Que Raiva tia!…As Emoções que nos transformam!

A Luana chegou com um ar muito doce… ela é quase sempre uma menina doce.  O que não quer dizer que não sinta Raiva e que num dia ou em outro não tenha um ar menos doce!

É sempre assim com todos nós,  à partida não deveríamos ser as emoções que sentimos. No entanto isso pode acontecer, podemos nos tornar pessoas mais agressivas, mais tristes e menos sociáveis se permitirmos que as emoções nos controlem.

Essencialmente somos o que pensamos…

A Luana chegou até mim por pensar que tinha uma incompatibilidade com a Luisa:

Quando lhe perguntei o que a trazia cá, respondeu:

-Eu dou-me bem com toda a gente mas….não suporto a namorada do meu pai,  eu já tentei de tudo, mas tudo o que ela faz me irrita e o pior é que ela não tem nada a ver com ele !

–Mas trata-te mal ? -perguntei

-Não nem pensar…Só tem a mania! E irrita-me

-O que é que tentas-te ?

-Bem, já tentei não dizer nada, tentei sorrir, tento ser simpática ! por muito que me esforce não consigo gostar dela! -respondeu

-Tens Raiva dela ? – perguntei

-Raiva é feio ,não é ?

-É uma emoção que faz parte do nosso mecanismo de sobrevivência, sem raiva não nos conseguimos defender de ataques violentos em caso de sobrevivência fisica… é uma emoção que faz parte… Mas também a sentimos em caso de sobrevivência emocional e como hoje em dia vivemos tão seguros fisicamente , talvez a canalizemos para as relações pessoais de forma exagerada. Julgo que o primeiro passo para que não nos faça mal, é assumi-la como ferramenta emocional!

-Então talvez seja isso tia, é mesmo Raiva o que sinto por ela! – fez uma breve pausa – Que RAIVA!

Este é um comportamento e sentimento muito comum em relação a pessoas; que de alguma forma nos ameaçam pessoal , profissional ou emocionalmente, que foram ou são motivo da destruição de um sonho ou duma crença e claro a quem atribuímos a responsabilidade por algo que aconteceu e que nos é difícil aceitar. Ter Raiva de alguém parte sempre do pressuposto de que essa pessoa participou em algum “evento” que nos afectou, com o qual não estamos a saber lidar e encontrar sentido, às vezes essa pessoa é apenas um “Bode expiatório”.

Apresentei a seguinte proposta a Luana:

-Fecha os olhos e imagina a namorada do teu pai, consegues ?

-Sim sim- afirmou

– Como se chama ?

-Luisa! -respondeu

-Imagina a Luisa com outro namorado, vestida exactamente como se veste, a falar exactamente como fala e a comportar-se exactamente como sempre se comporta! Imagina que apenas te cruzas com ela mas que não a conheces de lado nenhum!

-Que bom!.. – ironizou

-Imagina que ela está, numa esplanada de um café ou num hipermercado! Consegues fazer isso ? – perguntei

-Hum hum- acenou afirmativamente

-Então vamos lá e se não te importares eu vou contigo…

Fechámos os olhos, respirámos fundo e fizemos juntas esta caminhada.

Imaginando que estás agora a cruzar-te com a Luisa, observa-a , ela não te consegue ver…O que sentes  ?

-É uma mulher normal ! Vai bem disposta com o namorado dela, é uma mulher normal!

– Ao olhar para ela, nessa realidade,   o que sentes ?

-Nada !  não sinto nada! -respondeu- é estranho mas assim está tudo bem!

-Então vou pedir-te que agora, te aproximes dela… consegues ?

-Acho que sim… consigo !

-Lembra-te que ela não te consegue ver… olha para ela …! E diz-lhe :

” Agora já sei porque é que tenho raiva de ti… e quero agradecer-te por me mostrares um lado de mim que eu não conhecia…talvez eu não tivesse percebido que tu és uma ameaça para mim, que vieste para o lugar da minha mãe, que me roubas um pouco do meu pai e és para mim a responsável da destruição do nosso lar… mas a raiva que eu sinto é minha…porque eu queria que tudo fosse como antes e tu estás sempre a mostrar-me que vai ser diferente…e talvez eu precise de aceitar que tu também estás na minha vida porque eu preciso de aprender a adaptar-me a novas situações, e que existem coisas que eu não posso mudar, talvez me venhas mostrar que preciso largar um passado que já não existe e a viver feliz neste presente e nesta nova realidade !”

As lagrimas foram correndo pela face da Luana .

-Uau ! que alivio …

-O que sentes ?

-Pode ser estupido isto que vou dizer… mas sinto-me como se estivesse a fazer uma birra!??? Que estúpida que me sinto ? Já não tenho idade para isso… A Raiva é uma BIRRA ?

-Sim pode ser visto assim… As birras são manifestações “puras/ infantis” que acontecem quando não aceitarmos o que nos estão a impedir de fazer, é um mecanismo … É a Raiva pequenina!

-A minha mãe sempre me disse que eu fazia algumas birras!…

A raiva para ser aliviada ou curada tem de ser manifestada. Mas é importante perceber que é uma emoção que somos nós que criamos face a uma situação que nos acontece, que não aceitamos,  porque não encontramos resposta ou sentido.AF_logo_-mediacao-sistemica_sdesigncao

Não existe ninguém que passe pelas nossas vidas por acaso,  ou apenas porque foi trazida por outros, sejam amantes, amigos, namorados, filhos, familiares, colegas etc. Todas as pessoas que se cruzam no nosso caminho e nos provocam emoções, estão exactamente onde tem de estar , trazendo sempre algo para nos mostrar, ensinar, significar.

Talvez esteja na hora de começarmos a dar importância a cada um que se cruza connosco e observar as emoções que nos provocam,  neste caso, a raiva que a  Luisa  causava à Luana , essas raivas são como pombos correio que nos informam de algo nosso que precisa ser observado.

O que ganhamos com essa consciência ?

Nesta consciência a raiva pode deixar de se manifestar e sempre que se manifesta, acontece de uma forma mais controlada, sabemos à partida que existe um sentido qualquer para o que aconteceu e que temos algo a aprender com o que aquela pessoa nos traz em forma de raiva.

A Raiva  sentida é nossa ,  afeta o nosso corpo e a nossa mente com tanta violência que nos pode adoecer… Por isso é fundamental observar… e perceber a mensagem que nos traz sobre e a forma como a sentimos!

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