O que nos dizem os nossos filhos, com o que não nos dizem ?

A Maria veio ao meu gabinete acompanhada da sua filha de 3 anos, que subitamente ficou doente. Durante a sessão com a mãe, entreguei à Matilde um Jogo de cartas e uma caixa com bonecos de borracha.

Enquanto conversávamos a mãe, interrompeu-me perguntando:

-O que lhe fez para ela estar quieta ?

-Nada de mais – respondi – dei-lhe apenas dois tipos de brinquedos diferentes e pelo que parece, ela gostou!

Continuamos a conversa, Quando finalmente fui verificar o que fazia a pequena Matilde, reparei que tinha organizado tudo por cores. As cartas e os bonecos estavam metodicamente posicionados.  Chamei a mãe e perguntei-lhe se era normal.

-Não ,elas são muito desarrumadas , o quarto delas está sempre uma barafunda ! não entendo como ela fez isto ! – disse surpreendida

-Talvez ela lhe esteja a querer dizer qualquer coisa, ou a informá-la de qualquer coisa que necessita ! Talvez ela esteja a precisar de organização !

-Meu meu deus, mas também é disso que eu preciso, claro que sim ,faz sentido!

A nossa sessão ficou por ali e a Maria foi para casa com a Matilde arrumar o quarto e organizar o espaço … E a partir daquele dia foi relatando que a Matilde estava mais calma , entretinha-se bastante com os brinquedos e tudo estava mais funcional!.

O Carlos pediu me que falasse com a sua filha de 16 anos, descobriram que anda a consumir algum tipo de droga, desconfia que talvez seja apenas “ganzas” mas está preocupado.  A filha não fala, não expressa qualquer tipo de emoção e ele não sabe o que fazer.

Perguntei ao Carlos :

-Como é que você se expressa em Casa ?

– Eu sou um bocado palhaço, estou sempre na brincadeira, não gosto de levar a vida muito a sério ! E assim enquanto estou na palhaçada não penso nas coisas tristes !

-A Carlota talvez também apenas esteja a procurar nas ganzas uma outra forma de evitar as emoções , de se sentir feliz , ou de encontrar boa disposição ?  Já experimentou falar com ela ?  Já algum dia lhe disse que as parvoíces que diz da boca para fora são só para fugir das suas emoções e que talvez, tenham um trabalho conjunto a ser feito  ?

Com estes dois exemplos quero convidar cada um de nós, como pais a observar as informações que os nossos filhos nos estão a trazer. Informações sobre nós e sobre o que eles precisam.  São reflexos perfeitos.

Hoje um amigo meu chegou ao pé de mim lavado em lágrimas.  Foi pai pela primeira vez aos 45 anos, o filho tem agora 3 anos. Desde cedo se habituou às despedidas e regresso a casa, sem grande envolvência emocional, mas desta vez foi diferente. O pequeno Salvador quando se apercebeu que a despedida daquele dia, não era até às cinco da tarde, chorou de forma diferente e o pai pela primeira vez sentiu o impacto de ir embora e deixar aqui uma parte de si.

-Eu não sabia o que era sentir isto ! – dizia me – eu sempre me fui embora tranquilo, o meu coração está partido !

O pequeno Salvador fez nascer um novo homem dentro deste homem que se julgava feito. Talvez despertando um novo homem emocional , talvez alertando para a necessidade deste pai se permitir chorar e sentir que é importante.

Temos de nos sentar à mesa , ou à volta da mesa, ou no carro , num gabinete … em qualquer sitio , precisamos conversar porque os nossos filhos tem muito para nos dizer sobre nós … e nós temos muito para lhes dizer sobre eles próprios…

Somos espelhos uns dos outros… Precisamos CONVERSAR !cropped-af_logo_-mediacao-sistemica_sdesigncao.jpg

 

 

 

 

 

 

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