O Xavier tem 17 anos, saiu com os amigos no fim de semana bebeu muito (álcool) num curto espaço de tempo e passou uma noite infernal. Vómitos, má disposição, mau estar e claro depois enfrentar a “indignação” da mãe pela sua falta de responsabilidade.
Nas palavras do Xavier – “Foi horrível, tudo a andar à volta, fora do controle do meu corpo e mente, não percebo porque tenho tanta vontade de beber e de ficar maluco, porque é que isto é assim, porque temos tanta vontade de ficar malucos ? “
Tento sempre ter algum cuidado para não dar respostas fechadas, pois cada caso é único. Mas podemos falar um pouco sobre alguns motivos e motivações, que levam ao uso de substancias para alterar os estados de consciência. Pratica comum a partir da adolescência, nada de novo, é assim há algumas gerações.
Todos temos uma historia diferente e já bem marcada quando chegamos à adolescência, por isso existem diferentes motivos para querer “extravasar”, “sair da norma” ou simplesmente “Brincar” com estados alterados de consciência. Todos nós de uma maneira ou de outra já o fizemos, não considero errado, que nos possamos conhecer nesse registo, como fazendo parte do nosso processo de auto-conhecimento.
A grande questão nos consumos é: Observar se a experiência se torna uma constante que possa resultar em adição inconsciente, se acontece de forma pontual sem perigo para o dia a dia ou se existem questões individuais em que a pessoa se sente sempre melhor num estado alterado de consciência do que em consciência.
No caso do Xavier, uma noite de má disposição deixou-o a pensar: ” não me sinto bem com o facto de beber, mas algo me puxa para ali. Não por influência de outros, não porque queira agradar ou seguir alguém, mas porque sinto necessidade de me alienar.” E foi sobre esta vontade de “alienação” ou de sair de um estado de “consciência” que, também falámos.
Normalmente o consumo compulsivo de drogas, alcool e até de açúcar está ligado à busca de um estado “alterado de consciência”. Quando nos apercebemos deste processo em nós, é importante olhar para dentro e perguntar ao nosso coração:
- o que procuramos, por o que procuramos ?
Quando não tomamos consciência disto é muito comum deixarmos-nos ir no barco, consumir e beber tudo aquilo que aparece e… “amanhã logo se vê” , também nos podemos habituar às ressacas…aliás… o ser humano habitua-se a tudo!!!! Não é de todo a melhor opção mas tem sido este o processo daqueles que ficam dependentes de álcool, drogas e até comida.
Cada um procura e encontra respostas diferentes no consumo de Álcool e Drogas, sempre que vão a festas e saem à noite, abaixo alguns casos:
- No caso do Xavier beber é uma forma de sair da rotina da preocupação dos estudos. Está empenhado em ter uma excelente nota para entrar em engenharia náutica e os níveis de ansiedade que alcança a estudar são tão fortes que sempre que sai à noite tem necessidade de beber para deixar de pensar nessa responsabilidade, há que ter cuidado para que esse não seja o único escape, existem outras formas de aliviar a ansiedade.
- No Caso da Carla houve uma vontade de se integrar num grupo onde as ganzas e o alcóol era uma forma de convívio, foi um preço alto esta integração social, mas é um motivo tão útil como outro qualquer, deixar de consumir será a sua desintegração social deste grupo, se calhar vale a pena!
- O Rodrigo veio a perceber que beber e fumar ganzas, foi uma forma de provocar os pais, que sempre criticaram pessoas de quem ele gostava por o fazerem. Hoje diz que foi quase como um convite a que os pais olhassem para os outros com amor…mas foi apanhado pelos vícios…
- A Sofia sempre que sai com os amigos, diverte-se. Nem sempre tem vontade de beber e não gosta da sensação de perder o controle. Para ela a diversão não está ligada à alteração de consciência, mas sim a um estado de espirito, não lhe faz sentido sentir-se maluca, experimentou uma vez e jurou para nunca mais.
- A Eva sente-se completamente livre e extrovertida com o alcool e as ganzas pois despertam nela uma miuda diferente. Era muito tímida, tinha vergonha de dançar e de se relacionar. Descobriu que pode ser a miuda que sonhava, com o estado alterado que as ganzas e umas cervejas lhe dão, achava ter encontrado a solução para os seus problemas… mas começa a sentir-se mal com alguns comportamentos demasiado desinibidos que este estado lhe está a provocar…se calhar tem de voltar á outra Eva.
- O Tiago por não conseguir o sucesso escolar dos outros começou a ligar-se aos grupos que iam para o café perto da escola. O alcool e a alienação da frustração tornaram-se cúmplices. Beber tornou-se um hábito e quando ninguém aparecia começava a beber e a fumar ganzas sozinho. Percebeu que esta busca constante de algo que o colocasse num estado alterado de consciência tinha a ver com o facto de não se sentir bem em parte nenhuma, não era bom aluno, não tinha foco, não conseguia estudar, não gostava de viver nessa realidade.
O consumo de Alcool e droga está associado a questões sociais, culturais e individuais. É importante identificar os nossos motivos e motivações e ter consciência que qualquer um deles pode provocar uma dependência física para a vida.
Motivos sócio culturais– tentamos corresponder aos hábitos daquele grupo e ou cultura como forma de integração. ex: idas a discotecas , festivais , festas em casas de amigos.
Motivos individuais– “eu” o individuo por motivos de ordem pessoal tem necessidade de consumir para satisfazer o seu corpo a sua ansiedade ou combater as suas frustrações.
Independentemente dos motivos existe sempre a nossa consciência e a nossa vontade. Ainda que eu me tenha observado e dado o direito de poder uma vez ou outra extravasar é preciso ter cuidado para não deixar que isso se torne um hábito e um alimento para o meu sistema nervoso central.
Graças a grandes avanços da neurociência hoje já é possível colocar o nosso corpo em auto cura, produzir níveis de Beta endorfina ( bem estar) que reduzem os níveis de ansiedade sem que para isso seja necessário consumir algo externo.
Tudo aquilo que procuramos fora, temos dentro.
E nesta consciência se soubermos observar o que nos leva a procurar substancias que nos relaxem a mente e o corpo , poderemos procurar ajuda … que nos permita regular os nossos níveis de ansiedade para que a diversão seja mais uma momento de produção química a favor do nosso corpo e da nossa alma…ao invés de uma agressão tremendamente toxica a médio e longo prazo!
Afinal porque queremos ficar “MALUCOS”… a resposta está dentro de cada um.