O Pedro está revoltado. ” Faço tudo por eles e eles passam a vida a decepcionar-me “
Refere-se a um grupo de colegas, tem por hábito organizar passeios, saídas e jogos. Desde há dois meses, poucos aparecem e quando confirmam, desmarcam à ultima hora. O último encontro nem aconteceu e para seu espanto soube que alguns elementos do grupo combinaram, um encontro sem a sua presença!
-As pessoas não valem nada, não se pode confiar em ninguém! Uma pessoas faz tudo por eles e… é assim que pagam!
Perguntei-lhe :
-Há quanto tempo é que não conversam sobre o teor dos vosso encontros ? Sobre o que tem corrido bem e menos bem ? sobre como cada um se sente com esses encontros ? Sobre o que cada um pensa da sua organização e das escolhas ?
-Na verdade nunca falamos sobre isso , as coisas foram acontecendo naturalmente !
Convidei o pedro a reflectir sobre isto!
Não vivemos uns com os outros , não sabemos das motivações de uns e de outros , e das frustrações. Pessoas que conhecemos fortes e bem estruturadas passam por situações pessoais que transformam força em fraqueza, o que até ontem digeríamos bem, facilmente pode vir a dar azia.
Assim é também a dança mutável dos relacionamentos. Nem sempre aquilo que achamos que é o melhor para os outros, é o que eles precisam e nem sempre precisam da mesma coisa e às vezes precisam de coisas que nós nem imaginamos.
Quando insistimos num padrão a qualquer custo, esquecendo a individualidade de cada um, podemos ser interpretados como prepotentes ou arrogantes perante aqueles que estão a ser ignorados e se essas pessoas estiverem emocionalmente vulneráveis a nossa atitude vai gerar raivas, desentendimentos ou afastamentos.
“Certo dia um cantor falava-me da sua relação com um grande actor da nossa praça. Eram unha e carne e cresceram artisticamente juntos. Grandes festas, grandes jantares e muitos gastos. O cantor teve uma fase de sucesso descendente enquanto o seu amigo humorista continuou a ascender e a ganhar muito dinheiro. A certa altura o cantor começou a recusar os convites do amigo. Ainda que ele nunca lhe cobrasse nada e fizesse questão em pagar todas as despesas, o Cantor sentia-se mal com a situação e resolveu começar a afastar-se. Quando conversamos sobre este assunto o cantor disse-me: – eu deixei de ter dinheiro para o acompanhar e ele nunca percebeu o quanto eu me sentia mal por ele pagar tudo…assumia comigo o papel de figura publica poderosa e de “Diva” , foi no dia em que senti raiva dele, da sua prepotência e arrogância, que desliguei e decidi afastar me…ele chegou a chamar-me ingrato que tinha sido um pai para mim!”
Ao escutar esta história o Pedro respondeu:
– Mas eu sou como um irmão para eles!
-Já pensou na hipótese de os seus amigos não o quererem no papel de Irmão , mas sim de amigo ? São energias diferente , são atenções diferentes.
-Sim isso faz algum sentido!
-Já reparou que até ser Irmão tem significados diferentes dependendo do contexto ?
-Como A
ssim ?
-Um irmão mais velho tem um determinado perfil, um irmão mais novo tem outro ! Que tipo de irmão acha que vêm em Si: O de um irmão mais novo armado em irmão mais velho ? ou de um Irmão mais velho armado em mandão ?
-Bem isso vai depender das referências de cada um- fez uma pausa e continuou- ok ok ok já percebi ! -exclamou
aliviado- Que grande confusão provocam estas trocas de posição…
-É isso mesmo Pedro, esse é o grande ponto da questão- fiquei feliz por ter sido ele a chegar à conclusão.
Também o cantor da história, não queria o poder financeiro do amigo nem a sua protecção paternal, mas a sua amizade :
-Eu só queria que ele tivesse tido atenção ao meu sofrimento e que pelo menos uma vez, saísse da posição de Diva e figura publica poderosa e descesse à TASCA para que eu tivesse oportunidade de lhe dar o petisco que eu lhe podia pagar e desfrutar como AMIGOS!
É muito importante perceber as dinâmicas sistémicas e cada um desempenhar apenas o seu papel: Quando somos amigos,
somos amigos, quando somos filhos, somos filhos, quando somos patrões, somos patrões…
Quando numa dinâmica de relacionamentos misturamos papeis e queremos assumir papeis de outras valências é sempre gerada confusão! Já pensou se alguém se intitula energeticamente meu pai, quando eu tenho um enorme orgulho no pai que tenho ? Ou diz que é família quando o meu referencial de família é outro ?
Cada um um no seu papel e tudo corre bem melhor!