Precisamos gostar de nós… Mas antes precisamos de tomar consciência de quem somos e porque somos desta ou daquela forma. Por muito que nos digam que temos de gostar de nós , existem apegos “ao não gostar” que nem sempre conseguimos perceber que temos e muito menos onde os guardámos.
Há uns dias após uma sessão, decidi sentar-me na “poltrona” do cliente , numa espécie de auto hipnose, chamei ao meu gabinete algumas das minhas versões.
Eu explico:
Nos exercícios de auto hipnose, criamos um cenário e coloca-mos nos “em cena” com quem quisermos, até com nós mesmos. Eu convoquei uma reunião com diversas versões da minha Ana Teresa : aos 6 meses, 1 , 2, 5 , 8, 11 e 14 anos tive que pedir às mais velhas que dessem a mão às mais pequenas ou que as pegassem ao colo…
A reunião com as minhas pequenas Teresas, tinha na ordem de trabalhos, colocar um ponto final em algumas inquietações guardadas por cada uma delas; sentimentos de abandono, rejeição, aprovação, não merecimento, medo, tristeza. Todos estes sentimentos e emoções, identificados por mim ao longo de muitos anos de investigação.
Identificar os momentos e sentimentos associados é muito importante, pois é através da reconstruçao do ambiente e da sua envolvência, que muitas vezes percebemos que a interpretação que demos a algo foi redutora.
A nossa criança é um perigo, porque entende tudo na dimensão do que conhece e … conhece nada … no entanto está comprovado, que grande parte das nossas forças, crenças, vulnerabilidades e bloqueios são fruto da interpretaçao de um ser entre os zero e os oito anos, sem experiência nenhuma para entender seja o que for.
Quem se relaciona com crianças e tem filhos, conhece as suas habilidades em decifrar o mundo, embora as crianças sejam credíveis, não é isso que está em questão, a experiência mostra que na maioria das vezes crescemos emocionalmente condicionados por interpretações da primeira infância pouco fundamentadas, percepcionadas dentro dos limites do seu entendimento e reacções de sobrevivência emocional.
Não quero com isto dizer que a nossa criança não sabe o que sente, não só sente como reage. E esta abordagem também não tem a ver com falar verdade ou mentira ou duvidar de eventos traumáticos. Claro que existem situações traumáticas que comprometem o desenvolvimento ao longo da vida.
No entanto em situações ditas normais e emocionalmente funcionais , em que não existem traumas de violência domestica, abusos sexuais, maus tratos, bullying familiar, acidentes inesperados, mortes abruptas, a forma como a nossa criança interpreta o que lhe acontece é deturpado da realidade, porque a criança não tem uma visão global, histórica, sistémica. E isso por vezes leva-a construir crenças sobre si mesma auto- destrutivas.
Voltando à minha reunião:
Nos exercícios da criança interior, é protocolar que devemos agradecer à criança e simplesmente ressignificar, mas decidi fazer diferente e o meu diálogo com as diversas versões da minha pequena e jovem Teresa, foi assim:
” Já falei individualmente com cada uma de vós e hoje venho pedir-vos que deixem ir tudo, venho convidar-vos a brincar, a rir, a dançar livres de qualquer receio, na realidade já não há nada a temer, pois a única coisa que podemos recear é de não gostar de nós. Quando te conquistas a ti mesma, percebes que vives-te exactamente o que tinhas de ter vivido e nesse momento deixas ir tudo o que te gerou medo e insegurança de não ser boa suficiente. Lembra-te sempre que aquela que te tratou mal, tinha um problema e se calhar ainda hoje tem, não existe mal nenhum contigo, nunca existiu. Não sei o que cada uma quer fazer, mas por mim podem simplesmente aproveitar uma nova infância dentro de mim, com muita luz e paz … Claro que vos agradeço os bloqueios e as limitações, provavelmente precisava mesmo deles, se estiveram aqui até agora foi por que me serviram , mas neste momento largo tudo. E desejo que cada uma tome o seu lugar no campo a que pertence e o transforme em luz e proteção… Terminamos num circulo onde cada versão da minha Teresa disse à outra EU AMO ME E ACEITO ME EXACTAMENTE COMO SOU!”
Gostarmos de nós é o ponto de viragem para estar de bem com o mundo…
Este tipo de abordagem de autoconhecimento é altamente integrativa… porque a partir do momento que estamos bem connosco o mundo muda, nada nos afeta mais do que deve …
Quando alguém se apresenta muito critico , julgador sobre o outro, com muitas certezas sobre tudo, sei que temos um longo trabalho a fazer, pois tudo o que pensa de si está projectado nos outros:
-Se as pessoas te irritam é porque vives irritado contigo
-Se não aceitas criticas é por não suportar ter ainda mais defeitos que os que já te colocas diáriamente.
-Se és arrogante com o outro és contigo
E assim seguem os nossos espelhos …socioemocionais
É exactamente para criar gerações emocionalmente mais fortes que é imperativo que a educação comece a valorizar a inteligência emocional e a visão sistemica da vida.
Conversas com as versões : http://www.oreintacaosistemica.pt