Esta experiência de pandemia traz a grande questão da ansiedade…mesmo para os que não a sentiam. Nunca é demais falar sobre este tema.
É certo que existem muitos motivos para que a ansiedade se manifeste nas nossas vidas, diversos momentos traumaticos desde a gestação, à infancia, adolescência ou já em adultos. Existem igualmente diversas razões para que a ansiedade se manifeste mais forte em uns do que noutros.
Neste texto refiro-me à ansiedade gerada durante este ultimo ano, que intensificou processos antigos e iniciou outros. Um ano atipico para a humanidade e que obriga a uma revisão de conceitos e estratégias de vida.
Fomos socialmente educados a programar a nossa vida. Desde a infancia até à juventude há um percurso que nos leva a um caminho educativo. Tudo em prol da segurança e busca de uma vida estável e perfeitamente padronizada para a qual precisamos ter um emprego certo, controlo e segurança financeira. Este ultimo ano mostrou-nos regras de jogo diferentes, alem de desconhecermos os contornos, desconhecemos também a suas consequências.
Não é dificil perceber que a forma de estar no mundo mudou… E que o mundo está em mudança…
De momento é difícil e talvez cedo demais conseguir perceber o que mudou exactamente e igualmente dificil perceber qual o caminho a seguir! Na prática não conseguimos reconhecer o mundo em que vivemos com aquele em que vivíamos, mesmo que fisicamente tudo esteja igual. As alterações são invisíveis.
E é neste movimento de duvida e incerteza que a ansiedade pode crescer, mesmo naqueles que nunca a sentiram. Por não conseguir perceber se o que fazemos está certo ou errado, se vamos no caminho da evolução ou do retrocesso. É como estar num jogo de futebol, onde as balizas se movimentam autonomamente, comprometendo todas as nossas estratégias de jogo…
O modelo de educação desde há várias gerações tem um forte foco no controle excessivo como se existisse uma “equação” para levar a vida adiante, o que de alguma forma nos retirou capacidade de improvisar e contornar problemas. Estou certa de que estes modelo educativo enraizado em cada um de nós, contribui para a crescente ansiedade. Tornámo-nos INFLEXIVEIS e a vida agora pede-nos a flexibilidade que nunca exercitámos…
Sempre que oiço frases/posicionamentos como:
“nem pensar um homem que fume!”
“eu ou gosto ou não gosto!”,
“para mim ou é ou não é!”,
“basta olhar e vejo logo”,
“para mim tudo programado!”
“Eu nunca mais !”
Observo a inflexibilidade e penso sempre no que acontecerá se tudo sair ao contrário do previsto. Quanta ansiedade trará o inesperado? Qual a (in)capcidade de resposta ?
Estas posturas revelam inflexibilidade, é facto que precisamos de regras para levar a vida adiante,no entanto, é preciso perceber que quanto mais rigidos e intransigentes, mais ansiosos e menos operacioanais ficamos, quando tudo sai fora de controle.
E quando tudo sai fora de controle e somos inflexiveis por natureza, torna-se mais dificil encontrar sentido para os que nos acontece e retirar disso sabedoria.
E o que fazer quando somos de alguma forma inflexiveis e ansiosos ?
Reconhecer a nossa inflexibilidade é um bom principio. Ser inflexivel foi um modelo de sobrevivência para outros tempos, um modelo inadequado quando somos expostos a grandes mudanças.
Há que começar a flexibilizar a mente e os pensamentos. Quando nos conhecemos tornamos-nos esclarecidos e quando vencemos as “crenças” que nos limitam, tornamos-nos poderosos:
Um bom exercicio é dividir uma folha branca em duas colunas. Numa das colunas aponte todos os pensamentos que definem inflexibilidade, seja uma opinião, uma crença.. na outra coluna aponte a negação da sua crença, por exemplo tem uma crença: “era incapaz de namorar com um fumador” na coluna da negação coloque “talvez conseguisse namorar com um fumador, depende de muitas coisas”… (aponte as excepções)
Se identifica que a ansiedade é provocada por esta situação pandemica e por não saber para que lado se virar observe, talvez seja cedo demais para obter respostas, pois tudo está ainda em movimento.
Se tivessemos a capacidade para sobrevoar a realidade e observar o panorama, talvez fosse claro que estamos num momento de “não agir”, fazer apenas o que é possivel e ir observando até surgir o tempo certo para agir.
Nunca foi tão fácil de entender o principio da não acção do livro do Caminho e do bom caminhar de Lao Tse escrito hà milhares de anos …Tentar agir quando tudo está em transição é como começar a limpar o pó da casa enquanto as janelas ainda não foram colocadas.
NOTA IMPORTANTE: uso de máscara vs aumento da ansiedade
Uma observação que é importante ser levada em conta. Todas as pessoas que anteriormente já sofriam de ansiedade, não se podem esquecer que a oxigenação é fundamental e que o uso diário de máscara impede uma boa oxigenação , o que pode agravar a ansiedade já latente. Por isso se isto lhe faz sentido e sente que isso poderá ser uma agravante, lembre-se de fazer exercicios de respiração ao longo do dia, de forma segura perto de uma janela ou na rua faça diversas vezes algumas inspirações e expirações profundas. Exercite a sua respiração, várias vezes ao dia…
