No livro INCLUIR falo de Incluir a Morte, este é um dos textos que faz parte:
“Tinha eu dez anos um primo muito próximo, morreu com leucemia também ele com dez anos. Lembro-me da minha mãe a chorar em frente ao espelho do seu quarto, dizendo que deus não poderia existir, para levar um inocente. Já o meu pai achava que talvez não fosse assim tão estranho porque se tratava de um menino muito mal-educado. Com estas posições fiquei assustada, afinal a morte poderia ser injusta ou um castigo. Fiquei assustada, porque semanas antes dele morrer fiz batota. Ele embirrava comigo, estava sempre a chamar-me “pote de banhas” sem que eu lhe fizesse nada. Uma das vezes que saiu do hospital fomos visitá-lo a casa, a minha irmã foi jogar batalha naval com ele e como nunca me deixava jogar, dessa vez denunciei os furos dos barcos dele à minha irmã, fingia ir à casa de banho passava por trás dele e apontava onde se encontravam os barcos. Quando morreu pensei que ele poderia vir ajustar contas comigo.
Recordo-me que morte para mim se vestia de vingança, para o meu pai era um castigo e para minha mãe era injusta. A morte não é um castigo, faz parte do processo de todos nós. A morte é um movimento da nossa vida e para nosso bem é importante inclui-la como tal.
Se vivermos cada dia, no presente com respeito e amorosidade, tocaremos na vida dos outros com boas memórias, bons momentos e boas vibrações, contribuindo para que sintam que a vida vale a pena. Se cada um de nós se ocupar de ser melhor todos os dias, quando chegar o fim, tudo ficará mais leve. Embora exista uma herança e crenças familiares, relativas à morte, podemos alterar essas crenças através da forma como vivemos.
Ao longo deste livro, insisti na proposta INCLUIR, aceitar integrar experiências de vida. A forma como vivemos em aceitação, ensina a olhar para a perda sem culpa, sem raivas, sem revoltas. Obviamente sentiremos saudades, vontade que ficassem mais um pouco, mas deixaremos ir guardando as boas memórias e os bons momentos no nosso coração. Acima de tudo há um princípio que gosto de marcar; tudo está onde tem de estar. A melhor forma de viver é apostar sempre na nossa melhor versão e aceitar o fim, gratos a tudo o que foi vivido, até porque existe muito para alem do que conseguimos ver…”
É importante que perante as perdas cada um de nós reflita sobre as crenças que carregamos ? Culpa ? Injustiça ? Castigo ?…
As perdas dos outros refletem-nos sempre a possibilidade das perdas em nós… A forma como as sentimos é a forma como as sentiriamos em nós!… As perdas dos outros podem ser uma oportunidade para trabalhar as nossas crenças e dessa forma evitar sentimentos de culpa, de impotencia , injustiça ou castigo… que nos impedem de viver a morte em PAZ e encaminhar os nossos em direcção, aquilo que precisam: LUZ
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