Sabemos muito pouco da vida daqueles com quem nos cruzamos , como diz o Guilherme após a nossa conversa, andamos a relacionarmos-nos às cegas uns com os outros. Com alguma sorte lá vamos acertando, bebendo café juntos e concordando com coisas triviais , o pior é quando vem os confrontos, e os desencontros, que fazem abanar essa zona de conforto relacional, dando lugar ao conflito e desentendimento. No fim é normal que fiquem sem perceber o que se passou e na tentativa de compreender … acabamos sempre a comentar as máscaras do outro , chegamos sempre à conclusão que são muito poucos os que se deixam ver… e também somos muito poucos os que nos preocupamos em observar para lá do que está à vista… A observar com o coração…
Porque esta conversa ?
Quando chegou, o Guilherme, já trazia uma resposta…mais ainda não sabia disso. O Guilherme saiu da escola revoltado com uma professora que segundo ele está-se nas tintas para os alunos, está zangada com tudo e isso está a desmotiva-lo e a tirar a vontade de ir às aulas!
No transporte da escola para casa , uma conversa entre duas senhoras, teimava em chegar-lhe aos ouvidos… ou ao coração; falavam de uma amiga que tinha feito no dia anterior 55 anos, professora de profissão com trinta anos de ensino. Comentavam -Trinta anos a ensinar é dose, a quantidade de gerações que passaram pelas mãos dela, as actualizações educativas, sócio-culturais e as transformações tecnológicas a que tinha estado exposta, como mudaram neste percurso a educação, o estilo, a linguagem de jovens e crianças! como se adaptar, como se aprende a lidar com isto e a ensinar ao mesmo tempo ? quem era um professor á 20 anos e quem é agora? Que grande missão – continuavam- devemos gratidão a alguém que dedicou a sua vida a ensinar os filhos dos outros, não admira que a partir de uma certa altura estejam esgotados!
-Acho que era isto que precisava ouvir- disse o Guilherme- senti que podia estar a ser muito injusto. Parecia que estavam a falar da minha prof. e de repente percebi que talvez a minha professora seja uma dessas pessoas com uma vida para lá da nossa pequena visão e este episódio fez me confrontar com as minhas próprias palavras … como posso aprender a pensar para além do que vejo ?! Onde posso aprender a ter este cuidado ? …
Dia após dia, acção após acção, palavra após palavra, pensamento após pensamento , é como se estivéssemos num grande ginásio emocional. Errando , observando e corrigindo. O primeiro passo é sempre alterar a acção que nos leva às reacções bruscas. Parar para pensar e ver para alem do nosso obvio.
No dia seguinte na aula de matematica quando a professora mostrou alguma exaltação o Guilherme perguntou: Existe algo em que eu a possa ajudar ?