O Poder das Crenças que não nos pertencem “Canoas do Tejo”

As nossas crenças podem ser muito uteis, mas também inúteis, tóxicas, bloqueadoras e até infantis.

Este texto foi motivado pela consciência do poder que uma crença passada pelo meu pai, teve na construção da minha percepção e opinião. Mesmo consciente do processo ela, a crença, não deixou de sussurrar ao meu ouvido até…

Dia 1 de Janeiro morreu Carlos do Carmo. Um homem que dedicou a sua vida à música.

No dia do meu (primeiro) casamento o Sebastião (agora ex marido) oferecia ao meu pai em jeito de gratidão a canção “Canoas do Tejo”. Era um dos temas que o meu pai cantava e assobiava no seu dia a dia e o Sebastião cantava eximiamente tal e qual Carlos do Carmo.

O meu pai viveu e morreu zangado com Carlos do Carmo. E eu sem saber o porquê dessa zanga, subtilmente, sempre senti resistência em apreciar o cantor, reforçada mais tarde por outras opiniões iguais às do meu pai.

Em 1996 fui a Arco de Valdevez, como produtora acompanhar Fernando Tordo, para que este entregasse um prémio de Carreira a Carlos do Carmo. Jantamos juntos; eu o Fernando a D.Judite e o Sr Carlos do Carmo. Lembro-me de comentar ao meu pai de que o Sr Carlos do Carmo era simpático e que tinha um charme muito parecido ao dele. O meu pai comentou simplesmente “Ou se é do Fado ou não se é! Quem é do Fado fica no fado. Não podemos andar a saltar para onde mais nos convém”!

Durante muitos anos foi instalada socialmente a crença, que não podemos mudar de opinião. Crença que convinha à politica, ditadura e religiões e que interrompeu a evolução individual, social e cultural do nosso pais. Todos aqueles que mudavam de lado ou opinião eram julgados, como feijao frade, vira casacas, desleais ou sacanas. Esta crença social tanto era levada a peito, por quem era de esquerda como da direita. Não mudar de opinião era uma virtude que se chamava “coerência” e quem colocasse em questão a coerência politica social e cultural da epoca era um traidor, desleal ou …Feijão Frade… Tanto à esquerda como à direita

Esta crença do meu pai de ” que quem é do fado fica no fado” nunca me fez muito sentido, parecia uma magoa de bairro. Na verdade desconhecia os reais motivos da sua zanga, apenas conhecia a sua crença e posição.

Dia um de janeiro fui em busca de informação, tentando perceber este sentimento e resistencia ao cantor, que não me pertencia. Encontrei uma entrevista que Carlos do Carmo deu ao Observador. Nessa entrevista fala da saida do fado e da sua re-entrada, das questões da musica e das suas ligações politicas à esquerda ou à direita e termina da seguinte forma; “tenho muitos defeitos mas há duas coisas que não sou: nem Sacana, nem desleal” Por esta frase percebi que muitos como o meu pai, fosse pelo Fado ou por questões politicas associadas ao Fado e à Musica o julgaram e consideraram desleal…coisas de fãs apaixonados ou desiludidos por o seu ídolos… Crenças sem importância nenhuma mas que são passadas de geração em geração!

Hoje sei, após trinta anos a produzir no meio artistico, que muitos fãs se seguram aos idolos como lapas, mas tambem se zangam com eles e viram costas, quando esses idolos são desleais às bases artisticas com que os conquistaram.

Agora distancia de 26 anos percebo que talvez tudo não tenha passado de uma zanga motivada por uma grande admiração. O meu pai era da “Graça”, cliente assiduo da casa de fados “Faia” e fã incondicional de Carlos do Carmo. Talvez não tenha aceite que Carlos do Carmo tivesse temporariamente abandonado o fado, para mais tarde regressar ao fado, devido a simpatias ou antipatias politicas, quem sabe… A Mágoa dele com Carlos do Carmo era grande mas passava os dias a trautear fados eternizados pela sua voz. Hoje sei que foi por amor que se Zangou com ele… E o que é que eu tenho a ver com isso ?????? NADA … mas sem dar por isso houve sempre uma teimosa resistência ao cantor, em mim…por muito que tentasse… algo me puxava a nao escutar!!!! É incrível a subtileza das crenças…

Somos subtilmente, leais aos nossos pais e aos seus principios, mas não é preciso tanto… Afinal o meu pai era tão feliz a Cantar Carlos do Carmo que era impossivel não o AMAR… Sim Carlos do Carmo era Amado por muitos portugueses, mesmo por aqueles bairristas “nhurros” que se zangaram com ele…

O porque é que as crenças dos nossos pais não podem ser nossas ?

Porque as crenças deles foram criadas pelos seus estados emocionais e envolvimento sociais e culturais… Ao serem passadas para nós impedem-nos de viver a realidade com uma visão imparcial, apreciar livremente e adquirir outras competencias.

Quantas crenças temos que não nos pertencem ???! Observemos e fiquemos apenas com as crenças que nos permitem evoluir… todas as Outras DEIXEMOS IR…

Orientação : http://www.orientacaosistemica.pt

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Um comentário em “O Poder das Crenças que não nos pertencem “Canoas do Tejo”

  1. Fantástica observação… Ao ler só me lembrei do fanatismo futebolístico assim que uma criança nasce… No dia em que nascer vou logo inscrevê-la no Benfica! Por amor à própria criança, deixem-na observar e ter opinião própria.
    GRATIDÃO imensa e plena amiga✨

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