Querer “muito” mais do que se dá… é criar desequilíbrio
O Carlos chegou com uma angustia enorme:
” A minha mulher com quem estou à 20 anos disse-me numa conversa profunda que, não foi comigo que mais se entregou sexualmente…isso magoou-me profundamente e não sei o que sentir!”
Existem revelações que criam grandes embates, mas que quando observadas com outras lentes, até podem fazer sentido.
Sobre o inicio e desenvolvimento da relação o Carlos relatou:
“Bem a nossa relação não começou muito bem, eu era um jovem com 24 anos e com alguns maus hábitos. Quando conheci a Laura, ela tinha saído de um casamento e eu era namoradeiro. Tinha um grupo de amigos, com quem partilhava algumas saídas e era tudo uma grande maluqueira… Reconheço que tratava um pouco mal as minhas namoradas, dava-me muito pouco e com a Laura ao principio não foi diferente! “
E depois dessa primeira fase ?
Depois disso quando “eu escolhi” ficar com ela, demorou tempo mas acalmei, deixei de beber e de sair e a relação foi andando.
Alguma vez traiu a sua companheira ?
-Sim traí, ela descobriu duas vezes. Mas nunca pensei em largá-la. Simplesmente aconteceu, estava fora de casa e aconteceu.
Estar fora de casa é motivo para isso acontecer ?
-Eu trabalho algumas temporadas fora do país e pronto, aconteceu !
É normal para si ?
-Neste caso, posso dizer que sim !
A sua mulher ao ficar sozinha, também tem casos com outros homens ?
-Não , nunca teve, eu não aguentaria uma coisa dessas, aliás não conseguiria viver com alguém em quem não confiasse… nem me conseguiria entregar a uma pessoa assim.
Só para nos situarmos, o Carlos recebe confiança mas não dá na mesma medida, concorda com esta análise ?
-Posto assim , sim !
Ainda que a Laura consiga aceitar as suas traições, ainda que tenha mantido uma relação consigo, mesmo com todo o seu distanciamento, é-lhe difícil perceber que nunca se tenha entregue a si totalmente ?
Gostava de acreditar que eu era especial …!
Ela é especial para si ?
-Claro que sim!
Ela sente-se especial ?
-Pois…. não sei
Alguma vez se questionou se a fez sentir-se única ou apenas a mulher ideal para si?
-Ela diz que foi a mulher ideal para mim… e eu concordo, porque me permitiu fazer tudo o que eu quis e evoluir profissionalmente, tomou conta do meu sonho de ter uma familia, foi ela que tornou esse sonho realidade…. Na minha ausência tratou sempre da nossa estrutura e dos filhos… Nunca me preocupei com questões logísticas, bancos, finanças, compras…mas sempre dei todo o dinheiro para casa !
A sua mulher não trabalha é isso ?
-Trabalha sim, tem uma empresa e alem disso nunca parou de estudar! Sempre foi independente, acho que os dois criamos uma boa vida. Mas eu sinto que sou o homem ideal.
Você sente que para ela é o homem ideal ?
-Sim sinto um pouco isso e embora ela seja a ideal , já lhe disse que não é a única talvez tenha sido injusto !
Lancei algumas questões ao Carlos:
Acha possível que a Laura nunca tenha sentido ser única na sua vida e por isso nunca se tenha entregue como o Carlos idealizava ?
Já disse que não suportaria uma traição ou alguém que olhasse para outros homens. Já alguma vez avaliou a PAZ que traz à sua vida, saber que a sua mulher não olha para mais ninguém com desejo , ainda que só carnal ?
Já alguma vez observou que talvez a sua vida profissional lhe corra de feição porque do lado dela não existe nada que o preocupe ou ocupe, quando está fora ?
Tem ideia do que isso vale ?
Sei que o Carlos, inicialmente, não gostou muito do tom das minhas perguntas, mas a minha intenção é trazer luz à sua angustia. E continuei;
A lei do dar e receber tem de ser perfeita, só recebemos 100 se entregarmos 100.
“Numa escala de 0 a 100, quanto se entregou nos primeiros cinco anos ? e nos segundos ? e nos terceiros ? E nos últimos cinco ?”
-Matemáticamente a coisa torna-se mais fácil – e continuou- nos primeiros 10%, segundos 25%, terceiros 22% , e nos ultimos 80% !
Sabe fazer médias ?
-Sei sim , dá 34% de entrega !
Acha que a média da Laura é superior à sua ?
-Com toda a certeza a percentagem dela é muito superior, ela sempre se dedicou mais à relação que eu, desde o inicio, nesse sentido, ainda estou em divida!
Parece que a Laura sabe fazer contas e ainda bem que tinha outras medidas. Pois quando damos muito mais do que recebemos acabamos por condenar as relações.
-Não percebo!?
Quando um dos companheiros dá demais , o outro fica com uma divida enorme e isso cria grandes disparidades entre ambos, geram-se sentimentos de divida, de inferioridade, de impotência. Quando apostamos numa relação e se a quisermos manter, há uma altura em que precisamos de fazer uma avaliação à balança do DAR e RECEBER e perceber se temos de fazer cortes, ou acrescentar valor… só o AMOR não resolve tudo.
Face a isto, talvez faça sentido a Laura dizer-lhe que “percentualmente” se entregou mais sexualmente a outro homem que a si. Pois bastou estar com um homem uma só vez que lhe tenha dado 100% , para que ela tenha retribuído com 100%. Não é melhor nem pior , não faz de si menos. Mas matematicamente a entrega é superior!
-As coisas vistas assim… fazem sentido!
E a sua angustia ?
– Neste momento a minha angustia é comigo, por não saber dar-lhe mais! Mas ainda bem que antes de mim alguém soube!
Falamos de partilha equilibrada.
E uma partilha equilibrada, traz equilibrio às relações! Só assim se criam relações duradouras e justas para ambos!
