geometria relacional

Os Triângulos amorosos continuam a provocar rupturas e muita inquietação aos que ocupam lugares de Amantes, Traídos e Traidores… Todos sem excepção procuram aliviar sofrimento, encontrar sentido e destravar algo, para finalmente avançar com as suas vidas…

Certo ou errado, espelha a forma como as pessoas se relacionam… Feridas enormes estão abertas há muitas gerações. Uma realidade a ser revertida, para o bem da humanidade!…

Na minha visão sistémica, as traições ou os “triângulos” devem servir o grande propósito de avaliarmos, a qualidade dos nossos relacionamentos … Não dos outros em relação a nós, mas de nós em relação aos outros e também a qualidade do relacionamento que mantemos connosco…

Todos os envolvidos; o traído, os que traem e os “amantes” fazem parte do processo evolutivo uns dos outros. Sei que parece estranho colocar a questão nestes termos, principalmente para aquele que foi “traído. A raiva aliada às crenças que tem de si, e do seu papel de vitima, raramente lhe permite aceitar que exista um sentido para tal sofrimento.

Sei que não é um exercício fácil, no entanto, quando nos distanciamos, percebemos que o que leva o outro a relacionar-se com alguém fora do casamento, é algo que tem a ver apenas com ele, com a sua experiência, vivência, estímulos ou apenas com os seus vazios interiores e valores de origem…

Apaixonarmos-nos por alguém, quando ainda estamos num casamento é perfeitamente normal, e para que isso aconteça, nem é preciso que algo esteja a correr mal… A forma como aquele que se apaixona, gere o assunto perante o marido/mulher, faz toda a diferença na geometria do relacionamento: pode criar um triângulo, mantendo duas relações ao mesmo tempo, ou assume verticalmente o sucedido em respeito ao companheiro(a) e ser humano.

Todas as pessoas que perante uma nova paixão do companheiro(a) , foram de imediato confrontadas com a verdade, revelam um carinho e gratidão aos companheiros, ainda que tenham sofrido com o fim da relação, sentiram respeito. E Curiosamente nestes casos as novas relações são mais duradouras, tudo está no lugar certo.

Muito menos tranquilo é quando existe um triângulo (traição), a mentira, omissão, desrespeito e a dúvida provocam um turbilhão de emoções e interrogações. E alguma loucura, sofrimento e tristeza invade o traído. Perante este cenário é fundamental parar o filme, definir o caminho da nossa tristeza e observar o que estamos a sentir .

Nestes momentos disparam todas as questões, individuais, sociais, familiares, que ficaram mal resolvidas ao longo da nossa vida e um tsunami emocional invade os dias… E é aqui que deve começar o nosso trabalho de investigação, identificando quais os verdadeiros motivos da nossa tristeza, e quantas frustrações antigas estão a apanhar boleia deste furacão emocional:

1- Desiludi-me, nunca pensei que fosse capaz de se apaixonar por outra pessoa ?

Bem, isto revela grande imaturidade relacional e emocional. Não precisamos viver em estado de alerta, nem estar sempre à espera de uma traição, mas considerar que controlamos a relação é no mínimo infantil. Quando não controlamos o que sentimos como poderemos controlar o que o outro sente (?) E as vivências que vamos tendo ? E as frustrações individuais ? E as decepções ? E as perdas ? … Como poderemos ter certeza que o nosso companheiro ou nós mesmos não seremos surpreendidos por outra pessoa especial, num outro momento da vida ?

2- Deixei de ser bonita e interessante para ele(a) , o/a amante é melhor !

Mais um grande erro. Se nada mudou em nós o que poderá ter alterado o seu interesse ? obviamente precisamos aprender a olhar, com algum distanciamento. Todos mudamos ao longo dos anos. É comum reencontrar pessoas e notar diferenças, não só fisicamente mas também na forma de estar e até no discurso. Com os nossos companheiros não é diferente eles mudam e o ambiente à sua volta (empresarial, social e individual) também muda. Assim novas pessoas surgem e novos estímulos despertam novas respostas. E ainda que também tenhamos mudado, por vezes sem dar por isso vamos-nos distanciando do que nos atraiu um pelo outro.

3- Sinto uma raiva tão grande por ele/ela … destrui-me a vida!

Quando o meu filho era pequeno, num skate parque, roubaram lhe o casaco… a caminho de casa só dizia “Grande Estúpido… que grande estúpido… que raiva”… quando lhe perguntei de quem tinha raiva respondeu-me “De mim…fui um estúpido por ter deixado o casaco no banco!”…

Acho que é exactamente o que acontece na maioria dos casos de quem foi traído… Sente-se enraivecido consigo mesmo com o facto de se ter permitido ser enganado, por não ter percebido antes, por ter sido ridicularizado…e obviamente que essa raiva é projectada no outro.

A raiva que sentimos não é mais do que a raiva que já existe em nós… altamente tóxica, extremamente perigosa para a nossa saúde:

“Psiconeuroimunologia – ciência responsável pelo estudo das relações entre as emoções, o sistema nervoso e as funções orgânicas – vem demonstrando que somos seres integrados, cujos pensamentos e emoções influenciam na química, nos hormônios e no funcionamento do sistema imunológico. Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Data Popular mostrou que 54% das mulheres, com histórico de câncer de mama, apontaram fatores emocionais como tristeza, mágoa e rancor como causas para a doença. Outros estudos evidenciaram que o surgimento do câncer de mama tem relação com conflitos de divórcio, separação de filhos ou de parentes, etc”.

Sobre a raiva provocada por qualquer traição é bom avaliarmos de que forma nos podemos livrar dela, pois regra geral, sentimos raiva através de actos cometidos por outros, que não podemos alterar, e sobre os quais não temos qualquer responsabilidade… MAS a RAIVA que sentimos está em nós, já estava mesmo antes da traição, precisamos de a parar!

Se o traído sofre, o traidor também. Na maioria dos casos, quando passa a euforia, e a descarga de adrenalina típica destas situações, começa a carregar um fardo de culpa, medo de ser descoberto e até vergonha. É uma questão de tempo até que o peso de estar em dívida se faça sentir… e permaneça!

Salvo raros casos em que a traição serve como ponto de equilíbrio ou vingança Aquele que trai e não confessa, fica pesado…

Os traidores regra geral, enquanto não são confrontados, não revelam e muitos, mesmo perante a confrontação escolhem negar.

E mesmo após os divórcios, escondem e tem medo que o outro descubra. A mentira serve para que o outro não lhes crie maiores problemas nas divisões materiais, para ficar bem na fotografia, perante as familias e sociedade, e com medo que os filhos (quando existem) se virem contra eles. Um medo que os acompanha ao longo da vida, é um peso que a partir de uma certa altura só a eles pertence…

É muito comum também aquele que trai e mente, não conseguir levar a nova relação adiante e a partir daí surgem as grandes depressões. Quando não limpamos o terreno da relação anterior, não conseguiremos terrenos férteis para as novas relações. A verdade numa relação é a verdade transportada para as outras.

Quando a pessoa traída e a que trai, escolhem ficar no casamento, só a verdade pode levar a nova relação adiante. Sim a NOVA relação porque após uma experiência desta natureza, a relação será diferente, não pior nem melhor, simplesmente diferente, mais realista e espera-se mais respeitadora. E quando isto acontece alguém fica a sofrer: A/o amante, perde a cumplicidade encontrada no triângulo.

Escutar o profundo sofrimento de uma mulher, que alimentou durante meses, a expectativa de ficar com um novo companheiro e deste se mostrar irredutível em deixar a mulher, mostra o quanto sofrimento estes triângulos envolvem. Por muito que acuse o amante de cobardia, e medo de dar o passo para ser feliz, o sentimento de rejeição e de não ser suficiente para o salto final , é inevitável. Invertem-se os papeis, se no inicio ele deixava a mulher e mentia por ela, no fim a mulher tem primazia, e o/a amante tem de andar escondida(o) como se fosse uma criminosa… Apanhada/o nas malhas da relação, ou são abandonadas ou quando eles querem continuar, perdem coragem para largar, assumem o papel fixo “de amante” que inicialmente seria apenas temporário, regra geral uma posição que não gostam e traz sofrimento.

Um dos princípios de qualquer relacionamento da nossa vida é o de que provoca um movimento único. No sentido inverso também a nossa existência permite ao outro viver movimentos únicos , por este motivo fica claro que cada elemento de um triângulo , cada vértice, cada aresta pertencem a um mesmo movimento. E cada um tem algo a aprender e a acrescentar à sua vida . Logo a melhor forma de o viver é perguntar até à exaustão : o que preciso superar, aprender com este movimento …

Esta pergunta nunca terá resposta enquanto escolhemos viver no papel de vítima …

Se a Traição é um tema muito batido ?

Não o suficiente. A qualidade dos nossos relacionamentos espelha a sociedade em que vivemos e vice versa.

Quando dentro da nossa casa e com quem nos deitamos na cama, não SOMOS Verdade com quem poderemos ser ? De que alicerces são feitos os nossos relacionamentos ?

Madre Teresa aconselhava “ se queres paz e amor no mundo, vai para casa e ama a tua família “

É dentro de cada um que começa a mudança no mundo, se dentro de nós e de nossa casa, criarmos relações de VERDADE e de RESPEITO, estaremos a fazer muito mais que o SUFICIENTE em prol de um MUNDO MELHOR…

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