, do desamor…da injustiça
E quando a Leonor lhe perguntou sobre a alegria e menina respondeu:
” Tenho medo da alegria, da euforia e da celebração… A dor da tristeza é muito grande…Se festejar e depois perder tudo outra vez ????… Perder dói muito… A mãe chorou tanto…o resto da Vida… O pai nunca mais sorriu… O medo é o meu melhor aliado”
E da morte, eu não tenho medo! – Disse-lhe a Leonor adulta
-A morte é o fim de tudo, depois disso, ja nada mais me pode acontecer!… Eu também não tenho medo… !
Então tens medo da vida ?
“Eu gosto da vida, gosto das serras, dos animais, adoro a água , os rios e os mares, gosto de pintar e desenhar, gosto do vento e da chuva, gosto da terra , do chilrear dos pássaros de manhã, gosto de ver os morcegos à noite e gosto do sol nos meus olhos, gosto de ver a lua e o céu cheio de estrelas… ”
-E se eu tomar conta de ti ? E se eu te prometer que nada de mal te vai acontecer ? E se eu te deixar num prado bonito com todas essas coisas , achas que consegues deixar de ter medo ?
-E um baloiço ?
-Sim um baloiço cheio de flores com lugar para duas, para mim e para ti… o que achas ?
Neste momento as lágrimas escorriam pela face da Leonor, que sorria levemente… finalmente encontrava um lugar seguro para deixar a sua menina assustada… finalmente livre dos medos… finalmente livres!
Hipnoterapia, constelações familiares, Psicogenealogia e Terapia Transgeracional são ferramentas de resgate e orientação, que contribuem para adquirirmos novos comportamentos em prol da nossa saude mental e qualidade de vida.

