A “discriminação” é a maior das pandemias. Não adianta tentar resumi-la ás diferenças de cor ou de etnia… Essa é apenas a mais fácil de detetar… A discriminçao é uma praga que está em todo o lado; fonte de sofrimento, de exclusão e desiquilibrio entre os homens… Vivemos agarrados ao que fomos rotulados e vivemos a acreditar que somos as discriminações de que fomos alvo!
Há discriminação nas relações familiares de todas as raças e etnias, nas relaçoes de amizade de todas as raças e etnias, nas relaçoes sociais de todas as raças e etnias, nas relaçoes profissionais de todas as raças e etnias, nas relaçoes desportivas de todas as raças e etnias, nas relações culturais, nas relações inter culturais de todas as raças e etnias e por fim entre raças e Etnias… Nada começa na cor da pele, NADA!
A Discriminação entre pares da mesma raça e etnia alimenta a Discriminação Entre Raças e Etnias… A discriminaçao cresce de dentro para fora, é SISTÊMICA, quando existe fora é preciso encontrar a sua origem das profundezas de cada um.
Vivemos numa sociedade de julgadores, de discriminadores…. Fazer uma manifestação pela COR é redutor, face ao sofrimento que o comportamento “DISCRIMINAçÃO” provoca socialmente a biliões de pessoas….
Somos todos criadores de Discriminação , quando julgamos os outros pelo que tem ou não tem, pelos seus comportamentos, por as suas escolhas…
Faço cinquenta anos em 2020… Vou falar-vos de alguns pontos da minha vida, onde senti a discriminação … Não podemos continuar com esta EXPRESSÃO redutora de que a DISCRIMINAÇAO é entre pretos e brancos …. É preciso ir mais fundo, a discriminação começa dentro de nossas casas, na superioridade das nossas crenças, em cada uma das nossas relaçoes.
Não olhamos para o outro com amor…Olhamos com critica e é esse olhar em DESAMOR ao familiar, amigo, colega, seja branco, preto ou amarelo, que reforça a a discriminação a larga escala…
Eu toda a vida me assumi pela minha diferença e fui discriminada. Se calhar se fosse preta tinha atribuido tudo à minha cor:
- Aos 13 anos fui excluida de um grupo de amigos por ser GORDA.
- Aos 16 anos fui exlcuida de um grupo de jovens catolicos que distribuiam comida a familias carenciadas, porque não tinha a primeira comunhão
- Fui discriminada e tratada por coitadinha e por anjo porque “casei” com um CEGO( tinha casado por amor como outra pessoa qualquer)
- Fui excluida de um grupo de pais católicos não pecadores por ser divorciada…
- Fui excluida de festas e convivios por não consumir drogas –
- Fui discriminada num hipotetico primeiro emprego na radio porque não fui “simpática” como o director gostaria!
- Fui excluida do grupo de amigos após o divorcio, por ter abandonado o cego, a bestial que passou a ser discriminada como besta…
- A mais bela história de amor que vivi em toda a vida, não foi possivel, por ser discriminada pelo seu grupo de colegas e amigos
- Num evento de cegos, organizado pela ACAP, um dos elementos da organização fez questão de me lembrar que a minha visão ali só atrapalhava
- Fui discriminada por um conjunto de mulheres por não vestir como elas e por nao entrar nos seus jogos de sedução.
- Fui posta de parte de muitos negócios de grande porte, por recusar participar de modelos pouco claros.
- Já fui discriminada por mulheres mais altas pelo facto de acharem que o meu metro e meio me retirava capacidades de decisão e intelectuais…
Na minha visao se um homem Morreu nos EUA, porque alguem usou o seu poder para fazer valer a sua crença de superioridade de raça, temos a obrigaçao de aprofundar a Mensagem sobre o papel da discriminação na humanidade…
Estamos em Portugal. Temos a vantagem do distanciamento que permite observar o panorama Social e Cultural numa outra visão. Não tão reactiva e mais efectiva.
Há tambem que olhar para este episódio ciente de que não sabemos da historia da sua vitima nem do seu perpetuador. Sabemos que é um policia de profissão e que como tantos outros que não são policias é uma pessoa capaz de matar outra pessoa, pela raiva que tem dentro. Promover a raiva aos policias ou aos americanos, simpatizantes de Trump é uma discriminação que irá sempre gerar mais discriminaçao.
Criação de Grupos saudáveis e Inclusão de Bullying é um trabalho que faço para grupos de jovens estudantes , Animadores e formadores, onde o grande desafio é que cada um se Desafie a Auto observar como “Discriminador”
-Quando apontamos o dedo a alguem por ser diferente
-Quando não o deixamos entrar no nosso grupo por não usar os nossos codigos.
-Quando julgamos porque não reza a nossa missa
-Quando julgamos porque não é do nosso clube
-Qaundo discriminamos porque tem um comportamento social e cultural diferente.
-Quando discriminamos porque a familia não pertence ao mesmo status da nossa
-Quando excluimos porque o comportamento ou a conduta social não foi de acordo com as nossas regras.
-Quando discriminamos alguem por algo que nós já fizemos , acreditando que a discriminação é uma forma de nos sentirmos integrados.
Um cliente ex-toxicodependente, chegou até mim a falar do cunhado: ” um drogado, pobre diabo, inconsequente , irresponsavel.” Perguntei-lhe se ele se lembrava de como se sentia quando alguem se dirigia a ele dessa forma; ” Sentia-me mal , mas só tinha mesmo é que aceitar, eu estava errado!”
-Mas achava mesmo que estava errado ?
-Na altura eu queria lá saber do que pensavam eu estava na minha onda, nada mais era importante do que as minhas mocas e as minhas ressacas, eu vivia num mundo diferente! Por isso se me estavam a discriminar do mundo deles, eu não queria saber, eles não conheciam o meu mundo maravilhoso!
-E depois disso ter passado !
-Depois senti-me mal, o meu mundo maravilhoso tinha prazo de validade e tive de voltar à realidade e cada vez que vejo um drogado, parece que me faz lembrar tudo aquilo que eu perdi, só me apetece bater-lhe ?
-Apetece-lhe bater a si ou a ele ? A base da discriminação vem de si ou dele ?
-Pois eu não consigo aceitar o que fiz… não consegui até hoje encontrar-lhe sentido eu discrimino-me diariamente por isto!
-Então vai continuar a discriminar o seu cunhado… só que agora ja sabe o motivo!
Outras formas de discriminaçao:
O meu primeiro marido é cego. Nada me custava mais do que as pessoas não olharem para ele como SER, mas sim como cego… Quando chegavamos a qualquer lado, as pessoas dirigiam-se a ele através de mim “Ele quer alguma coisa?” … ” Se ele precisar ir ao WC” etc etc. Ele era um jovem adulto revoltado, porque não sentia que o tratassem como a pessoa inteira que era, poderia ser o homem mais intelegente da terra mas…. ERA CEGO…nesta dinamica a nossa vida foi difícil, uma pessoa discriminada passa a bola e todos os que lhe são mais próximos, passam a ser alvo fácil de discriminação: por falta de inteligencia, por excesso de peso, por falta de talento, por ignoracia… familiares e amigos próximos, sofriamos dessa discriminação e iamos aceitando, como forma de contrabalançar a discriminçao social de que ele era alvo todos os dias. Uma aceitação que nos ia destruindo por dentro.
A minha mãe teve uma depressão profunda. Uma depressão incurável à epoca. Toda a vida foi uma mulher forte e capaz, criou sete filhas com enorme dignidade e amor… Uma estudiosa, licenciada em Educação, focada, artista. Após a sua morte, ao falar com uma Freira sua amiga, esta chamou me a atenção. ” Oh filha não digas que a mãe se suicidou , ninguem precisa de saber” … Lamento mas não vou fazer isso, nunca escondi o desfecho da história de ninguem, não seria eu a primeira a discrimina-la com o pretexto de que queria protege-la. Se o fizesse, estaria a perpetuar a disciriminção a todas as almas que em alguma fase da sua vida optaram consciente ou inconscientemente por a terminar!… Infelizmente também somos DISCRIMINADOS pela forma como Morremos…
-Acompanhei uma mulher maravilhosa durante alguns meses, até aoseu ultimo dia. A ultima viagem terapêutica que fizemos foi em busca de paz com a sua melhor amiga que a “discriminara” e excluira, quando ela aos dezasseis anos ficou gravida. Aliás toda a aldeia a discriminou, ficou fechada nove meses e logo lhe arranjaram casamento, porque o jovem por quem se apaixonara era de uma familia que não se misturava…Esta mulher viveu uma vida inteira, cerca de 50 anos com um sentimento silencioso e corrososivo da Discriminação social e cultural, nunca deixou de ser a miuda “maluca” da aldeia, um rotulo que lhe ficou para toda a vida… Um dia disse me; “Tinha sido mais fácil ter nascido de outra cor” tinha sido mais feliz, pelo menos tinha o meu clã !… A solidão que sentiu toda a vida e a dor profunda dos olhares e da discriminação silenciosa social é castradora…
-Na semana passada a uma senhora desabafava que a filha com quinze anos anda revoltada com ela , porque a proibiu de se relacionar com uma das suas melhores amigas , porque a amiga se envolveu sexualmente com um rapaz e por isso não era digna da sua companhia. Lembrei-me da D Manuela que à 45 anos , em 1975 teve de sair da terra, por não aguentar a discriminação. Estamos em 2020 e isto continua a acontecer como se a descoberta da vida sexual fosse algo de errado socialmente. Não é nada de errado, mas é garantido que a Vida desta miuda vai ficar marcada por uma profunda injustiça e discriminaçao social, por aqueles que lhe eram mais queridos e este episódio pode afetar de forma negativa toda a sua qualidade de vida!
As pessoas andam sempre em busca de aprovação e isso é MEDO da DISCRIMINACÃO. Cá por casa sempre passaram muitos miudos. E em conversas de lanches e almoços, distraiam-se contavam historias que estavam proibidos de contar… ficavam aflitos, com medo… Nestas ocasiões sempre os sosseguei, “aqui não julgamos ninguem”. Por outro lado percebi o quanto a educação girava à volta dos segredos para não serem Discriminados…
Como pararmos isso ?
-Olhando para o lado e observando o outro como é.
-Aceitando que cada um vive a sua experiencia à sua dimensão
-Não consumindo produtos que contaminam a sociedade, que alimentam o julgamento, a discriminção e do opinanço sobre a vida dos outros ( Programas de TV como BB e Agricultores).
-Não consumindo imprensa que apenas se foca na vida dos outros em 10 linhas. Experimente expor por escrito, uma situação da sua vida. Poderá observar que o que tem para dizer ao mundo não consegue ser descrito em 10 linhas, a historia de cada um deve ser honrada e respeitada. Esse tipo de produtos são contaminadores sociais.
-Saiba distinguir informação util de contaminação social.
-Observe como olha para os seus vizinhos
-Observe os seus pensamentos quando os vê chegar, não precisa de os contar a ninguem. O que lhe passa pela mente : Como vestem, como se tratam, o quanto gordos estão, se estão pobres ou ricos, se estão na falencia ou na prosperidade. Observe o seu dialogo interno relativamente aos outros e avalie para si o quanto discrimina, o quanto tenta rotular a vida dos outros pelo que vê. Isso é discriminaçao subtil que só revela o quanto você se discrimina ou recrimina pelo que tem ou pelo que não tem.
-Observe os seus pensamentos em relaçao aos seus amigos ,aos amigos dos seus filhos, de que forma é que os identifica ? Pelo nome? pela profissão dos pais ? pelo que tem ? Pelos comportamentos ? observe como a discriminação pode estar subtilmente dentro de si.
A dsicriminação está enraizada em todas as culturas. Fruto de crenças populares , pagãs, religiosas sócio-culturais.
Pecisamos urgentemente de começar a tratar do grande tecido social.
Para a evolução da humanidade são precisas de novas directivas sociais e culturais e uma das primeiras premissas é o não julgamento é parar de julgar e discriminar pelos motivos mais patéticos…
Somos todos diferentes e precisamos de aceitar isso de uma vez por todas. Fazemos todos escolhas diferentes, uns fazem caminhos mais ou menos tortuosos, mais ou menos escuros, mais ou menos conscientes, mais ou menos ambiciosos.
A mesquinhice da discriminação, pelo que veste, pelo que estuda, pelo que tem, pelo que conduz é o caminho para a monstruosidade das grandes discriminações.
Podemos parar a produção do racismo a partir da nossa casa, parando de ser mesquinhos e agentes activos de discriminação com tudo e todos que estão à nossa volta…
Esteja atento … Observe -se , observe o que a sua mente diz sobre o outro… E pare-a, sempre que for preciso… rebobine e comece de novo…
Quando deixarmos de discriminar, indiscriminadamente, a discriminação deixará de fazer parte da nossa IDENTIDADE.
Até lá todos os cartazes contra o Racismo dizem muito pouco sobre a solução !
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