A Mariana perguntava-me de que maneira poderíamos começar, ou “Por onde começar para mudar o mundo a partir de mim ?”
Muitas acções devem ser tomadas, mas existe uma que todos e cada um de nós pode começar a treinar 24H por dia, dependendo apenas de vontade e disciplina: Aprender a OBSERVAR em vez de OPINAR & JULGAR sobre tudo o que acontece.
Bem sei que não é uma sugestão fácil , somos invadidos de maus exemplos através de todos os grandes canais de informação: televisões, radios, revistas, jornais, canais net, que a toda a hora despertam nos nossos aparelhos, através de verdadeiros profissionais da arte de OPINAR : youtubers, humoristas, artistas , jornalistas , políticos, jogadores, figuras publicas , todos opinam, porque sim … Opinam sobre tudo e mais alguma coisa publicamente como se estivessem na posse de todos os factos e fossem conhecedores natos … como são gente conhecida o que não é o mesmo que ser “conhecedor”, misturam-se os deslumbramentos e perde-se lucidez colectiva.
Com estes exemplos, criámos uma sociedade de opinadores compulsivos retro alimentada, por programas de TV com gente Real e em tempo real, provocam-se situações com o objectivo de gerar opiniões, burburinhos e lançar confusão que faz vender milhares de revistas e assinaturas digitais de imprensa de “opinião” ou cor de rosa. Está lançado o mote, todos opinam e defendem com unhas e dentes a sua opinião e só por isso querem seguidores nas redes sociais…E até há quem se especialize em “opinador” das vidas do outros (risos) … e por incrível que pareça, há quem os oiça e até leve a sério… E obviamente depois há quem já só viva em função da opinião alheia…
Neste circuito, apontam-se dedos e dizem saber o que o outro sente e que não há perdão para este ou aquele acto e que isto + isto tem de ser aquilo…
Quanta energia, quanto tempo ,quanta raiva manifesta constantemente em prol de conhecimento nenhum. Com o tempo chegamos a uma realidade de solidão isolamento e de sombra, ninguém é o que realmente é e o pior, poucos são os que sabem quem são.
O que podemos fazer :
Dou como exemplo as redes sociais que nos provocam diariamente e convidam a comentar títulos polémicos e provocadores.
Este é um bom exercício:
Quando estiver perante um titulo destes , convido a que observe, o primeiro impacto, que opinão traz à sua mente ? questione-se está na posse de todos os fatos, realidades e vivencias, para poder opinar ? Que experiências pessoais motivaram a sua opinião ?
E antes de falar sobre o assunto, tente criar duas ou três realidades diferentes que coloquem em questão o seu primeiro impulso.
A proposta é:
1º -Antes do impulso se transformar numa “opinião compulsiva”, observe-o, veja se é importante ser manifestado
2º- Questione-se:
- vai melhorar de alguma forma a situação do outro ou piorar ?
- qual o intuito , construtivo ou destrutivo ?
- É uma opinião por questões de Ego pessoal ?
- E uma opinião projectar no outro um sofrimento seu ?
- É uma opinião para se superiorizar ? Por orgulho pessoal ?
- Está preparado para mudar o seu ponto de vista ?
É muito natural que estes impulsos aconteçam ,temos um tecido social contaminado por opiniões, baseadas em crenças sócio-culturais e religiosas.
Quando há poucos dias um bebé foi abandonado no lixo, antes de saber o que aconteceu, ocorreu-me propor um exercício:
1º- O que realmente importa observar, tudo acabou bem , por isso os hipotéticos desfechos saem de cena da conversa. O Foco está nos factos.
2º -Bendito homem que se tornou sem abrigo, para salvar esta vida… Um homem que teve a grande recompensa por existir : TER SALVO UMA VIDA. Quantos de nós gostaríamos de o ter feito ?
3º-Bendito bébé , que se aguentou firme até vir socorro! Bendito ventre que o gerou forte!
– Não sabendo o que se passava com a mãe criámos alguns cenários :
- Existem mulheres que matam os filhos com depressões pós parto ! Algumas conseguem não mata-los , rejeitam-nos. Quando o seu processo neuro químico volta ao normal, vivem com sentimentos de culpa o resto da vida, por não aceitarem e entenderem a descompensação que tiveram, porque embora este seja um dos cenários de ser mãe, como é julgado como errado , não se fala , muitas mulheres vivem em dor, culpa e silêncio estes processos. Já conheci alguns casos e sim é normal , acontece com muitas mulheres, não faz delas melhores nem piores mães é uma questão de saude mental,
- Pode ser uma adolescente que os pais obrigaram a abandonar o filho- Já aconteceu
- Pode ser alguém completamente agarrado a substancias que vive numa dimensão de consciência fora de tudo isto.
- Pode ter sido feito um parto de forma completamente ilegal e a mulher ter morrido e terem-se livrado da criança…
- Pode ser uma menina de rua… que teve um bebé de um homem qualquer e livrou-se dele..
Seja qual fosse o caso, quando criamos vários cenários possíveis, acalmamos o impulso de opinar. Até porque , quem sou eu ? Mãe de dois filhos ,com uma vida equilibrada, com casa , estruturada e organizada … quem sou eu, que experiência tenho para poder opinar , julgar, apontar dedos a uma pessoa que fez uma escolha desta natureza. Não sei , não posso julgar,
Quanto à mãe da criança apenas me ocorre , que deus/universo a ajude. Que um dia quando se estabilizar, consiga olhar para este episódio e tirar dele aprendizagem para a sua evolução pessoal. Que o universo lhe dê essa oportunidade , que o universo a abrace quando essa dor vier à consciência.
E que não se torne uma julgadora dos outros… Que é afinal o que todos fazemos quando compulsivamente opinamos e julgamos com base na nossa fraca experiência…
Ser Opinador compulsivo é ser irresponsável e totalmente inconsciente do valor e do impacto que as suas opiniões infundadas, podem ter no outro
Há dias numa conversa, o João opinava sobre depressão e expressou -se da seguinte maneira:
-As pessoas tem depressão porque querem, são mentalmente fracas ! Eu e os meus somos todos felizes e a vida é para levar para a frente!
Respondi:
-Que o universo te proteja desse cenário, que consigas passar pela vida sem que em algum momento surja essa dor de não apetecer mais!… Sabes João, uma depressão pode manifestar-se por diversos motivos…- o João interrompeu-me
-Todos temos problemas a questão é que não podemos ser pessimistas! –
– Não ser pessimista ajuda- respondi, na esperança de acalmar a compulsividade deste opinador- mas às vezes não chega! existem razões biológicas/ orgânicas, momentos difíceis de ultrapassar, eventos traumáticos, surtos psicóticos provocados por alguma substancia , mudança de idade e mudança hormonal etc, tudo isto pode gerar uma depressão… – esclareci- Não é simpático para mim que tive suicídios na família provocados por depressões profundas , escutar essa opinião que mesmo infundada não deixa de ser ofensiva… é importante saber do que falamos! imagina que estou a sofrer de depressão ? Como me sentiria ao escutar te ? que responsabilidade tens sobre essa efusiva opinião ?
Disse isto ao João porque à nossa frente, estava um rapaz em depressão, que a mãe também é depressiva e já tinha tentado suicido. Na opinião do João, aquele rapaz e a mãe são “FRACOS da Cabeça” e tem depressão porque querem, não sabem levar a vida em frente…e PONTO FINAL!
Cuidemos das nossas opiniões… ou melhor … a não ser que seja para melhorar, talvez seja melhor deixar de lado essa mania de opinar… e em vez disso, Passar a OBSERVAR… OBSERVAR … OBSERVAR e a escutar com o CORAÇÃO!
Foi a minha sugestão para a Mariana no sentido de fazer alguma coisa, para começar a mudar o mundo…
Obrigada , amo te muito !
CurtirCurtido por 1 pessoa