A Luísa trabalha há três anos numa empresa do ramo imobiliário. Foi integrada numa equipa que está no TOP de vendas. Adora o que faz mas está a ser muito difícil lidar com a liderança do seu grupo.
“Quando cheguei tudo era diferente, a equipa cresceu muito em volume de negócio e o meu patrão parece enlouquecido em querer cada vez mais, está a tornar-se obcessivo a perder a noção do razoável e a mostrar ser uma verdadeira besta, ontem gritou comigo de uma maneira que eu nem queria acreditar que fosse possível alguém dirigir se assim a um elemento da equipa, fiquei lhe com uma raiva tão grande, que automaticamente perdi a motivação toda em vender… só penso em sair dali e de não recomendar a niguém esta imobiliária ”
Infelizmente esta é uma realidade muito comum. Os cargos de chefia são cargos que exigem grande maturidade emocional para que não existam comportamentos disfuncionais, associados ao crescimento, sucesso e à vontade de chegar mais longe. Na maioria dos casos essa maturidade não existe e rapidamente os valores inscritos de cooperação, espirito de equipa e respeito pelo outro são ultrapassados pela sede de poder e de gerar mais capital. O sucesso pode assim revelar-se um grande perigo para patrões em desequilíbrio.
Estar ligada ao meio artistico permitiu-me conhecer o mecanismo do sucesso em diversas velocidades. As alteraçoes comportamentais que o “sucesso” neste meio provoca, foram sempre para mim, assustadoramente visiveis e fácilmente detectáveis. A velocidade a que o sucesso chega, torna quase impossivel que exista uma capacidade de resposta ponderada, na maioria dos casos. E quem está de fora quase nunca consegue chamar à razão, pois o sucesso aqui é determinado pela aprovação, aplauso e seguidores que passam o dia a dizer que tudo o que a pessoa faz é espectacular, e ela convence-se que é assim mesmo. O sucesso no meio empresarial é determinado por factores diferenciados associados ao capital. A semelhança entre os dois é que quando um artista é arrogante, à semelhança do patrão, as pessoas passam do 8 ao 80, perdem a admiração por tudo o que faz, deixam de ter vontade de o seguir, alimentar o seu sucesso e de trabalhar com ele, tal como a Luisa manifestou: “já não tenho vontade de contribuir para o crescimento da empresa.”
O Poder e o sucesso podem ser disruptivos e fazer pior que melhor seja em que área for.
À Luisa, que confessa adorar o trabalho de venda de casas, propus:
– Que se focasse nesses clientes e observasse o seu trabalho para além do patrão, que aproveitasse a aprendizagem de cada experiência, pois fará parte da bagagem que leva para o próximo.
-Que observasse o comportamento do patrão como algo disfuncional de quem está a perder o foco.
-Que continue no seu trilho, e peça ao patrão que a contratou, há precisamente 3 anos, uma reunião . Nesse encontro lhe explique que não pode aceitar que ele a trate como a tratou. Explique se a empresa chegou onde chegou tambem se deve ao seu trabalho e dedicação e que ele só poderá continuar a crescer se mantiver essa energia, caso contrário as pessoas dentro da sua própria empresa vão começar a querer apenas o vencimento. Explique-lhe que esse comportamento está a desmotivar todos os seus colaboradores e que derepente vai precisar sempre de mais colaboradores, porque cada um apenas vai fazer o que tem de fazer para não ser chamado à atenção.
A esta proposta a Luisa respondeu-me:
“Perdida por cem, perdida por mil, se ele me escutar pode ser bom para todos, se não me quiser ouvir e me despedir é porque quer continuar nesse registo e nesse registo eu não quero trabalhar… sim vou tentar falar com ele… Sabe Ana, eu gosto daquela empresa como se fosse minha e eu sei que foi construida com amor… mete pena… sim vou acalmar e vou falar um destes dias!”
Não podemos mudar os outros, mas podemos mudar a forma como olhamos para os seus comportamentos.
No livro “As quatro verdades” de D.Miguel Ruiz, uma das aprendizagens para melhorar o nosso relacionamento com os outros é ” Não levar a Peito”.
O que quer dizer “Não levar a Peito” ?
Não Levar a Peito é perceber que aquele comportamento ainda que dirigido a nós, não nos pertence. O patrão da Luisa falou com ela da forma agressiva, não por algo que diga respeito à Luisa, mas sim a ele. É ele que está a alimentar, uma sede de poder e de ganho financeiro que o está a desequilibrar. Por isso embora o tom de voz fosse dirigido a ela, a energia tem a ver com as expectativas do patrão e com uma insanidade que lhe está latente. A Luisa dizia-me “é isso mesmo Ana, eu não estava a acreditar, parecia uma coisa absurda, ele parecia-me tão ridículo naquele esbracejar, não havia motivo… não há motivo para aquilo… claro que não posso levar a peito”!
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