“E de repente as minhas mãos soltaram-se, foi como se estivessem presas até aos cinquenta anos… como se tudo o que fiz com as mãos até agora, tenha sido feito com medo de errar, como se toda a minha “criatividade” manual, fosse limitada por uma fita que se me enrolava nas mãos … percebi que alguns circuitos dos meus braços tinham sido desligados e apenas me tinha sido deixada a força fisica a capacidade de resistir ao muito frio e ao muito quente … Percebi que o movimento das minhas mãos, aconteceram desde os meus quatro anos, com alguns circuitos desligados …

A meio do exercicio, olhei para as minhas mãos como uma criança de 4 anos que as descobre pela primeira vez… as rugas desapareceram e ganhei uma força alquimica que não sabia ter… Até este dia as minhas mãos ainda estavam coladas, como é possivel telas presas tanto tempo a uma memória ! Uma memória que me retirou minuncia, fez acreditar na falta de jeito para trabalhos manuais e para tudo que exigia destreza de mãos… Não não podes usar as mãos para o que queres… mete-as nos bolsos… as mãos podem ser perigosas , as mãos podem levar-te ao castigo… Atenção usa-as só para o estritamente necessario… e não aplaudas… nunca gostei de aplaudir é verdade sempre achei os aplausos desnecessarios , dois ou três é suficiente!!!!!
Este é o relato de uma mulher agora com 50 anos, a quem aos 4 anos de idade numa creche lhe eram coladas as mãos, à hora da sesta para não bater palmas…
A infancia é um lugar maravilhoso, que guarda segredos a sete chaves para nos proteger no momento, mas define modos de estar nem sempre benéficos a longo prazo…
Durante a infancia significamos os acontecimentos da forma como os sentimos e segundo estes sentimentos, começamos a agir em modo de sobrevivência. Usamos essa informaçao para nos proteger de novos ataques, limitando a nossa accção, às vezes por toda a vida. A nossa infancia não tem tempo… foi ontem, é hoje, é agora… As memórias boas dão nos força para continuar as menos boas ficam guardadas à espera de sentido …Até ao dia em que decidimos revisitar esse momento, e nessa altura podemos esclarecer algumas questões, agradecer à nossa criança e ensinar-lhe um outro significado para o sucedido: “Sabes eu acho que ela não queria que tu e os teus amigos tivessem medo das vossas mãos , eu creio que aquela senhora tinha um trauma com palmas, talvez o barulho a levasse a memórias menos boas, talvez nunca tenha recebido os aplausos que gostaria, ou talvez fosse aplaudida pelos motivos errados… mesmo não sabendo o porquê, sabemos que algo de errado existia entre ela e as palmas… mas era apenas um problema dela…diz-lhe isso…diz-lhe ainda que aprendes-te a olhar para as tuas mãos com amor e que as usas sempre juntas muitas vezes ao dia… diz-lhe que aprendes-te que a gratidão é a mais nobre de todas as colas, para as manter juntas…”
E depois disso ” aplaude a tua pequena criança, abraça-a, limpa-lhe qualquer resíduo de cola que lhe tenha ficado nas mãos, e liberta-a desse sentimento” …
A infancia pode e deve ser visitada e sempre que necessario, ressignificada. “Nunca é tarde para viver uma infancia (mais ) feliz” Milton Erickson.