EDUCAR PARA FORTALECER!

À mais de 30 anos que trabalho directamente com pessoas… em vários contextos: sociais, culturais, educativos, psicossociais.

A minha experiência enquanto educadora, em contexto não formal de acção social, revelou desde muito cedo a enorme importância e influência, que as opiniões, acções e comportamentos dos outros, tem no nosso desempenho…

Da minha experiência na área cultural e de entretenimento, observo um exagero no valor atribuído às opiniões de figuras publicas, geralmente em matérias que as mesmas não dominam. Assim como o apelo ao consumo de produtos, (que os próprios não consomem), enquanto “influencers” pagos, arrastando milhares de pessoas para as objectivos pretendidos pelas marcas.

Na área da Orientação sistémica e personal management , durante o processo de auto-conhecimento, muitas pessoas, identificam e atribuem a origem de muitos dos seus bloqueios, limitações pessoais, fraca auto estima, insegurança, a experiências durante a infância, a posições e opiniões de protagonistas como : pais, irmãos, tios, avós, professores (desde a creche ao básico).

A Rita, sonha escrever, cria histórias incríveis na sua mente, mas na hora de as escrever, não consegue. Após um curso de escrita criativa, percebeu que este “não conseguir”, vinha de um lugar mais profundo.

” Percebi que sempre coloquei a minha professora primária num pedestal, como se ela fosse a melhor de todas… Mas curiosamente … quando meditei sobre a maior desilusão da minha infância, veio de imediato o episódio em que ela não publicou o meu texto, no nosso jornal mensal ! Recordo-me claramente, de todo o layout da página e do logotipo do jornal. Recordo-me bem, que ao ler o texto da minha colega, lhe dei razão, senti que eu nunca conseguiria escrever uma história assim. A partir daí nunca mais escrevi nada para o jornal. E como não sabia desenhar também nunca desenhei, limitei-me a ajudar a fazer cópias, num tabuleiro de gelatina. Sim porque antigamente era assim que se faziam cópias… Decidi ficar nos bastidores e hoje sei que isso determinou o fluxo da minha vida!”

Todos nós temos histórias deste género para contar, muitos de nós tivemos pessoas que de uma maneira ou de outra nos enfraqueceram ou levaram a desacreditar em nós mesmos. Não podemos evitar que isso aconteça. A pedagogia, o amor, a compaixão pelo outro são competências , algumas académicas outras meramente socioemocionais, que falham nas relacões, desde há muitos séculos, sejam elas de natureza académica, familiar ou social.

” De facto isso é verdade, partilhei este exercicio com a minha mãe, e ela contou-me que a minha professora vivia frustrada porque queria ter sido bailarina, os pais não deixaram. Foi dar aulas após o 25 de abril porque faltavam professores , mas não era o sonho dela… Exercia o seu sonho ao criar coreografias para as nossas festas… mas na verdade era uma pessoa com grande frustração e tristeza.”

Quando percebemos que as acções dos outros tem uma outra história por trás, somos convidados a recolocar-nos sobre o que aconteceu e reformular as perguntas, que no caso da Rita poderiam ser as seguintes:

  • O que trazia dentro de mim para desistir assim ? Poderia ter continuado a escrever, porque acreditava à partida pouco em mim ?
  • Porque dei tanto valor à escolha da minha professora ? Será que valorizar tanto o outro, revela um padrão meu de origem que preciso de trabalhar?
  • O que deixei de fazer ao longo da minha vida por causa dos outros? Onde é que isto começa ?

Inicialmente para as crianças, a familia satélite ( pais,tios,irmãos, amigos próximos) é fundamental para a descoberta da identidade, a seguir, os professores são fundamentais para a sua integração social. Mas partindo do principio que as opiniões e comportamento dos outros, são por si, já condicionadas pelos seus traumas intergeracionais, transgeracionais e que os comportamentos são inconscientes, sobre os efeitos que provocam nos outros, o que fazer para evitar, que nos limitem para a vida ? Como é que vou saber ao que dou e ao que não dou importancia durante o meu desenvolvimento ? Como sei que estou a traumatizar ?

Enquanto o mundo estiver nesta roda viva de sofrimento, de insatisfação , irreflexão, desigualdade de oportunidades, falar de Educar para nos tornar Gente … ou “Tornar-se Pessoa” citando Carl Rogers, continua a soar a utopia… No entanto se queremos continuar o nosso caminho evolutivo como seres na terra, não existe outro caminho: É preciso educar para que cada um tenha consciência de si , para criar pontes saudáveis entre nós e o outro. De forma muito resumida é preciso desde muito cedo Educar para fortalecer pessoas.

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