O Filipe tem treze anos. Há uns meses que sente que o ambiente em casa está diferente. Os pais estão tristes, pouco comunicativos , deixaram de fazer programas em família e sente a voz da mãe …diferente. -Há qualquer coisa e ninguém me conta ! Que mistério será este que os está a deixar assim ? alguma doença ? algum problema com o trabalho, com dinheiro, algum deles vai morrer ? haverá um(a) amante, Divórcio ?- todas as hipóteses são colocadas pelo Filipe e ainda a questão: – porque não partilham comigo…não serei suficientemente bom, para confiarem em mim ?
O Filipe sente-se inquieto e ansioso , não saber está a deixa-lo em grande sofrimento “Sei que se passa algo, ninguém me diz nada, o que faço ? “
Que bom que o Filipe tenha colocado esta questão. Os ambientes não mudam por acaso, são criados com os nossos estados de espirito. O ambiente familiar tem um código muito especial e quando sofre alterações, todos os elementos o sentem e por muito que se tente esconder, a mudança chega aos corações de todos antes de qualquer explicação.
Porque os pais não dizem o que se passa?
Muitas vezes os pais tem questões graves e tentam proteger os filhos, optando por o silêncio e a omissão do problema. Opção que por vezes, como no caso do Filipe, produz uma enorme inquietação e ansiedade, pois ele sente fortes alterações no ambiente “emocional” familiar, mas não consegue identificar as razões ou os motivos e isso deixa-o em sofrimento.
Pode acontecer que o proteccionismo dos pais com a ilusão de que está tudo bem, conduza a resultados contrários e confusos: por vezes os filhos sentem , mas entram no jogo, protegendo os pais de ficar expostos e não perguntam, respeitando a sua escolha, mas com o tempo o ambiente vai-se degradando e o não partilhar o problema , pode levar o filho a achar que não é útil nem digno de confiança e por sua vez a ansiedade provocada pelo desconhecimento e pelos medos, pode dar origem a alguns sintomas físicos, psíquicos e sociais; ansiedade e desmotivação geral, quebra no sistema imunitário e aumento de inflamações , descontrole fisiológico (chichi na cama etc) desinteresse, hiperatividade , revolta, negação e… começa tudo a girar num grande ciclo vicioso.
O que fazer ?
Partilhar é a solução! Quando sentes que algo está diferente em família, confia e pergunta. Um jovem que sente que algo não está bem pode perguntar claramente se existe algo em que ele possa ajudar ?
As alterações no ambiente e energia familiar são sentidas por todos, por isso com atenção à capacidade e maturidade de cada um, os problemas devem ser partilhados, para que todos se sintam parte, colaborem e co-criem uma solução, fortalecendo o espirito de união familiar. Quando cada um, à sua escala, participa nos problemas da família, também festejará em família quando tudo estiver ultrapassado. Sentindo-se parte do problema, também sentirá que foi parte da solução e da superação.
Dou sempre o exemplo da Constança. A mãe escondeu que tinha cancro na mama. Nessa fase da vida, a Constança estava a estudar fora de Lisboa. No dia em que a mãe foi operada, estava com o namorado em Paris. Quando regressou e a mãe lhe contou finalmente o que se estava a passar, a Constança mesmo não sabendo de nada, sentiu uma enorme culpa por não a ter acompanhado e estar em diversão, enquanto a mãe estava em sofrimento. E o mais curioso, mesmo a mãe tendo omitido a doença, a Constança confessou-me que tinha sentido que algo não estava bem e agora achava, que deveria ter insistido em saber. Foi um misto de emoções: Ficou zangada porque a mãe não tinha o direito de ter escolhido o que seria melhor para ela, se lhe tivesse contado, ela nunca teria ido para Paris! E se a operação tivesse corrido mal ? nunca se perdoaria não estar ao pé do pai e do irmão…Sentia também um misto de incapacidade e tristeza e questionou-se porque razão a mãe não a queria ao pé dela, não seria ela uma filha suficientemente boa, para a mae querer a sua companhia nesses momentos tão difíceis? Porque é que a mãe não a elegera como companheira de batalha ?… Pois é … a mãe ao querer proteger a filha, omitindo a verdade, gerou-lhe um grande sofrimento!
A experiência diz-me que os filhos querem fazer parte, precisam de fazer parte e sofrem muito, quando não sabem o que se passa… como poderei gerir algo que sinto e não sei o que é ? Desde pequenos que os filhos precisam e querem fazer parte, ao seu tempo e ao seu ritmo, cabe aos pais, contar a verdade, inseri-los na questão, existem soluções que encontraremos com eles e outras sem eles.., mas eles tem de fazer parte da VERDADE que está a afectar o ambiente familiar: seja uma doença, problema financeiro, divorcio ou crise conjugal!
Antes de mais PARABÉNS por mais um projeto magnífico…
Estou 100% de acordo com as tuas palavras…como mãe sempre optei por esta postura, uma vez que como filha senti essa lacuna…e provavelmente deixou marcas mas principalmente deixou uma opção e vontade de ser diferente…GRATA!!!
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