Se me dissessem há 18 anos que a Ana Soares Produções ainda por aqui andava em 2023, provavelmente não acreditaria…
23 de Março foi o dia em que a empresa foi formada, ainda que tenha começado uns meses antes.
A produção e agenciamento de um projecto de humor e fado Rouxinol Faduncho foi o principio desta aventura. Projecto pouco provável ou expectável, de abraçar, por uma produtora e Road Manager vinda de áreas distintas do teatro, ficção, dos grandes eventos e da musica portuguesa desde 1990 : Fernando Tordo, NYJO (National Youth Jazz Orchestra- London), Brigada Vitor Jara, Quadrilha, João Afonso, Amélia Muge entre outros.
Em 2005 o mercado do humor para as massas, mais concretamente o Stand up, estava a nascer em Portugal e poucos eram os que sabiam lidar com este tipo de produto. Os promotores de província foram os primeiros a entrar em contacto e julgavam que por trabalhar com humor, estava sempre a rir, as abordagens roçavam por vezes o “vulgar” para não dizer mesmo “ordinárias”, julgavam que os cachets eram também uma brincadeira, e que podiam falar sem “filtros” porque isto era tudo à “grande e à francesa”. Fui obrigada a trancar a cara e como mulher a posicionar-me, pois nunca me passaria pela cabeça entrar naquele jogo de palavras. Não por ser licenciada e me achar melhor que eles, mas porque de onde vinha; da World Music, do Teatro Bando, da ficção NBP (atual Plural), Expo98 e na minha familia, ninguém falava assim e por isso não me fazia sentido. E o pior: “não lhes achava graça nenhuma”... Para proteger o projecto de certo tipo de produção, o cachet foi estabelecido numa fasquia mais alta, foram desenhados riders técnicos rigorosos e isso ajudou a separar o trigo do joio, não valia tudo…
Percebi cedo, mas tarde demais para fugir, que ROUXINOL FADUNCHO era um desafio maior do que julgava; um projecto único e invulgar, de excelente qualidade musical, técnica e de representação, e que ao mesmo tempo, enraivecia e coleccionava antipatias no mundo do fado, e era estigmatizado pelo humor vulgar… contrastes que injustamente o afastava dos cartazes mais apetecidos.
Acrescia mais um senão, é certo que o projecto se diferenciava pela sua abordagem técnica e artistica, mas ao passo que qualquer artista de stand up, precisava apenas de um microfone, um carro e um motorista para chegar ao local, nós viajávamos com uma equipa de 8 pessoas, ensaios durante a tarde, rider tecnico de audio, iluminação, camarins, catering, etc a nossa linguagem de produção não se adequava aos eventos mais populares… O chamado ser preso por ter cão e por não ter!
Fomos percebendo que este era um espectáculo que precisava de ser Visto para CRER… E assim fizemos, produzimos para TV, corremos o país, ao vivo, auditórios, eventos públicos e corporativos e… do boca a boca, passava sempre a mensagem de surpreendente, da excelente performance do Horácio e dos músicos, do humor com bom gosto e educação, do excelente desempenho técnico, da transversalidade com vários níveis de percepção e de uma energia de equipa incomparável…
Afinal tinha o melhor de todos os mundos por onde tinha circulado nos últimos 15 anos (1990-2005): Musica, Teatro, Ficção, produção, management, orientação artistica, coordenação, tudo numa área com a qual nunca tinha trabalhado e o melhor ainda estava por vir: a capacidade de construir através de uma empresa uma sistema de amizade familiar.
Neste sistema Ana Soares Produções, todos os que passaram por cá ainda pertencem, o lugar de cada um nunca é ocupado por ninguém. As seleções foram sempre muito mais que por competência profissional, as dispensas foram sempre feitas em respeito à missão de cada um, com amor e gratidão. Nunca os momentos tortuosos individuais foram motivo para largar alguém, aliás foi nesses momentos que os agarrámos ao nosso cais. Um cais fortalecido pela força de equipa, onde cada um deu sempre o seu melhor… Na morte, nos divórcios, nas doenças, nas perdas financeiras, nas traições e também na celebração da vida, dos novos amores, nos prémios, nos novos contratos e desafios profissionais…
E quando me Perguntam : “Só representa o Rouxinol Faduncho ?”
internamente respondo que represento muito mais que isso: Tenho o Horácio, o Menezes, o Henrique, o João, o Vitinha, o Pina, ás vezes (muitas) o Banza e curiosamente o Rouxinol Faduncho nem existe, … No entanto graças a ele e ao humor criámos uma bonita história de HU(A)MOR
