O Carlos atingiu os 14 anos e vai ter de ir a tribunal dizer com quem prefere ir viver durante os próximos tempos. Esta situação estão a causar-lhe uma imensa ansiedade. Sente que toda a responsabilidade da escolha está a ser colocada nas suas costas… “tenho mesmo de fazer isto, mesmo não querendo mudar nada ? Porquê ?não sei lidar com isto, está a fazer-me mal!”
Antes de avançar achei importante levar o Carlos para dentro do seu processo esclarecendo:
-Um divorcio quando implica filhos, envolve sempre tribunal de menores, existem muitas questões que precisam ser definidas, para segurança e protecção do menor é sempre assim. E tu nasceste numa família que que será sempre a tua família mas que não partilham todos da mesma casa e que passaram por um processo destes, certo ?
-Sim é verdade!
– Existem regras, deveres e direitos e um dos direitos que é dado aos pais é a oportunidade, a partir de uma certa idade, de escutar a vontade do filho e ao filho é dado o direito de se manifestar sobre com quem ficar. E este é um procedimento comum, tu não necessitas dele, mas para muitos jovens é fundamental!
-Sim eu sei. mas mesmo assim deixa-me inquieto, não sei o que dizer, não quero magoar ninguém !
-Queres experimentar ? – perguntei – queres fazer uma experiência ?
-Sim quero!- exclamou confuso
Pedi ao Carlos que se colocasse de pé, em frente a uma Cadeira e:
-Respira fundo e fecha os olhos… inspira e expira tranquila e de forma mais profunda que o normal – Após quatro inspirações, pedi que abrisse os olhos e que imaginasse…. que na sua frente, representado por aquela cadeira, estava o seu pai… que o olhasse nos olhos e calmamente lhe transmitisse a sua decisão… Após um minuto de silencio, o Carlos disse o seguinte:
– Não sei porque é que me obrigam a isto, não faz sentido, Desde que tu e a mãe, tua mulher se separaram, eu fiquei com a mãe, criámos as nossas rotinas, não te critico nem te julgo por se terem separado, mas foi com a mãe que cresci até agora, porqu
e é que acharias que eu iria querer mudar de casa ? de rotinas e de hábitos ? porque haveria de querer cortar com tudo isso ? Se eu não estivesse bem tu saberias! … Eu estou bem, aceitei a vossa separação e estou bem! Não há motivo nenhum para mudar a minha vida e isso não tem a ver com gostar mais de ti do que da mãe, vocês tem os dois um lugar em mim…e eu estou onde tenho de estar!
O Carlos fez uma longa pausa e manifestou-se:
-Uau estou aliviado… é mesmo isto… como é que eu não conseguia ver esta resposta, é tão simples! Para mim escolher não faz sentido, porque a escolha foi feita de forma natural há muitos anos e por isso, está tudo bem, eles é que escolheram e eu já aceitei isso desde miúdo, na realidade só tenho de lá ir validar a escolha que eles fizeram há uns anos atrás…Que bom!
É verdade que o essencial é simples.
O contexto de tribunal e a pressão dos processos de divorcio tem um enorme peso no campo emocional dos jovens. E o importante é que os jovens se sintam preparados, tranquilos e em paz com a posição que vão tomar perante os seus progenitores. O Carlos percebeu que apenas vai validar a decisão anterior! Nada de novo…
Sugeri ao Carlos que escrevesse uma nota no seu IPHONE, que o lembrasse até ao dia da audiência: “Este é o meu Sistema… faço parte e aceito fazer a minha parte… com confiança”