Há uns dias, em virtude de uma Candidatura que apresentei para o Garantir Cultura, estive em reunião com um CEO especial. Um homem que admirava o facto das produtoras de artistas terem feito candidaturas para elevar os projectos culturais e artisticos, dizendo que não pensava que as produtoras tivessem um papel tão importante na criação de conteudos artisticos e na materialização dos projectos criativos dos artistas nacionais.
Dizia-me:
” É preciso ter uma grande dedicação a uma equipa e às pessoas que fazem parte dela, para se colocar numa candidatura desta natureza. Nem todos conseguem trabalhar para o sucesso do outro e investir tanto para ajudar a criar o que outros idealizam”
Não esperava uma apreciação destas de um homem que é frontman de uma grande empresa, no entanto a sua visão holistica e consciente sobre o posicionamento dos produtores de espectaculos e managers, revelou-se no episódio a seguir.
Já quase no final do encontro atendeu a chamada da sua assistente a quem deu indicação para que entrasse. A jovem entrou com uma caixa na mão que colocou de imediato na secretária.
-O que é isso , perguntou ?
-Veio do “cliente” que fechou o contrato T333, como jeito de agradecimento pelo encaminhamento de todo o processo.
-Novamente para mim ? -perguntou em jeito de “nunca mais aprendem”
-Sim sim , vem em seu nome!- disse com um sorriso, como se já soubesse o que ía acontecer a seguir.
Justificando a interrupção, disse-me:
-Sabe Ana, estas tecnicas caducas de marketing e agradecimento empresarial são uma grande charada. Falam em equipa, trabalho de equipa, que nada se consegue sem bons elementos , mas na altura dos agradecimentos não há um unico cliente que agradeça a quem tem de agradecer! Vem sempre tudo em nome da ESTRELA da empresa, como se todos os louros fossem meus… Isto para mim é um mau marketing , um cliente meu que não reconhece o valor dos meus colaboradores é alguem que não reconhece o valor dos seus …É uma das coisas pelas quais luto e muito dificil de alterar… Se eu não estiver consciente da injustiça destes gestos dou-lhes continuidade e vou ferir a susceptibilidade dos meus colaboradores. Acabariam por aceitar isto como sendo o certo, mas com o tempo vem a desmotivação e o sentido de injustiça … Receber e usufruir de um presente que foi conquistado por outro é para mim inconcebível…
Dirigiu-se para a assistente:
-Chame por favor Hugo, o comercial que fechou este contrato.
O Jovem entrou na sala com ar descontraído, o CEO apontou para a mesa e o Hugo meio a sorrir perguntou:
-O meu presente chegou ?
Os dois começaram a rir, pelos vistos era prática comum da casa o CEO dar o SEU A SEU DONO…
E rematou:
” No dia em que todos entenderem PROFUNDAMENTE o que é um trabalho de equipa, deixam de existir os agradecimentos às pessoas erradas”
Como interpreta isso ?
-É a politica do lambe botas, que ampliam os egos de gestores e diminuem a importancia das equipas. Preciso estar atento, para que o que vem de fora não desiquilibre o meu sistema, alimentando o meu ego e retirando valor aos meus colaboradores .
O que faz para mudar?
-Quando um cliente faz um mau trabalho de “marketing” ou “me agradece” por algo que eu não fiz , tenho a obrigação de o rectificar antes que embata nos meus colaboradores. Informo sempre o cliente que o presente foi entregue ao seu merecedor.
Não é justo receber um presente por um negócio que outro fechou para mim…é assim que entendo, eu receberei os lucros maiores do negocio, para mim é o que basta!
