O uso das tecnologias, da internet e os seus efeitos sobre crianças e jovens, é um tema que levanta muitas questões …As opiniões sobre vantagens e desvantagens dividem-se. Os receios e as expectativas em oposição, não são mais que especulações com base num conhecimento, obviamente limitado ao que ja existe, e por isso é preciso cautela, a margem de erro pode ser grande.
Num ponto estamos todos de acordo; o uso massivo da internet e das novas tecnologias, produzirão novos efeitos, em jovens e crianças, quer a nível fisico, intelectual e emocional e obviamente uns efeitos serão mais benéficos que outros. Neste texto tentarei o possível bom senso, capacidade de observação e alguma deambulação sobre este complexo muito batido mas ainda “desconhecido” tema.
O que se diz : As crianças já nascem com sabedoria tecnológica, são mais espertos/inteligentes que os adultos
Sobre a questão da facilidade com que jovens e crianças se movimentam na tecnologia em oposição aos adultos:
Se observarmos bem o “fácil” uso e adaptação a novas tecnologias pelos mais novos é comum, não é uma novidade geracional, nem tão pouco uma nova capacidade “cognitiva”. Desde sempre as novas gerações demonstraram maior destreza no manuseamento de novas máquinas, do que os seus antecessores. Uns (adultos) porque tem demasiadas referências outros (as crianças) por ausência de referências e por isso menos resistência à aprendizagem.
Trazendo alguma da minha experiência e por ter vivido o enorme salto tecnológico dos últimos quarenta anos, observo uma grande capacidade de adaptação, das ultimas gerações, às novas tecnologias: da maquina de escrever ao computador portátil, de um único telefone fixo em casa, ao Bip, até ao telemóvel no bolso, do vinil à cassete, até à PEN, da Fita ao Mp3, de recibos manuais para recibos digitais, do dinheiro fisico à bitcoin, do pagamento em notas ao MBWAy, do mapa ao GPS etc…
Neste últimos 40 anos a revolução tecnológica aconteceu em todas as áreas da vida: Pessoal, social e Profissional. Se notarmos bem para essa adaptação em Portugal, foram chamados todos os filhos de gerações pouco alfabetizadas, após uma ditadura feroz, que deixou o país nos piores rankings em matéria de literacia. Perante este cenário, podemos considerar, alguma capacidade de resposta e adaptação a todas as propostas Tecnológicas da época, especialmente no campo profissional.
Ainda sobre a destreza das crianças em particular, recordo-me quando apareceram os leitores domésticos de Betacam e VHS em Portugal (1983) há mais ou menos 40 anos, a minha irmã mais nova tinha acabado de nascer. Com apenas dois anos, já sabia colocar a Cassete e manusear o aparelho, enquanto o meu pai ainda se via um pouco aflito, sobre a destreza da bebé, recordo me de ouvir a frase ” Parece que já vem ensinados”!…
Crianças e jovens talvez se adaptem sempre melhor ao novo…
Sobre o principio de que o uso das novas Tecnologias de Informação e comunicação (TIC) são perigosas !
Os comentários sobre o uso das TIC deambulam por vezes, entre extremos , por um lado uns defendem a comunicação digital, a inteligência artificial e a livre internet com unhas e dentes, do outro lado há os que assustados, alertam para o facto de constituir uma ameaça à nossa segurança, saúde mental e até desenvolvimento cognitivo. Em ambas posições, conseguimos encontrar argumentos válidos, no entanto e como é normal quando a história ainda não acabou, a visão global de causa/efeito é turva.
A evolução tecnológica faz parte da vida do homem, no entanto nem sempre tem sido usada em prol da sua “boa” evolução. Entenda-se a “boa” evolução por uma prática construtiva, com uso igualitário e em prol do bem de todos os habitantes da terra, humanos e não humanos.
É preciso também entender, que existirá sempre quem use a tecnologia em prol da vida e os que a usam para a destruir. Por vezes, usando os mesmos principios tecnológicos.
O mesmo acontece com uso da Tecnologia e da internet por crianças e jovens: Pode ser usado em prol do seu bom crescimento, capacidade reflexiva e evolução pessoal, ou apenas como modo de entretenimento, difusor de conteúdos de fraca qualidade educativa, social e cultural. Neste sentido a Educação, deveria ter um papel crucial, reunindo todos os esforços, para que a facilidade com que crianças e jovens a usam, constitui-se uma mais valia para a sua evolução e crescimento pessoal. Talvez por ter sido um fenómeno que saiu do controle do parque educativo, falhou o alerta para os seus numerosos riscos e a definição de estratégias educativas, de auto defesa e protecção.
No entanto como todas as moedas tem dois lados, o mau uso da internet e destas tecnologias de informação e comunicação, por jovens e crianças tem revelado, comprovado e denunciado, muitas vezes pelos próprios, práticas comportamentais desviadas, como os casos de agressão e bullying, tornando visíveis comportamentos e permitindo a resolução e prevenção dos mesmos.
Quem está por trás das TIC ?
Não nos podemos esquecer que tudo é feito e projectado por Humanos adultos, inteligentes, enpoderados e focados no auto-enriquecimento, metas pessoais e profissionais.
A tecnologia que hoje conhecemos esteve na vanguarda de avanços em áreas como espionagem, medicina reconstrutiva (feridos de guerra), armamento, engenharia aeroespacial etc . Em muitos casos, tentativas descartadas. O grande investimento em tecnologia serviu sempre propósitos militares, governamentais ou económicos cujo foco é a optimização e maior enriquecimento com menos custos.
Assistimos ao principio das redes socais, cheias de boas intenções, com objectivo nobre de relacionamento entre pessoas. A sua evolução gerou enriquecimento e valor, despertando investidores, governos e grandes grupos empresariais . Os conteúdos começaram a ser monitorizados, em prol do interesse dos governos, da religião e outros organismos pouco conhecidos , sendo fiscalizados na interligação de todos estes interesses
A tecnologia de informação e comunicação, faz parte da nossa evolução, mas segue, desde sempre, um padrão de controle e manipulação sócio, económica e política. Por isso as crianças e jovens, que os sabem usar tão bem, são também as presas mais fáceis de manipular e moldar.
Sobre quem está por trás da tecnologia e das TIC e quais as suas intenções , tentemos uma resposta à questão; Que tipo de conteúdos teríamos e onde estaríamos tecnologicamente, se a motivação fosse “Um mundo igual para todos” ?
Podemos usar a tecnologia a nosso favor ?
Claro que sim, alguns exemplos simples de como a tecnologia melhorou ou “poderia” ter melhorado a nossa qualidade de vida:
Homebanking, pagamentos MB ou MBWAY, transferencias, poupou tempo a empresas e indíviduos nas filas dos bancos, da EDP, SMAS, DIGAL etc
Tratamento de documentos, Registo Notarial, segurança social, finanças, on-line pouparam “meses” em levantamento de certidões para diversos efeitos, pagamentos mensais, entregas de declarações anuais.
Compras online de artigos de todo o mundo, reservas, viagens etc
Consulta de documentos oficiais, tutoriais sobre uso e manutenção de equipamento, tutoriais de ensino etc
As grandes questões são, o que fizemos com o tempo ganho ? que conteúdos pesquisamos ? De que forma os utilizamos?
Se tudo o que nos é proposto tecnologicamente serve para facilitar as nossas vidas, porque é que vivemos num mundo sem tempo ? Se ganhámos tanto tempo para onde o canalizamos ?
Os números da OMS mostram claramente que em 2030, a depressão será sozinha a maior causa de perdas (para a população) entre todos os problemas de saúde”, afirmou à BBC o médico Shekhar Saxena, do Departamento de Saúde Mental da OMS.
Qual a função das redes ? São para nos unir ou o objectivo é meramente económico e comercial ?
Sabemos que na base de qualquer estação de televisão estão as audiências. Qualquer enquadramento pedagógico é exercício feito à posterior como estratégia de marketing e comunicação. Algo parecido acontece com as redes sociais nos tempos que correm!
Neste sentido, serão as redes apenas uma extensão dos media, mas à medida de cada um ? Será assim tão mau ter um algoritmo personalizado, que filtra apenas o que nos interessa, descartando conteúdo irrelevante ? A resposta estará na qualidade da minha pesquisa e se sou eu que a uso ou se é o inverso.
Quem domina as redes sociais ? As pessoas ou os que criam os algoritmos para que elas não saiam daquela bolha de segurança, dominando as suas mentes pela repetição ?
Eu diria que dominam os dois, uns não vivem sem os outros…
As redes podem ser usadas a nosso favor ou contra nós !
A manipulação de mentes, em massa, são usados desde sempre. O modelo educativo e construção de escolas criados segundo o modelo dos operadores fabris (revolução industrial) é prova dessa manipulação. Assim, neste sentido podemos olhar para o actual “algoritmo” , como a evolução tecnológica desse processo estratégico de manipulação social de outros tempos, nada de novo.
O viciante SCROLL é o velho Zapping em frente à televisão quando existiam 100 canais e nenhum dava resposta … a manifestação da insatisfação… da ansiedade… nada é suficiente… afinal não saímos do mesmo!
Pobre tecnologia.. qual é MESMO o problema… Regressemos às bases : EDUCAÇÃO
Utilizemos a Tecnologia “única” dos homens o “AMOR” e apostemos definitivamente em EDUCAR para os dias de hoje, entregando aos jovens e crianças ferramentas de auto conhecimento e inteligência emocional… Educar para o querer saber, para a curiosidade, para a reflexão… Educar para que jovens e crianças “potenciem” as suas capacidades inatas e que o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação seja uma extensão dessa capacidade, em prol da sua evolução … Que a tecnologia não seja uma rasteira, para darmos passos atrás…
Eduquemos primeiro e… deixemos o tal “algoritmo” em PAZ!
