A traição é um título que gera curiosidade, medo, revolta e estranheza. Acontece na vida de muitos casais jovens, adultos , maduros… é um fenómeno NORMAL
É muito bom quando uma traição gera um novo amor.
Ninguém está livre de se poder apaixonar loucamente, por uma pessoa que inesperadamente se atravessa à sua frente e lhe desperta sentidos de coração e de alma, que desconhecia ter. É algo que pode suceder a qualquer um de nós, em qualquer momento da nossa vida, durante o casamento … Tive a sorte ou o privilégio de ter testemunhado um amor assim. Amante e “traidor” sofriam; ele por não querer magoar a sua actual mulher e companheira de 10 anos, não tinha como lhe explicar o sucedido, não queria que ela sofresse ou achasse que havia algo de errado com ela, mas o que sentia transcendia tudo o que tinha vivido até aquele dia.
A suposta amante, sofria porque não queria ser responsável pela destruição de um lar. Sem saber como, estava a repetir o padrão, da mulher que tinha retirado o seu pai de casa… não sabia o que fazer, nem como controlar o que sentia!
Trair não estava nos planos de nenhum dos dois, o respeito pelo próximo era um princípio de vida, ambos foram apanhados na curva e nenhum queria viver aquele amor como uma traição, não era saudável. Combinaram parar com os encontros, na esperança que os corações acalmassem.
Ele falou com a mulher sobre o que se estava a passar e sobre o travão que tinha colocado, ela aceitou a situação, mas passados dois meses, ele não aguentou, sentia que não podia estar a viver com a mulher a desejar a outra. Independentemente do que acontecesse não podia ficar ali não era justo, nenhum dos dois seria feliz! Decidiu sair de casa e foi viver com um amigo, para tentar colocar a cabeça no lugar, todos os dias rebolava na cama e lutava para não ligar àquela que agora já poderia ser a sua próxima mulhar, parecia um dependente, mas tinha de dar tempo. A amante, tentava distrair-se, era a primeira a chegar e a ultima a sair das instalações da empresa. Dois meses, depois ele já mais livre foi espera-la à saída da empresa e pediu-lhe namoro, foram viver juntos e assim ficaram durante 25 anos numa historia de amor única até a morte dele.
Outras motivações para AMANTE
A Rita que veio ter comigo foi a amante de um homem, por quem se apaixonou. Um caso bem diferente. Ele sempre disse que não largaria a mulher, mas a Rita no fundo tinha esperança de mudar essa realidade. Em cada beijo ou caricia que trocavam ,ela acreditava que o que ele sentia por ela era mais forte do que o que ele dizia. Acreditava que mais dia menos dia ocuparia o lugar da mulher principal. Quando o caso foi descoberto pela mulher, ele de um dia para o outro deixou de aparecer. A Rita ficou desfeita !
– Poderia ter dito qualquer coisa .. podia ter falado comigo! Preferia que me mandasse à merda do que me ignorasse!
-Sim poderia , mas você deveria saber que corria esse risco, afinal era uma relação de recreio, assumida por ele!
-Sim , mas eu tinha esperança que ele ficasse comigo !
-Mas alguma vez ele lhe disse que o faria ?
-Não ele sempre disse que não largaria a mulher e a família!…
Tenho percebido que muitas mulheres no lugar da Rita, vivem num grande sofrimento, como mulher solteira/divorciada entra neste tipo de relacionamento “extra-conjugal”. Muitas vezes por um padrão, ou energia subtil de vingança dos seus sistemas ou pela adrenalina da conquista. Evidenciar-se a um homem casado e conquista-lo é um desafio e uma prova da sua superioridade feminina, perante outras mulheres não importa quem, é um jogo e uma necessidade individual de se sentir melhor que outras. Mas é um jogo arriscado porque é um jogo unilateral. O Amante da Rita, tinha sido claro desde o início, quando decidiu ficar com a “mulherzinha”, ela sente que perdeu. Pode tentar convencer-se de que ele é fraco não quer lutar pela felicidade ou alegria ou o que seja, mas na pratica perdeu o jogo que a própria se propõs a jogar sozinha.
-Não a julgo nem critico , mas convido-a a tentar perceber que raiva é essa que traz dentro de si, para falar assim da mulher que vive com esse homem hà 12 anos ? Eles tem uma historia que pelos vistos ele não quer perder ? O que a leva a querer que ele não é feliz ? O que conhece dela ? E dele ?
-Não conheço nada, a raiva que tenho dela é por não ter conseguido ganhar !- respondeu-me- mas é duro ver as coisas assim!
– Sim Rita é duro, mas também é um acto de coragem- e continuei- O que a faz envolver-se assim com homens comprometidos, ao ponto de jogar sozinha! Talvez exista dentro de si um conflito enorme que a mantém diariamente nesse jogo. Observe também a forma como olha para outras mulheres ? Como passa por elas ? acha-se melhor ou pior, que elas ? achasse mais capaz ou menos ? Ou sente necessidade constante de se comparar para se sentir melhor ? o Que valoriza numa mulher ? O que aconteceu no seu casamento ? que mágoas traz da sua vida ? Já imaginou a sua filha vir a sofrer um golpe desses ?
Existem mulheres que são amantes de homens casados durante décadas, apaixonam-se e por amor e por lealdade aos seus amantes aceitam ser a outra, habituam-se e conseguem tirar partido desse papel. Mas a Rita, nos casos que tem travado com homens casados, quis sempre mais que isso.
Convidei a Rita a observar-se numa situação dessas:
-Gostaria de ser a outra toda a vida ? seria bom para si ? Qual seria o resultado desse seu jogo ?
-Acho que ao principio nao me importaria, mas não gostava de jogar esse jogo, porque isso nem um empate seria!
-Então Rita , agradeça a esse homem por ter ido embora e por ter escolhido ficar com a mulher e agradeça também à mulher , ou “mulherzinha” como lhe chama, por ela o ter confrontado e por o ter obrigado a escolher… Porque com essa posição ela acabou por a proteger também de se manter no papel de Outra ao serviço de um homem que afinal se calhar também não é o tipo de homem que a Rita precisa ao seu lado… Talvez o vosso encontro se tenha dado porque também ele tem um problema a tratar, talvez também ele vibre numa falta de respeito às mulheres, uma necessidade de competir e se sentir superior, de ser ele a comandar o jogo, agradeça por não ter ficado presa dele!…
-Essa é uma visão que me traz alguma paz!
Tudo o que precisamos é de viver em Paz e encontrar sentido para as acções que praticamos, pois só assim podemos mudar. E a propósito de viver em Paz, um mês após o nosso encontro a Rita encaminhou-me a mensagem que recebeu da mulher do amante.
“Ola boa noite Rita, Antes de mais peço lhe desculpa por estar a invadir a sua caixa de correio. Sei que recentemente o meu marido finalmente lhe ligou, para encerrar o ciclo , já o deveria ter feito! Quero apenas que saiba que percebi cedo alguma cumplicidade que manteve consigo e com outras mulheres no último trimestre do ano passado, facto que obviamente me surpreendeu na nossa relação, mas aconteceu e teremos de o ultrapassar e entender como aprendizagem. Considero a traição uma grande falta respeito para com a família que têm em casa e para com as mulheres como a Rita, a quem vai alimentando esperanças e divertindo o seu ego, tentando ter o melhor de dois mundos. Quero que saiba que o deixei à vontade para ir ter consigo e escolher ficar consigo, se esse fosse o caminho da felicidade dele. Disse-me que nunca desperdiçaria a nossa historia num caso e que tinha sido claro consigo de que nunca largaria a mulher, tenho pena que a Rita tenha aceite essa condição e sinto-me mal que ele a tenha tratado assim, é um negócio “emocional” que um homem sério não propõe a uma mulher. Só uma mulher frágil aceita essas condições. Embora não me conheça é evidente o desconforto, sempre que nos cruzamos e envio esta mensagem porque gostaria de minorizar esse desconforto , dizendo lhe que nada tenho a apontar-lhe ou a critica-la. Desejo que encontre um homem que a queira inteiramente, que a respeite e que nunca a faça passar pela agonia de uma traição. As relações podem ser de todos os tipos, desde que todos saibamos da verdade. Que o universo lhe abra o caminho tranquilo para uma felicidade plena. Estas coisas que acontecem nas relações são aprendizagens para todas as partes e eu sou-lhe grata, por a sua presença na minha vida, por me ter mostrado tanto de mim, da minha relação e dos relacionamentos. Peço desculpa pela invasão e aceite o meu abraço e os meus votos de tudo de melhor para si e para a sua filha. Grata pela atenção”
A Rita terminou o email a dizer-me:
Agora já sei porque é que ele não a largou!… Eu também não largaria uma companheira assim..Mas tambem não a trairia!
Não sabemos os motivos que levam um companheiro a trair e também não podemos tratar o traidor apenas como o mau da fita. Existem muitas razões para trair que muitas vezes o próprio desconhece. Existem motivações ocasionais, flashes de inconsciência, vinganças subtis, desvios comportamentais , descontentamentos, campos vibracionais , novas dinâmicas vivenciais, química sexual entre muitas outras.
Não somos uma extensão do outro e essa é a boa noticia para todos os que foram traídos ,nem sempre uma traição está directamente ligada ao companheiro, ao casamento ou à relação. A individualidade dentro de um casamento é algo que nos esquecemos que existe e por isso quando acontecem as traições os golpes são tão profundos… mas este é outro assunto que dará pano para mangas…
Quanto à Rita, o auto-conhecimento a auto observação é um dos passos mais importantes, para conseguir entender este padrão que há anos a atrai para o jogo das relações extraconjugais. Neste sentido fiz-lhe uma ultima pergunta :
-Se por acaso ele escolhesse ficar consigo , ficaria satisfeita ? Ou continuaria em jogo ?
Muitas relações extraconjugais apenas sobrevivem por o combustível ser o risco, a competição ou a vingança sistémica. Quando passam a oficiais morrem por falta de alimento!
O primeiro caso que relatei neste texto, foi um caso de amor inevitável onde o respeito cumpre os propósitos do AMOR…
Temos a obrigação de assumir a nossa responsabilidade social e humana quando estas situações acontecem nas nossas vidas. E é certo que podem acontecer a qualquer um seja por amor ou por outro motivo qualquer. A forma como lhe damos resposta, vai determinar o sofrimento que geramos a todos os envolvidos: companheiros, filhos, amantes e é aí que o AMOR entra em acção… Valerá a pena ?!