O Francisco está num grande dilema: tem quinze anos frequenta o nono ano e… uma vontade muito grande de “deixar a escola” diz que “- As aulas não me fazem sentido, faço tudo para ir para a rua, sinto que não preciso daquelas matérias para nada eu quero é trabalhar numa quinta!”
No fim do ano lectivo, foi convidado a sair do colégio que frequentava devido ao mau comportamento, não se orgulha desse episódio mas percebe e compreende que uma escola que se foca em resultados, não tenha lugar para ele. É reciproco, também no coração do Francisco, o lugar para a escola está a ficar apertado!
A exclusão nunca deveria ser uma opção de qualquer escola, publica ou privada, mas isso é apenas uma opinião pessoal, entendo que a escola é onde crianças e jovens pertencem e um apoio fundamental ao seu crescimento, há que incluir, nunca excluir.
Grande zanga esta que o Francisco trás: está zangado com a escola mas parece que também o sistema educativo está zangado com ele e com todos os jovens, que contestam e não encontram sentido na proposta educativa.
O Francisco vê uma escola sem sentido, está desmotivado, na sua visão a escola não acrescenta nada e nenhuma das matérias é útil ou interessante. Por outro lado o sistema educativo, está tão focado em resultados quantitativos, que não reconhece o potencial do Francisco de aos quinze anos ter o que seguramente 80% dos colegas ainda não tem, um objectivo, uma grande paixão que quer seguir profissionalmente e que manifesta com determinação : o trabalho em quintas e com Cavalos. Aproveitar esta motivação poderia ser uma enorme alavanca de aprendizagem poderia ser também, um exemplo inspirador para os colegas e não um exemplo de exclusão.
Como resolver ?
Mas se a escola não olha para nós e nós precisamos oficialmente da escola como requisito para questões futuras, propus ao Francisco que através do seu foco encarasse a escola como apenas um meio para atingir o seu fim e procurar encontrar sentido nas matérias, canalizando os exemplos e as duvidas para o que lhe interessa: propostas de literatura sobre cavalos, evolução histórica e geográfica Equina, cálculos de peso e de força, nutrição e composição, zoologia, mitologia ,simbolismo. Acredito que a melhor forma de aprender e apreender conhecimentos é com amor e um jovem focado e apaixonado por algo é um jovem com enorme vantagem em qualquer processo de aprendizagem.
O que é a escola e para que serve ?
A esta pergunta respondi que entendo a escola como um grande TREINO num ginásio que desenvolve a elasticidade mental, dinamiza e exercita mentes. E este exercício mental que a escola nos propõe é importantíssimo, para a resolução de problemas futuros e na adaptação a novas realidades, ao longo da vida. Nesta perspectiva a escola e as matérias propostas são apenas um Meio para atingir um fim. Existe um mundo de conhecimentos em constante evolução em todas as áreas e se o nosso cérebro estiver exercitado levar-nos-á a um maior entendimento e perspicácia, permitindo fazer melhores escolhas e a encontrar melhores resultados nas áreas que nos interessam. Qualquer das disciplinas: português, história , Inglês, Filosofia, Física Química ou Matemática, propõem exercícios mentais que nos tornam mentalmente mais elásticos e perspicazes nas diversas áreas , expressão, comunicação, calculo, ciencias etc. E se fizermos a conexão das matérias propostas com assuntos que nos interessam a aprendizagem ganha terreno.
A escola dá acesso a diversos caminhos e nenhum é mais importante ou mais sério que o outro; do estudo técnico- profissional, ao académico e universitário ou simplesmente terminar os estudos e ir para o mercado de trabalho todos são válidos, importante é passar por este grande treino/ginásio com sucesso.
Terminar o currículo escolar, quando apenas depende da nossa vontade, é cumprir uma primeira missão. Não é um bom combustível para o nosso desenvolvimento, deixar algo a meio logo no inicio da nossa vida, só porque é maçador. Terminar esta missão, permite-nos em qualquer fase das nossas vidas, identificar desafios mais maçadores e sermos persistentes.
Depois com o 12º ano feito podemos em qualquer fase da nossa vida, mudar o rumo e até regressar aos estudos, já mais certos da área que queremos seguir .
Assim a minha proposta foi que o Francisco, agora no nono ano, não desista e olhe para a escola como um MEIO PARA ATINGIR UM FIM e que nesse Meio aprende:
- a falar, a expressar-se e a comunicar com diversas pessoas .
- a saber investigar e buscar novos conhecimentos cientificos dentro da área de interesse
- a relaciornar-se hierarquicamente
- a adaptar a informação que recebe do mundo ao que lhe faz sentido
- outras línguas e culturas
Nem todos os jovens entendem a escola assim mas para os que sentem que é uma chatice, procurar um objectivo, um sentido para a sua permanência, pode ajudar a superar esse desafio.
É importante também aprender desde cedo de que para sermos felizes é importante ter varias vertentes da nossa vida em equilíbrio. De que adianta querer fazer muito uma coisa e só pensar nisso se perdemos tudo o resto à volta ? De que adianta querer ir trabalhar para uma quinta porque somos apaixonados por cavalos, se essa paixão nos barra o acesso ao conhecimentos para sermos cada vez melhores nessa área !???…
Às vezes apenas precisamos de mudar a forma como olhamos para o que nos chateia… e em vez de dizer que não faz sentido… Procurar um Sentido !