Já não preciso que gostes de mim!

Falamos quase diariamente de auto estima… o INSTRAGAM poderia chamar-se SELFLOVEGRAM postamos diariamente fotos ao serviço da auto estima, inventam-se cenários e enganam-se seguidores, fazem-se programas e viagens em prol de futuros posts e tudo ao serviço da nossa auto estima… uma busca incessante para que gostem de nós… Os porquês são muitos, regra geral porque em alguma fase das nossas vidas, algo se passou e não conseguimos que alguém muito importante, gostasse de nós… e nós também não!

A Ana chegou com a história da irmã mais velha:

” Ela nunca gostou de mim, desde pequena gozava com as minhas pernas de alicate, ridicularizava-me ao pé de toda a gente, eu nunca lhe fiz mal nenhum… passei a minha infância e a minha adolescência a tentar conquistá-la, aceitei tudo o que ela me fazia , em prol de a conquistar, mas nunca consegui que ela gostasse de mim !”

Este tipo de histórias são comuns, entre irmãos, entre amigos e até entre pais e filhos. Pedi à Ana que me falasse um pouco mais desta relação com a irmã mais velha:

“sei muito pouco da infância dela antes de mim, mas sei que este não gostar de mim foi quase desde que eu nasci. A minha mae contava que quando eu tinha seis meses ela quase me sufocou nas grades da cama e que tinha eu dois anos tive uma queda muito grande, que só mais tarde ela confessou que tinha sido ela (dizia sem querer)… no grupos de crianças fazia tudo para me deixar à parte, nunca me protegia, eu ficava sempre de fora das brincadeiras dela, ameaçava as minhas amigas…para que não quisessem ir lá a casa”

Perante este relato convidei a Ana a pensar comigo:

-Que idade tinha a sua irmã quando a tentou sofocar ?

-Temos 3 anos de diferença…

-Que motivos um bébé de seis meses poderia dar a um irmão para esse comportamento ?

-provocados por um bebé de seis meses ? Nenhum claro!

-Ok, Agora vamos olhar para a sua irmã: Porque quereria uma criança de 3 anos ou de 5 anos acabar com a vida da irmã ?

-Não faço ideia… mas a raiva dela por mim foi por muitos anos e trouxe me muita angustia…

Quando sabemos que nada fizemos para que não gostem de nós, torna-se dificil gerir, pior para uma criança. Crescer num estado de desamor sem perceber o porquê é de uma violência extrema. E isto pode deixar marcas para a vida, no seu amor próprio e na forma como se vê na sociedade, aceitando relações abusivas, tentando conquistar e agradar, todos com medo que não gostem dela, acreditando que qualquer um pode simplesmente tratá-la mal só porque sim. Nascem assim inseguranças atrás de inseguranças que pode comprometer o Corpo, a Alma e a mente e o seu percurso.

É normal existirem discussões entre irmãos, mas o comportamento da irmã, relatado por a Ana é um comportamento obcessivo, talvez associado a um evento traumático que deixou marcas doentias. Por isso senti ser importante trocar de lentes e mudar de lado.

-E se você não tiver nada a ver com isso ? – perguntei

-Como assim ?

Convidei a Ana a observar a irmã com três e cinco anos, os primeiros sinais, de a querer tirar do seu caminho.

-O que levaria uma criança de na primeira infancia, querer fazer mal à irmã ? – perguntei

-Pode ser kármico ? -respondeu

-Hummm, poderia até ser , mas temos de nos focar naquilo que é observável, e mesmo que fosse Kármico, como diz, algo teve de suceder aqui neste tempo e realidade ,para fazer disparar esse comportamento. Essa criança , a sua irmã mais velha, sofreu algo traumático quando você nasceu, algo que ela ligou ao seu nascimento e presença. Como ela era muito pequena não tem memória “declarada” narrativa desse momento, mas sente-o internamente ao nivel das sensações e esse é um sentimento visceral , que ela simplesmente sente e vai atrás, cresceu com ela, sem que o saiba explicar reage ao que sente, acredito que ela não tem uma explicação para essa raiva. Você nunca lhe fez mal durante a juventude?

-Não, nunca lhe fiz mal, fiz sempre tudo para ela gostar de mim!

– É obvio que a raiva que tem é por SI mas não vem de SI , mas a algo que lhe aconteceu quando você nasceu e que a criança dela a responsabilizou por isso… Cada acto contra si é uma forma de sentir que está a resolver esse sofrimento… Poderíamos perguntar a essa criança :”O que é que tu perdes-te quando eu nasci , de que forma te posso ajudar ?”

Parece a historia do anti-herói… só que aqui a Ana não se sente uma heroina. Como se sente ao olhar para a situação assim ?

-Traz-me algum alivio, mas também muita tristeza… parece que vivi sempre em culpa por ter nascido… tive sempre medo de ser melhor que ela, de ganhar algo…na verdade sempre que ganhava alguma coisa ela fazia questão em me desvalorizar…e eu também, sempre acreditei nessa desvalorização. Nunca achei que algo que fizesse fosse mais que a minha obrigação … Não acredito quando me dizem que sou bonita, acho impossível que alguém goste realmente de mim…gostava tanto de arrancar isto de mim…

-Hoje passados tanto anos, Ainda precisa que ela goste de si ?

-Sinto que não posso fazer nada…

-Provavelmente não pode fazer mesmo nada, algo se passou em paralelo com o seu nascimento que foi traumático para ela. Imagine que no dia que você nasceu ela teve um grande pesadelo e a sua mãe não estava lá ? Ou fez chichi na cama e a sua avó ralhou com ela e bateu-lhe ? Ou um bicho lhe mordeu ela entrou em panico, o pai e mãe estavam na maternidade e ela sentiu-se abandonada ? De quem foi a culpa na cabeça dela para o abandono e rejeição ? dois dos sentimentos mais traumáticos para uma criança.

-Minha !

-Que sentimentos ela sempre a quis fazer sentir ?

-Abandono e rejeiçao ! Sim faz sentido que ela me queira fazer sentir o mesmo que sentiu… é sempre assim…

-Então concorda que a criança dela não percebeu nada do que se passou, e como o seu nascimento coincidiu com algo que ela perdeu, ela culpou-a e quis vingar-se em si ?

-Sim parece que foi isso que aconteceu desde sempre…uma vingança que cresceu e ganhou dimensões até à adolescência.

-Se pudesse dizer alguma coisa à sua irmã enquanto criança, adolescente, jovem o que diria ?

-Eu sei que não tenho nada a ver com a tua raiva, e agradeço-te por me teres tratado mal desde tão pequena porque foi graças a isso que se tornou claro que não tive nada a ver com isso. Agora Sei que nasci num momento difícil para ti e tu me usaste como culpada. Eu assumi essa culpa durante “muitos” anos. Não quis ter sucesso para não te zangares, não quis ser melhor para não te enraivecer, nem que olhassem para mim porque a mais bonita eras tu … travei muito dos meus processos por não me achar merecedora. Que grande disparate que a minha criança significou, se a tua entendeu mal ao culpar me, a minha não fez muito melhor e fez me acreditar que a culpa era minha … Sabes eu gosto muito de ti… Mas decidi que nada mais posso fazer… Na realidade, já não é preciso que gostes de mim… e tu também não precisas de gostar… sei que sofres, sei que também não sabes o porquê desse sofrimento… talvez um dia acredites nestas coisas e percebas que: “Quem olha para fora sonha , quem olha para dentro desperta!”

Que assim seja !

http://www.orientacaosistemica.pt

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