Nenhum texto é acabado … Este é apenas mais uma reflexão!
Há uns dias escrevi sobre marketing integrativo e sobre a importância do marketing se ajustar à realidade não só comercial, mas tambem psicossocial. Em vez de tentar driblar tudo, para obcessivamente fazer disparar os graficos de vendas e audiências, tornar-se integrativo e consciente das novas realidades sociais, olhando para o todo e para o impacto negativo e efeitos nocivos que as suas campanhas podem ter na sociedade. Um marketing focado na realidade, não estimulando o endividamento e o consumo de bens perfeitamente indispensáveis em momentos de crise.
Ultimamente temos assistido a uma guerra de audiências sem precedentes as televisões propõem conteúdos , completamente absurdos e cheios de informação contrária aquela que a sociedade precisa para se equilibrar. As figuras publicas são mais que nunca fontes de sedução, fazem a apologia ao corpo e à imagem, dando força às campanhas de marketing e de vendas de produtos desnecessarios, sem qualquer tipo de responsabilidade social.
Na ordem do dia temos agora o complexo tema do assédio sexual em contexto profissional. Homens e mulheres revelam momentos em que foram alvo de chantagem no meio profissional, por pessoas com cargos superiores que usaram do seu poder para os obrigar a um relacionamento íntimo caso não o fizessem perderiam acesso a promoções e seriam perseguidas profissionalmente. E se em tempos este foi um tema exclusivamente de mulheres, hoje sabemos que é pratica comum entre os sexos. Homens em cargos superiores assediam homens e mulheres, e mulheres em cargos de chefia também assediam tanto homens como mulheres.
As ultimas semanas foram tambem marcadas por o tema Socrates e “operação marquês” um Ex Primeiro Ministro agiu de forma talvez corrupta, salvo alguma inocência, a sua conduta foi e é no entanto claramente inadequada ao cargo no exercicio das suas funções. Este homem além de o negar sem grande sustentabilidade, tenta driblar o sistema judicial, para se livrar de uma pena efectiva que deveria assumir. Demonstra que espera que o sistema judicial e a análise, das virgulas e dos pontos, lhe retire das costas a responsabilidade sobre os actos irresponsáveis que cometeu. É um exemplo perfeito de alguém que se convenceu da legitimidade dos seus actos, talvez por não conseguir aceitar ser o unico a responder por práticas tão comuns em lugares politicos.
Se somarmos todas estas questões percebemos que há muito para mudar na nossa sociedade e que de nada nos serve apontar o dedo a este ou aquele, mas sim apontar a mudança para uma nova educação social OBSERVANDO tudo o que estamos a construir.
O Marketing integrativo só poderá ser praticado por empresas que não se focam apenas no crescimento de vendas e que foram criadas com valores de sustentabilidade social, planetária e empresarial. No entanto o perigo do sistema implementado, o desejo pelo PODER e os incentivos ao crescimento, ditarão o futuro e se os seus valores Conseguirão manter o foco ou serão corrompidos pelo sistema ?
É dificil sovbreviver a este sistema, mas imperativo para a sobrevivência da espécie. Motivo mais que suficiente para a mudança ter de acontecer no sistema social cultural e educativo.
Conceitos de PODER, Valores de competição, de cooperação e consciência universal tem de ser implementados nas escolas. Não podemos querer atingir objectivos a qualquer custo, sem olhar para o lado , sem perceber de que forma afetamos o outro e tudo o que nos rodeia.
O Assédio Sexual é um tema complexo que deve acentar numa nova educação social e sexual e no conceito de poder. O sexo foi desde sempre uma arma, usada tanto por homens como por mulheres e nestas ultimas decadas de forma mais acentuada em contexto económico social e cultural.
A grande complexidade deste tema, começa neste conceito do sexo como ARMA, para conquistar, para comprar, para vender e obviamente na ausência de escrupulos de todos aqueles que usam o seu PODER para o propor como moeda de troca promocional.
Pensar sistêmicamente leva-me sempre a outros campos de observação, não com o intuito de desvalorizar, mas sim de identificar fontes ou se quiser, algumas “nascentes” que tem de ser interrompidas para que as práticas se alterem. Após identificar a questão gosto de viajar pelos caminhos que socialmente construimos para perceber de que forma demos “alguns tiros nos pés”.
No meu livro “Traição e amor” abordo a questão da sedução como um dos movimentos que nos acompanha desde que acordamos até que adormecemos, estão presentes; nos conteúdos televisivos, através das redes sociais , na publicidade , por todos os meios somos seduzidos por homens e mulheres atraentes, a consumir os mais diversos produtos ,da manteiga, ao detergente para a roupa, de um automóvel, um perfume a um penso higiénico. Tudo nos convida à sedução, seduzimos , somos seduzidos, assediamos e somos assediados. Esta é informação que está a ser gravada nos nossos mapas mentais há algumas décadas. Lembro me de um anuncio a um detergente de roupa, com um homem em tronco nu, totalmente definido fisicamente que me fez questionar: ” O que é que esta gente quer que eu deseje ? o Detergente ou o Homem ? “.
Quando estamos conscientes estas mensagens subliminares não passam, mas enquanto consumidores distraídos, a mensagem que passa vai muito para além do detergente que se vende. É um assédio puro e duro usando os nossos estimulos sexuais para comprar um detergente para a roupa, eu acho que não era preciso tanto! Neste campo também o marketing usa de um PODER e de um “conhecimento” de neurovendas que usa com pouca responsabilidade social, não só em relação ao assédio mas em relação ao uso do corpo para atingir fins. Mais uma àrea em que seria importante uma nova educação e consciência global das realidades estimuladas, na prática tudo se resume em saber avaliar os efeitos que esta abordagem pode ter na sociedade a médio longo prazo, afinal toda a informação para as massas educa e transforma.
O Homem/mulher que pratica o assédio sexual no meio profissional é igual ao homem/mulher corrupto. O assédio é um convite a que o outro se corrompa sexualmente para conseguir atingir este ou aquele objectivo do seu interesse ou para manter um cargo. Como mulher passei pelas duas situações. Tentativas de assédio por homens e mulheres, tentativas de corrupção por homens e mulheres. O resultado de ambos foi o mesmo: ao não ceder nem a um nem a outro , perdi a oportunidade do emprego ou de vender o evento. E em qualquer um dos casos, confrontei sempre as pessoas com o que estavam a fazer. Para mim não vale tudo, mas poderia valer, caso tivesse outras vulnerabilidades ou necessidade de sobrevivência e neste texto não critico quem foi assediado e cedeu. Conheço muitas pessoas que cederam e vivem bem com isso, e hoje percebem que até onde queriam chegar, o unico caminho no momento era aquele. Outras que não encontraram outra opção e sofrem de raiva e dor. No meu caso escolhi arrepiar caminho e comecei a ter muita atenção aos meus desejos, foi uma opção que muitos podem achar que foi baixar os braços, para mim foi a unica forma de poder andar sempre com eles levantados, sem recear o poder de ninguém. É certo que no fim dos anos 80 e durante os anos 90 o assédio profissional era um lugar comum, as mulheres fixavam-se no grande mercado de trabalho, numa sociedade muito machista e com homens muito mais velhos em cargos de poder. Foi um grande desafio…
Podemos ter sempre o azar de nos cruzar com pessoas corruptas em cargos de poder e nem sempre é simples não ceder, quando valores de sobrevivência se levantam ou vulnerabilidades emocionais. A unica forma de acabar com este tipo de comportamento está na educação de base e num sistema verdadeiramente transparente que aja com verticalidade e faça a justiça necessária para que outros pensem duas vezes antes de o praticar.
Quanto à educação ?
Desde a infancia, a educação desvaloriza: a inteligência emocional, a saude, o bem estar, a alimentação consciente, o respeito ao ambiente e ao corpo, e estimula a competitividade, a educação do ter associado ao poder, o culto do do corpo, da riqueza, do sucesso, da extrema valorização do consumo, de atingir o topo.
Uma equação fácil de fazer, a desvalorização de valores fundamentais em detrimento dos estimulos , propicia a criação de corruptos e assediadores, ao mesmo tempo produz muitos medos e vulnerabilidade nums, e em outros o desejo de ter e parecer.
Este desejo exacerbado de ter e parecer criou muita inversão de valores, e muitos cedem ao assédio e à corrupção encurtando caminho para chegar onde querem e fazerem parte do grupo dos socialmente valorizados e privilegiados e influentes. Uns não existem sem os outros um movimento que precisa ser interrompido..
Novos valores de raiz vão ser necessários implementar, para quebrar esta corrente. Mas é importante que os governos percebam que de nada vale implementar programas educativos de combate à corrupção e ao assédio sexual , quando os exemplos que vem de cima, continuam a revelar casos flagrantes.
Pouco vale tentar combater o assédio sexual enquanto continuarmos a ver os parlamentos maioritariamente compostos por homens, pois a entrada às mulheres na politica é blindada desde bem cedo. De nada vale combater o Assédio sexual enquanto tivermos políticos que usam do seu poder de forma errada, De pouco vale combater o assédio sexual enquanto continuarmos a fazer uma apologia ao sexo para conseguir vender qualquer porcaria.
É preciso criar espaço para denuncias, é preciso que se criem sançoes para corruptos, assediadores sexuais. Quanto aos concordantes Enquanto existirem os que cedem por opção, este movimento não vai terminar e é preciso saber distinguir as Vitimas dos Voluntários.
Para solucionar questões precisamos de olhar, para a frente , para o lado, para trás e muito para além do óbvio.
Está tudo conectado, está tudo muito bem ligado. Temos de mudar o ship e aprender a olhar para o mundo de forma sistémica. Dá muito trabalho, obriga a sair da nossa zona de conforto e a colocarmos-nos como parte do problema. Muitas pessoas resistem achando que ligar tudo é complicar. Eu contrariamente considero que o problema de todos os problemas é a forma simplista, individualizada e dividida com que fomos educados a olhar para tudo… Neste texto apenas abordo algumas das visões mas existem muitas mais para ligar a esta reflexão…
Visão global ou sistémica é a grande prioridade a ensinar nas escolas , um treino fundamental…Para Criar Pessoas conscientes das escolhas que fazem… e RESPONSAVEIS pelas ESCOLHAS que fazem!
Assédio, Corrupção são movimentos a interromper!
