Num grupo de jovens falávamos do papel da mulher na sociedade…
O João disse : “As raparigas/mulheres são mais complicadas “
-Depende da forma como olhamos para esse assunto, o que é ser complicado ?- perguntei ao João
-São mais conflituosas, vêem mais mal umas nas outras, precisam de se afirmar muito mais ! –
Ninguem é conflituoso porque SIM… Olhar mais para o MAU do que para o BOM pode ser um habito social e cultural e ser complicado talvez seja mecanismo de defesa ou padrão social adquirido ao longo de várias gerações. É obvio que todos os comportamentos sociais, seja de género, de etnia ou nacionalidade, são fruto da história e das escolhas de gerações anteriores.
O caminho da mulher na sociedade nunca foi simples, chegamos mesmo a ser consideradas seres de 2ª categoria. Só há relativamente poucos anos tivemos direito a votar, só há cerca de trinta anos é que é comum ver mulheres em lugares de chefia, coordenação de equipas, com poder de decisão e a representar politicamente países. Nas dinastias, um rei que tinha uma filha sentia-se pouco homem, porque só um homem poderia fazer bem o lugar de rei.
Nos países ocidentais, durante muitos anos as mulheres eram limitadas até na forma de vestir; usar calças, calções, saias acima do joelho e decotes não eram bem vistos numa mulher que se desse ao respeito. Iam vestidas para a praia. Se expressassem a sua opinião eram olhadas de lado.
No era da inquisição, muitas mulheres foram condenadas e lançadas à fogueira só por causa da sua intuição. A Intuição permite sentir e prever acontecimentos futuros e por isso todas as mulheres que manifestavam a sua intuição, eram consideradas bruxas e criaturas do demónio. Como se o demónio existisse! Ser intuitiva é um dos principais dons da mulher, passou a ser pecado de morte. Foi por isso reprimido durante séculos. Alem disso, mulheres não podiam ler ou aprender o estudo era-lhes totalmente vedado. Não é difícil de imaginar o terror e medo em que vivam as mulheres, pela simples condição de nascer mulher e essa é uma informação que está em todas as mulheres.
Infelizmente o ser humano tem formas estranhas de agir. E o medo retira-lhe a capacidade de pensar e de se unir. O medo de sofrer, de morrer de ser maltratada era tão grande que as mulheres cederam, deixaram a intuição de parte, calaram as suas percepções, denunciaram outras mulheres, para serem aceites e ganhar a confiança dos homens e da sociedade. Mesmo sabendo que estava a ir contra a sua natureza, denunciavam , criticavam e apontavam o dedo, não porque concordassem mas porque tinham de salvar a sua pele. De geração em geração esta informação foi ficando enraizada nas sociedades e assim de forma subtil inconsciente, arrastamos connosco um padrão transgeracional, de um comportamento de defesa e acusação ou de Confito como chamou o João.
Este comportamento ou sentimento que já não nos serve de nada, mas está subtilmente em nós, é algo que nos faz sofrer e não viver livres umas com as outras. É fácil de perceber a força de uma dinâmica social , na criação de um comportamento de género
A Rafaela interrompeu-me:
-Isso faz me sentido, mas porque é que as mulheres hoje em dia são tão físicas ? A minha mãe proíbe-me de vestir certas coisas e eu não percebo !
-Porque é que ela não te deixa vestir essas roupas que queres ? -Perguntei
-A minha mãe diz que não me posso oferecer, é um bocado antiquada, diz que as mulheres, perderam a dignidade porque se deitaram com alguns homens para conseguirem subir nas carreiras…!
-Mais uma vez Rafaela, tudo depende forma como olhamos para o sistema. – e perguntei ao grupo- Querem olhar para essa dura e feia realidade, com o dedo apontado ou podemos experimentar uma outra versão ?
– experimentamos uma outra visão!
-Optimo !
Já vimos atrás que a mulher sempre foi tratada como ser inferior- Foi assim até à segunda guerra mundial , há cerca de 70 anos. Durante esta guerra muitos homens morreram em toda a Europa ou ficaram inválidos. Sem homens, as mulheres assumiram funções e cargos masculinos, arregaçaram as mangas e tomaram à sua responsabilidade a reconstrução, organização e funcionamento de muitas cidades. Este fenómeno não aconteceu em Portugal mas aconteceu um pouco por toda a Europa. Foi esta dinâmica social, que deu origem a uma nova força feminina nas décadas seguintes.
Quando re-estabelecidos da guerra, os homens retomaram os cargos principais, querendo exercer o seu domínio, mas as mulheres já não eram as mesmas, tinham demonstrado grande capacidade de trabalho, gestão e de produção. Sentiam na pele a discriminação e começaram a impor alguma justiça. Ainda que de uma forma muito discreta a mensagem ia passando. Na década de 1960 movimentos sociais Europeus e americanos, apelavam aos direitos femininos. Movimentos que se insurgiam contra as diferenças de condições dadas a homens e mulheres e ao facto de socialmente tentarem promover a mulher como objecto de beleza a ser pontuado através de concursos de beleza “MISS Mundo”, para escolher a mais bela. As mulheres já tinham dado provas de que eram capazes de reconstruir o mundo, após a guerra, aceitar esta condição era o mesmo que voltar atrás.
Ser contemplada e apreciada por um macho, poderia ser muito romântico mas a intenção destes concursos para as massas, só poderia vulgarizar, enfraquecer e estupidificar o papel social da mulher. Foram realizadas manifestações, destacou-se a manifestação de Paris em 1968, onde mulheres em protesto queimaram soutiens. O movimento era forte, mas não tão forte como os meios de comunicação social.
A apreciação à mulher, como se de um animal de estimação se tratasse, era um presente envenenado para a classe feminina, a empolgação da sua beleza física, em detrimento da sua capacidade intelectual. Talvez a carência de atenção, de que o género foi alvo durante séculos, tenha estado na motivação desta nova postura feminina, deslumbradas a quererem protagonismo a mulher sem dar por isso, voltava a colocar-se refém da apreciação e aprovação dos homens à sua condição social e humana.
Outra face da moeda, vestir-se como e para quê ?
Aproveitando esta abertura e o desejo de todos os homens, quererem ter mulheres bonitas para andar a passear, existiram mulheres que decidiram aproveitar a beleza o corpo e o sexo, para se evidenciar fisicamente e atingir os seus objectivos profissionais e independência financeira. Responderam a assédios, provocaram assédios utilizando a sua beleza a troco de cargos e posições de destaque.
Está certo ou errado ?
Temos a mania de avaliar tudo como certo ou errado, mas esquecemos que esse certo ou errado só tem validade dentro da realidade que conhecemos. Não duvido que na consciência de algumas mulheres, esta cedência fez vibrar culpa, alguma dor, sofrimento e até raiva. Mas o facto é que essa escolha colocou muitas mulheres em cargos de poder, abrindo portas a que outras mulheres lá chegassem, já pela ordem natural das hierarquias.
– Mas continua a ser feio e mau fazer isso assim ?
-Esperemos nunca ter de colocar a nossa dignidade em causa seja por que motivo for , mas se algum dia tivermos de o fazer que seja em prol de algo maior que nós. É feio e é mau se não encontrarmos um sentido para isso. Quando encontramos um sentido que nos faz sentido , então Está tudo certo. Quero acreditar que os assédios e o deixar-se assediar conquistou muitas cadeiras, em locais onde nunca nenhuma mulher se tinha sentado e só por isso a minha gratidão a cada uma que o fez.
–Mas outras mulheres conseguiram de outra forma ?
Claro que sim. Muitas recusaram e foram por outros caminhos. Mas cada uma no seu papel feminino numa sociedade difícil , fez sempre o melhor que soube. Afinal é o que todos fazemos: O MELHOR QUE SABEMOS.
Sobre a Dignidade
A dignidade é um Conceito social. Mas se algumas mulheres colocaram em causa a sua “Dignidade” para conquistar espaço e marcar lugar para as seguintes, então eu entendo que elas a perderam a certa altura para a recuperarem mais à frente. Talvez essa perda não tenha mesmo sido em vão! Ninguém ganha para sempre assim como ninguém perde para sempre!
Estamos na posse de todos os dados históricos e sociais. Já não precisamos de competir tanto, já não é preciso temer o julgamento… Que cada uma faça o MELHOR QUE CONSEGUIR FAZER para que as próximas mulheres Vibrem numa frequência de Maior Paz de Género, deixando um caminho mais tranquilo para as próximas gerações.
Recuperem a intuição
Reconheçam valor
Libertem da escravatura do corpo em prol da aceitação dos machos e que sejam os seres divinos que são. Seres geradores de vida, que seduzem e acasalam simplesmente porque é essa a dinâmica da criação e da continuidade da nossa espécie…
Com um percurso historicamente complicado e turbulento, talvez até sejamos muito simples!
A minha mãe, às minhas avós e todas a minhas antepassadas muito grata por todas as escolhas que fizeram…