Sou produtora há trinta anos.
Muitos dos que me conhecem, ouviram muitas vezes admirar a versatilidade cultural que encontrava no “publico” espanhol. Entre final dos anos 80 e até 1998 acompanhei grupos de musica “tradicional portuguesa” ,agora World Music, a diversos festivais na Galiza.
Fascinava-me observar o publico Juvenil que á tarde estava nos encontros de gaiteiros e pandereteiros, à noite nos festivais de musica celta e de madrugada a dançar ao som do recente “Techno”.
Este fascínio contrastava com a decepção que sentia em Portugal: A invasão da “musica Pimba” no inicio dos anos 90, segregava todos os espectáculos, programas de televisão e parecia não existir espaço para mais nada.
Não fui ao Rock in Rio. Mas segunda feira sentei-me em frente à televisão, com os meus filhos, para cuscar o que se passou e conhecer alguns dos fenómenos que por aí andam. Sobre os antigos já conheço as linhas com que se cosem, preferi observar os novos e este texto é sobre os fenómenos: Anitta e Post Malone. Estilos totalmente diferentes, complexidades cénicas distintas, estímulos e energias opostas.
O que mais me fascina na produção artistica é a capacidade de gerar emoções. Outros preferem os lucros de bilheteira, ou apenas a massa humana e a conquista de patrocinadores. Eu SEI que o publico procura emoções e por isso para mim produção é emoção e é isso que observo.
Independentemente de ser bom ou mau, gostei de assistir à mudança, evolução ou abertura mental do novo publico português, fez-me lembrar os galegos que eu tanto admirava. Eu não tenho de ser só Anitta para a dançar ou cantar, eu posso ouvir tudo sem que isso interfira na minha capacidade para ouvir e sentir outras coisas.
Foi muito bom observar o quanto o publico saltou de um palco em frenesim de cor, sedução, estimulo movimento e expressão sexual, mas vazio de conteúdo, para um palco vazio de pessoas, de cor, sem sedução ou movimento sexual mas cheio de verdade, amor, admiração e autenticidade .
Sobre Post Malone, poderia falar muito sobre a falta de presença de músicos, de ter um espectáculo em playback instrumental, de “auto-tune”, mas isso pouco importa quando vemos um HOMEM de calça preta, T-shirt e Tenis Allstar, encher um palco com 104 metros de comprimento e observar as expressões faciais de satisfação, perceber o impacto emocional das suas musicas nos nossos jovens como se estivesse cada um deles face to face com ele.
Ao observar a transição de um conteúdo para o outro, sabendo que há evidentemente alguma rotação de publico, mas também sabendo que muitos não sairam do lugar, respiro fundo, tenho esperança e acredito que as novas gerações tem uma forma diferente de consumir espectaculos, são mais abertos, menos preconceituosos, não se deixam encapsular numa só coisa. A Anitta não lhes retira nenhum pedaço, nem corrompe a sua capacidade de absorver algo maior e isso é muito bom e determinante para o futuro da qualidade artistica em Portugal e no mundo.
Talvez , após um fosso de alguns anos, estejamos a assistir ao surgir de novos monstros da composição, confirmando e afirmando novamente que a “Simplicidade é o ultimo grau da sofisticação”
Para o futuro, só ficam os que criam raizes no coração de cada um…
Grata Anitta, Grata Post Malone!
