Dia 6 de Agosto no Forum Viseu …fiquei na plateia… a Meditar!
No norte é normal o uso de “asneiras” o que não significa agressividade ou violência. As vulgarmente chamadas asneiras, são usadas como “ancoras” de discurso tal como em outras regiões se usam expressões como: “de maneiras que”, ou “ora”, “tás a ver” , “coiso” etc.
Quando cheguei ao forum ao descer a escadaria que dava acesso à administração, cruzei-me com uma jovem, em sobressalto. Estava ao telefone com um tom de voz tão alto e a agressivo, que era impossível não ouvir que desafiava a sua interlocutora, para um encontro de ajuste de contas. Temi por um episódio menos feliz, mas sendo a impulsividade uma característica juvenil, tive esperança que fosse apenas a ira do momento a falar e segui o meu caminho até à entrada da administração. Já na companhia da directora, um segurança interrompeu a conversa, chamando a responsável para uma emergência , duas jovens e os seus amigos, com cerca de 16 anos, protagonizavam uma cena de violência física, motivado por um namoro e traição e estava tudo num reboliço. Obviamente que os amigos e amigas das partes tomaram partido do respectivo lado e foi preciso a segurança do fórum intervir, para acalmar os ânimos.
Controlada a situação, já na presença da policia, por serem menores tiveram de aguardar pela chegada dos pais, que obviamente, cegamente tomaram partido dos respectivos filhos. Com as garras de fora, e os nervos à flor da pele, quase que tudo começava de novo. Eu nem queria acreditar.
A mãe do rapaz, que ambas jovens disputavam , uma mulher de 45 anos, exaltada e fora de controle, esbracejava e gritava para uma das jovens:
-És uma desavergonhada , oferecida de “m**da” é uma p*ta! passas a vida a oferecer-te… não largas o meus filho, é só mensagens atrás umas das outras !!!1
O filho, o agressor e traidor , mostrava-se surpreendido com a atitude da mãe e antes de qualquer coisa exclamou:
-Andas a ver o meu telemóvel ! – não era uma pergunta
-Tá mas é calado, que essa “desavergonhada”!!!
— Ó mãe pára com isso ! Vá lá… acalma-te lá… – agora o foco era acalmar a ira da mãe e percebi que ao faze-lo, ele acalmava-se também !
Sentia-se no jovem a atrapalhação da situação causada pela mãe, algum desconforto por a estar a colocar naquela situação! E talvez também se estivesse a ver em espelho…
A outra senhora, mãe da filha insultada e agredida, respondia incrédula;
-Não tem que falar assim da minha filha!
-Tenho sim e falo o que for preciso- gritava mais alto e batendo com a mão no peito e virando-se para a policia reforçava-me – prenda-me se quiser essa miuda não presta!
-Exmos senhores agentes isto são ofensas morais! – retorquiu o pai da rapariga ofendida – os senhores são testemunhas apontem isso por favor!
-Diga lá o que quer que eu diga mais ou sr executivo ?- continuava a mulher fora si – estou me nas tintas para as ofensivas mortais a lá o que raio é isso!!!!
E foi nesta altura que acção mudou de foco, se pudesse ter colocado a cena em camara lenta, as expressões dos intervenientes mudara, a energia da situação mudou e tudo ficou mais leve:
-O Pai ofendido passou a pai gozão. Nitidamente o homem não resistiu à troca de vocabulário, “Ofensas Morais” para “ofensivas Mortais” , esboçou um sorriso de “nem vale a pena” e afastou-se do núcleo nervoso da mulher.
O filho agressor passou a “mediador” da mãe
… a mulher continuava a esbracejar e o filho protagonista da historia via-se agora no papel de mediador e o seu principal foco era acalmar a mãe !
A miuda desavergonhada percebeu que talvez não fosse bem isso que a senhora lhe quisesse chamar… logo o peso das palavras ficou diferente
Provavelmente esta mãe exaltada a tentar defender o seu filho com unhas e dentes, acabou por conseguir acalmar toda a gente, inclusive o próprio filho! Que talvez tenha percebido, de onde vem alguma da sua impulsividade e o sangue quente que o fez desencadear toda a situação.
Quando há uns anos fiz um curso de meditação na Brahama Kumaris o mestre Luis falava sobre certas situações de conflito, em que tudo o que podemos fazer é enviar paz, medi(t)ar que tudo se acalme, assim fiz.
Estive na plateia a fazer o meu melhor, observando do cimo das escadas e tentando ver para além do obvio, observando as dinâmicas e movimentos, porque de um momento para o outro tudo muda, até os rótulos que colocamos uns aos outros para identificar quem é quem!
Se estivermos atentos percebemos que é sempre assim, ninguém é sempre bom ,nem sempre mau, evoluímos com cada experiência e é para isso que cá estamos… no fim seremos todos seres num caminho comum e cada um a só conseguir fazer o melhor que sabe!…