“Como neste carro não se ouvem noticias, preciso de ligar para casa, para saber o que se passa no mundo!” Cito o Humorista Luis Borges a ironizar porque eu nunca ligo o radio do carro durante as viagens, confesso que achei piada à contestação de um homem/ miúdo, mas o radio continuou desligado. Dia 3 de Março fomos para Bragança e em vinte e quatro horas, dez foram em viagem, no carro seguíamos quatro pessoas; eu, o Raminhos, o Horácio e o Borges. No meu carro e em minha casa não entram noticiários, assim decidi há muitos anos. Não permito que canais de noticias, invadam a minha casa e familia, com horas seguidas de informação, em tons e contextos com os quais não quero conviver.
Desde 2020, por ter uma empresa no mercado e pela dinâmica pandémica, assinei dois jornais, agora três, para ficar a par da actualidade e das diferentes visões: Expresso, Observador e recentemente o Pagina UM. Nunca tive medo de escutar outras posições.
Desde há quinze dias, após estourar a errada invasão à Ucrania, (porque qualquer invasão é errada). Seleccionei no Telegram duas agências noticiosas, de lados opostos, para ir sabendo o que se passa no terreno. (entretanto já bloqueados por sentir que já vi o que tinha que ver)
Se não existissem indivíduos prontos a atacar nenhum homem poderia decretar um ataque…
Observo a acção dos homens numa guerra: acusações estratégicas, mercenários em acção, maternidades atacadas, corredores humanitários comprometidos, acordos não cumpridos, ajuda internacional, solidariedade e compaixão internacional, redes sociais de raiva, Ucranianos felizes por verem Russos e Russos felizes por se juntarem a Ucranianos, alguns a trocarem de lado, rendições sem resistência. Na Russia sancionada, observo empresas a fechar, e não consigo deixar de pensar no sufoco das familias, do castigo às crianças sem acesso ao entretenimento e distração, dos jovens sem acesso à musica e informação…
Observo os dois lados e conecto-me aos seres humanos na Russia, na Ucrania e no mundo, com as suas vidas comprometidas, objectivos e projectos de vida caem sem nada poder fazer…
No reflexo imediato da EMPATIA é inevitável experimentar um carrossel de emoções, ao nível do parque de diversões mais radical… É inevitável viver momentos de CONFUSÃO e INSTABILIDADE EMOCIONAL.
Quando clientes e Amigos admiram a minha paz, digo sempre que quando o nosso mundo é estável, é fácil manter a PAZ. A minha PAZ nasceu da integração do mundo à minha volta. No entanto nunca achei que fosse “intocável” … Por isso sempre defendi que temos de estar atentos, a construção da nossa PAZ tem de ser constante, porque de um dia para o outro tudo pode mudar e a nossa PAZ, também.
Considero que é fácil perceber que quando as condições mudam drásticamente, geram uma Acção/Reacção também drástica, activam novos instintos, novas sensações e obviamente experimentamos novas frequências EMOCIONAIS , algumas de sobrevivência e nessa dinâmica, a nossa PAZ pode sofrer oscilações…
Ao observar as noticias dos canais que escolhi, observo o quanto a guerra amplifica o que cada um trás dentro de si. Há muito que se fala numa sociedade profundamente doente de valores e princípios sobre a existência humana.
A complexidade e dinâmica do ser humano continua igual na guerra, tal qual se manifesta num dia normal, só que na guerra tudo é amplificado: instinto, a reactividade, competição, corrupção, traição, oportunismo, raiva, traumas individuais, mentira, poder, desequilíbrio emocional, confusão mental, abusos, estratégias maléficas… Não existe em tempo de guerra, limpeza de armas e quando as armas já foram sujas para a guerra, muito pouco há a fazer… a guerra não se compadece com equilibrio mental e emocional…
Ao longo destas duas semanas, dezenas de textos foram começados, não acabados e muito menos partilhados por mim. Permiti-me sentir, deixei que as emoções provocadas pela EMPATIA surgissem e observei em certos momentos “sinais” de zanga, tristeza, decepção, desilusão, raiva e ao mesmo tempo amor e compaixão. A minha PAZ falava mais alto, apaziguando-me, dizendo-me com amor que tinha direito a sentir-me assim, que não exigisse demasiado, que me desse tempo e observasse, que não fazia mal nunca ter sentido isto com outras guerras no mundo, que talvez fosse este o meu timing para o sentir… Ressoava me sempre a frase “de que somos responsáveis por tudo o que nos acontece”, “que somos muito mais do que esta experiência terrena”… mas, ainda assim um impulso repentino queria deitar a toalha ao chão, muitas vezes a fazer-me duvidar… vivi ajustes e desajustes, num carrossel emocional, por não gostar de ver o NOSSO mundo assim…
Não me canso de dizer que a nossa PAZ tem de ser construída dia após dia, não podemos reprimir as emoções provocadas pelas reacções ao que vivemos, pois só encarando, as podemos alterar… Estamos sempre a ser experimentados.
Há um fogo cruzado no mundo, com desenvolvimentos que não conseguimos prever… mas tudo leva a crer que tempos complicados se avizinham.
A minha fé na Paz é inabálavel, o caminho percorrido e aprendizagem adquirida em busca da verdade da nossa existência, nunca desaparece.
A Paz ganha espaço quando percebemos que somos seres espirituais. E quando, perante uma guerra não permitimos que Ódio e a Raiva se materialize dentro de nós, aumentamos o território da PAZ. Quanto mais trabalharmos a PAZ e o AMOR dentro das nossas almas, melhor preparados estaremos para o que por aí vem.
Acredite que não é BACOCO nem de uma LOUCA transcendental este AMOR e PAZ interior que lhe falo… Acredite que é tudo o que precisamos… Acolher quem houver para ACOLHER…E enfrentar o que tiver de ser, SEMPRE com a CORAGEM de exercer o AMOR e PAZ no Coração…
Todos os caminhos são bons para a PAZ, inclusive o meu que não é melhor que os outros …
Ainda que eu MORRA AMANHÃ … irei com a PAZ que conquistei e terei cumprido a missão a que me propus… Não fui ninguém em especial, que o mundo possa aplaudir ou premiar… O meu melhor foi feito sempre em PAZ, sem prejudicar ninguém, colocando-me em questão, observando os acontecimentos do mundo, envolvendo e distanciando-me sempre que necessário, permitindo experimentar e observar as MINHAS emoções, calibrando e re-ajustando a minha “central emocional” sem nunca perder de vista o meu foco: Viver de frente para o mundo, SEMPRE com PAZ e AMOR no CORAÇÃO.
