A Marta tem treze anos. Uma estrutura de corpo mais redonda que algumas das suas colegas o que a faz sentir-se pouco à vontade e pouco feliz. E este sentimento de estar pouco contente com o seu corpo, deixa-a triste, desconfortável e insegura. Diz “Gostava de ser como aquela miúda magrinha, ou como a Ariana que é linda, mas “estou gorda”, detesto “ser gorda” e detesto o meu corpo”.
A todas as meninas que se sentem como a Marta. Que julgo que hoje em dia são muitas das meninas e até rapazes que nasceram ou que se desenvolvem em corpos mais redondos, eu sugiro que me acompanhem no seguinte: nascemos todos com corpos diferentes (com pernas mais compridas que outros, troncos mais longos que outros, uns tem uma estrutura óssea mais larga, uns nascem mais altos, uns nascem mais gordos, uns com cabelo e outros nascem carecas); com faces diferentes, com cabelos diferentes, com almas diferentes, com impressões digitais diferentes e alguns com menos membros até.
É de uma grande honestidade este passo da Marta de dizer que quer ser como… mas como poderemos querer ser iguais a outros corpos se à partida somos naturalmente e geneticamente diferentes ? Enquanto somos crianças é mais simples viver este crescimento físico. Mas quando caminhamos para a adolescência o corpo muda e a relação com ele também. Temos de aprender como nos relacionar com um corpo que está a ganhar novas formas. Parece que atravessamos uma espécie de túnel, que nos leva a identidade infantil e exige uma nova identidade física… um estilo novo, uma nova aceitação de um corpo que parece que não nos pertence. É por isso normal e até saudável ir buscar referências a pessoas que admiramos; uma miuda popular da escola, uma cantora, uma actriz, uma modelo, isso é perfeitamente normal e não tem mal nenhum. Afinal vivemos numa sociedade e as referências são importantes.
Mas é importante observar, com que sociedade nos identificamos, se estou a adoptar uma referência ou estou a querer ser uma cópia, rejeitando o que sou! Questionar-se porque é que eu quero ser como ela ? Gosto da música dela e é isso que me faz querer ser igual a ela ? Gosto do estilo dela e por isso vou ser igual ? ridicularizando: O facto de eu gostar do Bolo, faz-me querer ser como o padeiro ? Qualquer coisa que eu admire nos outros, irá fazer com que eu abdique da minha identidade ? ou rejeite uma parte de mim ? UAU, acho que é importante levar isto a sério. Há que saber tirar partido das relações , mas nunca perdendo a nossa identidade ou rejeitando o que somos quer física quer psiquicamente. No livro do Príncipezinho há um pensamento que define muito bem esta ideia da riqueza que vem da relação com os outros “Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.”.
Convido-os a passear comigo por este pensamento: tal como eu dizia atrás nascemos diferentes fisicamente e também nos caminhos que cada um irá percorrer. Por vezes quando queremos imitar os outros, perdemos a oportunidade de fazer o nosso caminho e de conhecer nosso trajecto. É assim também com o nosso corpo: temos uma trajectória física única. Por vezes confundimos tudo. Sugeri à Marta que pensasse na sua ídolo e observasse bem se é do corpo dela que gosta ou do que a sua expressão corporal a faz sentir ? É do estilo fisico que gosta. ou da segurança que aquele estilo faz sentir ? Se estivesse no lugar dela vestiria a mesma roupa, ou criaria o seu próprio estilo ? Por vezes não conseguimos “nomear” o que sentimos, nem escolher apenas as referências que queremos, dos que admiramos. Provavelmente é a determinação e segurança que aquele ídolo tem, que a Marta quer sentir em si. Mas isso a Marta só poderá conseguir com o corpo que tem. Antes de qualquer acção há que conhecer o trajecto, o mapa do próprio corpo, vestir esse corpo com amor, com cuidado e com alegria e essa atitude só por si produz segurança e determinação .
Conhecendo o corpo e qual a sua tendência, há sempre forma de alterar hábitos que o possam tornar mais leve e mais saudável, se for esse o desejo. Há que aceitar que se tenho um corpo com tendência natural para engordar, preciso de evitar comer “porcarias” : não aos refrigerantes, escolher beber água, comer mais fruta em vez de bolos e bolachas, evitar os fritos. Encontrar uma nova forma de alimentar o corpo, com o objectivo e responsabilidade de ser mais leve e também mais saudável. Mas acima de tudo seja com que corpo for, viver bem com as pernas, a barriga, os braços, ancas, peito, cabelo, o nariz e a cara com que nascemos. É muito importante viver em paz com a nossa identidade física. Essa vivência permite-nos viver numa maior felicidade, determinação e segurança e essas referências são fundamentais para a forma como vivemos tudo na nossa vida.
Que referências são estas que a sociedade transmite ? Quero isto para mim ?
Os ídolos produzidos e criados para as grandes massas sociais, quer em séries TV, Net, musica, publicidade, passam por uma seleção e produção rigorosa antes de chegarem ao grande publico. Nos últimos 30 anos, estes canais escolheram, passar a imagem de perfeição física que tornou actores, cantoras e artistas, escravos do corpo e de métodos que lhes permitam aproximar desse objectivo em prol dessa falsa perfeição física, industrias foram criadas para transformar corpos. Homens e mulheres tem cometido a piores barbaridades contra o próprio corpo: com o uso de químicos para perda de peso, correções ósseas, operações plásticas para corrigir partes do corpo, enchimentos, vale tudo para seguir modas, para imitar os seus ídolos ou chegar ao ideal fisico que não existe no mundo natural. Vale tudo em prol de um corpo supostamente “perfeito”, rejeitando a verdadeira identidade física e celular do ser humano. Infelizmente assistimos a uma realidade assustadora em que esta passa a ser a principal preocupação de muitas jovens a partir da adolescência e já de muitos adultos. Uma preocupação que se torna numa verdadeira tormenta e sofrimento, que lhes retira tempo para viver em pleno a vida. Acho que ninguém quer viver assim… até porque é preciso saber que o corpo está sempre a mudar e responde a diversos estímulos.
Uma sugestão: coloquem nos vossos telemóveis um despertador diário com a frase ” Eu amo-me e aceito-me exactamente como sou, eu aceito a trajectória do meu corpo… o meu corpo é sábio” diariamente leiam esta frase, as vossas células ou vosso corpo agradecem, o nosso corpo tem uma sabedoria enorme. Não o encham de alimentos que não prestam nem de substancias que o alterem. Respeitem-no e acima de tudo tratem-no com amor, aceitando-o.