A Beatriz tem 17 anos, tem um namorado desde os 14 e descobriu que o Fábio numa das noites que foi sair com os amigos andou a “curtir” com outra miuda e o pior de tudo a outra sabia que ele tinha namorada.
Beatriz e a todos a quem este assunto interesse, acredito que só podemos falar sobre traição se tivermos passado por algo semelhante. O que escrevo tem também base no que senti quando o mesmo aconteceu comigo. Hoje sou grata a esse evento pois se não me tivesse acontecido eu escreveria sem grande conhecimento.
Existe um sentimento muito amargo, que se forma dentro de uma pessoa que foi traída, por alguém que ama. Normalmente veem misturados na traição, sentimentos de raiva, revolta, tristeza. Há quem ache que se fizer o mesmo acalma a sua dor, mas na verdade a desilusão, nunca será apagada.
Para alguém trair alguém o motivo está sempre no próprio. Por vezes uma grande imaturidade, a vaidade, a irresponsabilidade de ir atrás de impulsos ou uma fraca auto-estima que o próprio tem para consigo. Mas o mais engraçado é que, quem normalmente fica de imediato com a auto estima afetada é quem foi traído. É normal que nos sintamos mal quando alguém em quem confiávamos trai a nossa confiança, até porque os nossos dias ficam mais pesados e passamos de um estado descontraído, para um estado de alerta e cuidado, talvez seja essa a estranheza que sente a Beatriz.
Mas é fundamental sentir que a maior traição que ele fez foi com ele próprio e com a sua pessoa e que a partir desse dia para as três pessoas ele será sempre o que traiu. Relativamente à rapariga que conhecia a Beatriz é provavelmente uma rapariga com alguns problemas de auto estima, de valores humanos ou pode ainda querer apenas vingança de alguém que lhe fez o mesmo, embatendo de forma inconsciente, em alguém que nunca lhe fez mal, mas essa será uma questão que ela terá de resolver consigo mesma. Podes também ficar-lhe grata, essa rapariga talvez tenha chegado à vossa relação para te trazer uma mensagem, um alerta ou para te mostrar uma faceta do teu namorado que desconhecias, despertando-te para uma realidade que, pode ser dura, mas que a longo prazo te protege de maiores dissabores, tornando mais fácil as tuas escolhas. Já conheci casos de mulheres que ficaram tão gratas às amantes por lhes terem revelado os seus namorados, que se tornaram grande amigas.
Somos apanhados de surpresa porque fizemos uma imagem da pessoa que está connosco, que não coincide com a realidade. É então que precisamos de fazer um exercício e tentar perceber se com esta nova consciência, ainda queremos apostar nessa relação ou se a deixamos ir porque existem “amores” que nos fazem mal.
A traição traz-nos um rol de emoções tão fortes e tão ruminantes que podem criar um mal estar fisico e psíquico constante que nos adoece e nos deixa sem brilho. Abaixo proponho um exercício que pode contribuir para superar esse mau estar.
1º– Escreve numa folha as emoções que te surgem quando pensas neste episódio (raiva, vergonha, ódio, humilhação, vingança, tristeza, desconfiança, desrespeito etc)
2º- A cada emoção dá uma pontuação de 0 a 10, sendo o dez a emoção que te causa maior intensidade que pode até gerar uma dor de barriga ou um aperto no coração.
3º- No no fim escreve a frase “Eu aceito” e de 0 a 10 classifica a tua aceitação.
Faz este exercício diariamente e vai observando a oscilação da avaliação que dás a cada emoção conforme o tempo passa. Este exercício permite enumerar, identificar, decompor e organizar as emoções. Ao organiza-las por nível de importância, ganhamos espaço para respirar e ficar mais leves, ganhando uma maior clareza mental para a decisão que teremos de tomar.
Independentemente do evento que aconteceu sei que a traição é uma grande produtora de maus sentimentos e tem a arte de colocar num mesmo coração emoções antagónicas. No entanto pode ser um acontecimento que nos proporciona uma grande aprendizagem sobre nós, sobre os nossos impulsos e a forma com nos revemos e valorizamos nos outros.
Cada um de nós é um ser especial e único. Todos temos direito de errar e ninguém tem de ser “castigado” por ter traído, pois às vezes também essa pessoa é confrontada com um turbilhão de emoções que não sabe gerir. Quando as duas partes tem consciência de si mesmo, uma traição poderá servir de grande aprendizagem para os dois e a relação pode sair mais forte deste evento, ou cada um ir para seu lado mais forte e consciente do ser emocional que é. Neste sentido eu gosto da frase de Friedrich Nietzsche : “Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por não poder voltar a acreditar-te” de coração aberto e pleno como gostaria de fazer.
O importante é não permitirmos que estas fortíssimas emoções fiquem dentro de nós a retirar-nos energia, luz, paz e confiança na vida e no amor.