Familia, um caminho para o autoconhecimento

Existem diferentes entendimentos sobre o papel da familia de origem nas nossas vidas. Uns acham que são “os amigos que não escolhemos”, outros acham que são mero acaso, outros falam de ciclos de encarnação ou de carma, outros que lhes devemos tudo o que somos, outros consideram que aterraram por engano naquela familia. Na verdade não existe uma explicação, no entanto de uma maneira ou de outra, todos a vamos responsabilizando, pelo que de bom ou de mau nos acontece ao longo da vida.

Não obstante, e isto é uma interpretação minha, cada um de nós ter uma experiência individual para viver, independentemente da familia em que nascemos e também características determinantes, a ligação que estabelecemos e as experiências que junto deles vivemos desde a primeira infância , dão o mote para muitas das escolhas que fazemos e para o percurso que faremos ao longo da vida.

Ou seja; ainda que cada um de nós possua características e traços de personalidade, que nos levam a interpretar o mesmo facto familiar de forma diferente, de um irmão/irmã, que viveu o mesmo. É inegável que as experiências familiares, deixam em nós informação e referências, que levamos para a vida, e que nos podem ensinar muito sobre nós!

Abaixo um relato sobre uma dessas visões que começa assim:

“Se não tivesse nascido nesta Familia não sei o que seria de mim…

Não me revi na maioria dos valores, aos 15 anos quis sair de casa, talvez fossem demasiado “bons” para mim… era dificil enquadrar-me… Da religião à política… eu não conseguia encontrar o mesmo sentido ou coerência ? Sentir o Mesmo ? ver e crer no mesmo ? Querer as mesmas coisas!!!

Colocava-me em questão, talvez fosse tudo demasiado perfeito … mas uma perfeição que eu não queria… Talvez o silêncio pudesse ser o meu melhor aliado… Talvez os Livros…talvez conseguisse passar despercebida… ser invisível foi durante algum tempo, a minha maior aposta…

Não me queria zangar, não podia… amava-os demais para me zangar… O lado errado era o meu, pelo menos ali … partir para o conflito e para o confronto estava fora de questão, eram muitos contra mim, não teria qualquer hipótese… além disso não queria mudar ninguém, só queria SER…

No meu percurso percebi que não há certo nem errado, e que não existem familias perfeitas… hoje sei que a familia onde cresci, foi tudo o que precisei para encontrar o caminho até mim. Um caminho que gerou encontros maravilhosos, desencontros necessários, boas e más escolhas…

Como fizeste isso ?

Tomei as rédeas da situação, desde cedo percebi e aceitei que era a partir de onde nasci que tenho de crescer, por experiência percebi que o caminho da vitima é o pior caminho e evitei-o sempre…

Caminhei em busca de mim, se não me sentia aceite por outros, estava tudo bem, fingir ser alguém para ser aprovada estava fora de questão… Procurei sempre ser verdade, observar-me, confrontar-me comigo…percebi que era diferente, não só da familia, mas de grande parte da sociedade, era justo que me apontassem essa diferença, estava tudo certo…Mas eu não conseguia ser de outra forma, toda aquela inquietude, era só minha, não conseguia arrancar de mim, acompanhava-me em tudo o que fizesse

Durante alguns anos: fiz um bloqueio à raiva, a vida mostrou-me que tinha de a soltar, bloqueei o amor próprio, a vida mostrou-me que tinha de o assumir…

Os anos passaram e como acontece em todas as familias, convivemos com as consequências das suas escolhas: ganhos e perdas, doenças, depressões, suicídios, demência, heranças … “Somos menos livres do que pensamos” e se não estivermos atentos, podemos repetir e por isso, decidi olhar para mim e identificar, o que me poderia levar a caminhos idênticos… Observei com amor, fui em busca de respostas para o que lhes tinha acontecido, mas na verdade, as respostas eram para mim, para saber como NÃO fazer, para não passar por ali, para não repetir…

É com o exemplo que aprendemos, e hoje agradeço, por me terem mostrado alguns dos caminhos a evitar e mais ainda: terem a mestria de me o mostrar, a tempo de poder alterar o meu… Ficar cedo sem os pais, tinha de servir para alguma coisa.. Em honra ao que me mostraram, fui em busca, de novas ferramentas de cura, de auto-regulação e mudança, de novas histórias, novos hábitos, que mudassem o rumo, que poderia estar traçado, pela herança familiar ou pelas evidentes escolhas de uma vida em sociedade… E ao mesmo tempo saía o conceito da “Epigenética” estudos confirmam que ” podemos mudar a nossa propensão a doenças e padrões familiares se alterarmos o nosso “ambiente” social, emocional e fisico …

E hoje escrevo porque foi graças a eles, que mudei a minha relação com a vida.

Aprendi a falar com o corpo, com a mente, com as emoções e talvez até com a minha alma, por breves momentos. Observo em paz o meu feminino, e as desafiantes alterações físicas, hormonais e emocionais de uma mulher de 50 anos. Observo o corpo a perder alguma elasticidade, mas a alma a chegar cada dia mais além. E já decidi, que é assim que quero envelhecer…

Por este caminho de paz que se abre na minha frente, honro e agradeço a cada um dos meus ancestrais padrões de vitimização, ostentação, parecer, loucura, agradeço aos que não me viam, nem compreendiam, os que experienciaram, demência, suicídio, bipolaridade, esquizofrenia, alienação, depressão. O acesso ás suas experiências, mudaram a minha vida, Sem elas eu não teria chegado aqui…

Agradeço e honro; o amor pela arte, ao belo, ao conhecimento e aos livros. O amor, à familia, ao próximo e aos animais, aos sorrisos, à justiça.

Agradeço, por conseguir sentir esta gratidão e por no meio de tantos desafios e dores, ainda me terem passado tanto AMOR…

Continuarei a fazer o melhor … Com AMOR á VIDA vinda de vós que está em MIM…

Todos os sistemas familiares são fontes ricas de aprendizagem…olhar para os nossos sistemas é uma arte à qual todos conseguimos aceder…

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