A Diana tem 15 anos, está a viver um momento familiar difícil, pois os pais estão em processo de separação. Como é normal nestas situações os conflitos crescem e como ela diz: -tudo é motivo para discussão. Há no meio deste ambiente, um sentimento ou uma inquietação estranha que a Diana precisa identificar: – quando os oiço atacarem-se sinto que é algo que me diz respeito, que faço parte , sinto-me mal comigo, um desconforto ou uma culpa… não sei o porquê de me sentir assim?
Quando um casal decide separar-se, é comum surgirem discussões com agressões às qualidades e defeitos de cada um. Dificilmente se consegue apontar uma qualidade sem se colarem de imediato, uma dúzia de defeitos. Acho que isso faz parte do mecanismo de sobrevivência à frustração da ruptura.
Sobre a culpa e a responsabilidade: tudo o que acontece numa relação é da exclusiva responsabilidade de cada um, 100% do pai e 100% da mãe. Importante reter que tudo o que aconteceu, para o bem e para o mal, foi construído pelos dois, cabe a cada um identificar e acolher a sua quota parte de responsabilidade. Os filhos podem ficar descansados que nunca é por eles que os pais se separam ou que permanecem juntos.
A questão da Diana é bem objectiva e recai sobre a falta de admiração e respeito expressa nas discussões : Porque se sente parte da zanga, culpada e atacada sempre que os pais se acusam um ao outro ?
Tentando responder à Diana, pedi que me acompanhasse no seguinte raciocínio: Ela filha, resulta da união de pai e mãe. Toda a constituição biológica, física, emocional ,energética tem 100% de cada um. Eu sou o resultado dos dois… os dois estão em mim e em tudo aquilo que sou.
Quando em discussão se ofendem ou criticam negativamente na presença da filha, a parte da filha que o representa, sente-se atacada… muito subtilmente surge a informação: se diz mal do outro está a dizer mal de mim…. “ESTOU EM PERIGO”, também sou assim, faço parte desta grande confusão!!!
Acredito neste processo e sei que acontece de forma muito subtil e invisível. Quando ganhamos consciência sobre este mecanismo, há que travà-lo, com uma ideia chave : eu sou celular, energética , biológica e geneticamente uma parte de cada um, mas não sou a metade de tudo o que escolhem ser e das palavras que escolhem dizer. Estas questões não me pertencem. O que temos dos nossos pais é o melhor da sua energia vital.
E se os pais soubessem o que estas discussões provocam ?
Idealmente no fim destas acesas e vulgares discussões, deveria existir uma sessão de esclarecimento para os filhos, com o seguinte texto: – filha/o eu estou em discussão com pai/mae, mas eu tenho uma enorme gratidão por todos os bons momentos que vivemos juntos e por o teu pai/mãe me ter permitido ter-te na minha vida, és a nossa melhor obra e tens tudo o que é de melhor de cada um de nós e eu amo tudo o que está em ti da tua mãe/pai. Não é fácil gerir as discussões e o desequilíbrio que nos provocam, às vezes é de loucos, mas ainda assim, são assuntos nossos, não te pertencem, por isso agradecemos que não te envolvas.
Enquanto esse momento “sóbrio” não chega, eu propus à Diana que observe e aceite que as zangas entre os pais não lhe pertencem, que não leve a peito as ofensas em ambiente de discussão, são sempre fruto de exaltação e da raiva do momento. Que obviamente os pais, não tem consciência nem conhecimento de que ao se ofenderem um ao outro estão a atingir os filhos e a provocar-lhes um grande conflito interno. Eu acredito que se estivessem nessa consciência estariam mais atentos!… Mas se os filhos tiverem esta consciência podem escudar-se e proteger-se de abraçar uma zanga que não lhes pertence e relativizar o que é dito.
Idealmente o filho pode relembrar os pais que não quer ouvir falar mal do outro. Não para proteger nenhum dos dois, mas para se proteger a si de conflitos internos e para proteger a energia de cada um que habita em si …que guarda com tanto amor no coração !
Eu amo a parte do meu pai que está em mim… eu amo a parte da minha mae que está em mim… Eu farei o melhor com a parte de cada um que está me mim!