“Não vais ser ninguém!”
“O Que é que vai ser do teu futuro ?!”
“Eu quero que seja feliz…mas!”
“Tem dezassete anos tem de se preparar para a vida!”
“Se não for para a universidade , nunca vai ser bem remunerado”
“Se não fosse(m) ele(s) teria uma vida descansada”
Estas são algumas frases de pais em desespero quando os filhos não cumprem com as suas expectativas..
Dinâmicas familiares, levam pais e filhos a chegar em ansiedade, sofrimento e muita frustração por não corresponderem às expectativas de uns e de outros.
O Fim do ano lectivo, mais concretamente o fim do secundário, intensifica estas dinâmicas e multiplica os lamentos.
Os pais querem sempre o melhor para os filhos, acham que sabem, mas na realidade não sabem o que é melhor. Tentam criar um cenário, aquele que lhes faz mais sentido, dentro do que conhecem, como se conhecessem o futuro e pudessem controlar os seus destinos.
Quando pais exaustos, desesperados surgem com algumas das expressões que mencionei no inicio deste texto, faço perguntas e lanço caminhos de reflexão:
Frase 1: ” não vais ser ninguém!”
Reflexão: É preciso definir o que é ser alguém ?
Há uns anos o meu filho adolescente, perante a professora de matemática , que “berrava” diariamente que eles não iam ser ninguém, devido aos maus resultados, perguntou-lhe: “Professora o que é para si ser alguém ? Será por acaso estar há 25 anos na mesma escola a dar aulas de matemática ? ”
Outro Jovem, sobre a mãe lhe dizer repetidamente que só iria servir para caixa de hipermercado, ou varredor de ruas, desabafava: “E se não existirem varredores de rua ? E pessoas na caixa do Pingo doce ? quem limpa a rua ? E quem atende nos supermercados ? E se eu for feliz a fazer uma coisa qualquer e se não quiser fazer do meu trabalho a razão da minha vida ? Eu não tenho de querer ter o que tu queres… ainda assim, serei sempre alguém! “
Frase 2: ” O que vai ser do teu futuro ?”
Porventura algum de nós tem mão no futuro ?
E a que futuro os pais se referem ? A vida está em constante mudança e vivemos numa era completamente nova, ninguém sabe o que virá a seguir, 2020 mostrou-nos isso.
Sejamos práticos: Nenhum de nós sabia aos 18 anos como seria o futuro, que bom que foi errar e chumbar, não saber o que seguir, perceber que escolheu o curso errado, escolher os namorados/as errados.
O futuro é fruto das nossas escolhas, nem sempre estamos na melhor forma no presente e muitas vezes errar é tudo o que precisamos para encontrar o caminho.
Quando pressionamos ou tentamos fazer as escolhas pelos nossos filhos apenas adiamos a sua aprendizagem e não duvidemos que eles vão precisar de passar por ela mais adiante.
Frase 3: “Eu quero é que ele/ela seja feliz”
Não é bem assim… quando falo com alguns jovens percebo que muitas vezes a felicidade deles é a infelicidade dos pais e a felicidade dos pais motivo de pressão e de infelicidade dos filhos.
Joana : “Eu estou feliz assim, faltei às aulas porque não me apetecia estar ali, estava desconfortável, não fiz mal a ninguém, não incomodei os meus colegas, simplesmente não me fez sentido, fui mais feliz fora dali, aquela pressão estava a fazer mal… foi o que me fez sentido, não quer dizer que não melhore para o ano”
Carolina ” Se sou feliz na escola ? Não não sou, esforço me para ser boa aluna, não me identifico com o espirito de competição de alguns colegas, nem com a forma como os professores despejam matéria … vivo em ansiedade com os testes… Não, a escola não é um lugar feliz…”
Mariana: ” Desde a separação dos meus pais, deixei de saber estudar, não sei porquê… mas qualquer coisa ficou em mim que não sei explicar, como se eu tivesse deixado de ser capaz… a melhor coisa que a escola me trouxe foi a minha namorada e os amigos”
Luis: ” fui para arquitectura pensando que era mesmo o que queria, passados dois anos percebi que a minha escolha tinha sido motivada por um sonho do meu pai, não que ele me impingisse, foi tudo muito subtil, eu queria faze-lo feliz mesmo sem saber… mas não consegui continuar e tive de voltar atrás para encontrar o meu caminho, não foi tempo perdido, não foi dinheiro mal gasto, foi uma grande aprendizagem”
A minha filha andou sempre em colégio privado e no fim do 9ºAno decidiu mudar para a escola publica, acedi à sua decisão. Percebi que queria mudar de ambiente social. Uma semana antes do inicio da aulas começou a ficar nervosa, ansiosa, impaciente. Nessa altura e para que tomasse as rédeas da situação relembrei-a da responsabilidade na decisão de mudar. A superação do medo foi imediata, pois estava perante a sua escolha.
Os nossos filhos não são felizes porque nós queremos que eles sejam felizes… Precisamos aceitar esta dura realidade. Deixa-los errar é fundamental, desde que estejamos atentos para re-orientar.
Controlar a felicidade dos filhos é impossível.
Alguns episódios da vida familiar (divórcios, traições, zangas, mortes, falências) tem um impacto na vida dos filhos que desconhecemos. Assumem culpa e responsabilidades, que não lhes pertencem. Mais do que querer a felicidade dos filhos, deveríamos estar preparados para perceber as dinâmicas emocionais, a forma como interpretam os acontecimentos e o valor que lhes dão. Ensina-los a posicionar-se no lugar de filhos e apenas assumir a responsabilidade sobre as suas escolhas. Todas são caminho de auto-conhecimento em direcção a dias mais felizes…Hoje aqui e agora, ensine-o a ser feliz com todas as escolhas que fez, mesmo com as menos certas, mas não menos produtivas.
Frase 4: “ Tem dezassete anos, tem de saber o que a vida custa, tem de se preparar para a vida, vai trabalhar para aprender !”
Há quanto anos estamos a prepara-los para a vida ?
Ou estaremos também, como pais num sistema educativo em ruptura e descoordenado da nova realidade ?
Falamos que os novos 40 são os antigos 30. Não existirá também algum desfasamento entre os antigos 18 e os novos 18 anos. De que forma estamos a olhar para os jovens agora com 18 anos que passaram a adolescência sentados em cadeiras de secretárias a jogar video-jogos e a sair à noite ? (com a nossa permissão claro!!!!)
Alguns pais entendem que um jovem com 18 anos por ter maioridade tem de ir trabalhar, no entanto durante todo o seu crescimento não lhe atribuiu tarefas e responsabilidades. A Maria chegou frustrada :
” A Minha mãe fez pressão para eu ir trabalhar e achei que era capaz, eram oito horas por dia numa banca de feira, mas ao quarto dia fui dispensada, tinha dores enormes nas costas, errei em duas contas e parti duas peças da loja, agora sinto que ainda a vou desiludir mais, sinto uma frustração enorme”
Pois é a Maria não estava preparada para trabalhar, muito menos com uma carga laboral de um adulto. Na realidade nem a mente nem corpo estão habituados a um foco constante numa tarefa. Confessou que em casa nunca fez nada e nunca teve de gerir os seus gastos. Obviamente não está preparada para o mercado de trabalho, mas a mãe achou que ela deveria saber o que é a vida, porque também ela começou a trabalhar cedo. Apenas se esqueceu que o seu percurso foi diferente do da filha e que as ferramentas que os pais lhe deram são bem diferentes, das que ela deu à filha.”
Tenho percebido que muitos pais educam os filhos como se o trabalho fosse um castigo, como algo que acontece a quem não se porta bem e isso sim, não é uma boa referência. Um jovem que é ameaçado com o trabalho, terá sempre uma relação pouco saudável com o lado profissional, não admira pois que existam maus profissionais e pessoas que fazem tudo para fazer pouco.
Não nos podemos esquecer que as novas gerações tem uma dinâmica de vida diferente das gerações anteriores. Pensemos que só o facto de a escolaridade obrigatória estar no 12º ano, atrasa essa “entrada na vida” em três anos face às gerações anteriores.
Depois há grande evolução tecnológica e digital que abre um leque de novas visões e possibilidades, que não existiam há 20 anos atrás.
Somos pais dos filhos de agora, não sabemos quem serão, nem as oportunidades e desafios que a vida lhes vai trazer, estamos NUM MUNDO novo em grande transformação e isso é tudo o que devemos saber para os poder ajudar e orientar a encontrar oportunidades.
Prepará-los para a vida num mundo que já não existe, revela o desespero Parental, com sérios riscos de os FRUSTRAR e retirar a oportunidade de encontrar o seu próprio trilho.
Prepará-los para a vida é PREPARA-LOS PARA O NOVO e respeitar o ritmo e o tempo deles.
Frase 5: “Se não for para a universidade nunca vai ter bons ordenados “
Cada um fala por si ! Eu não posso estar mais, em desacordo com esta frase. E espelha a razão porque muitos jovens seguem o caminho universitário sem grande motivação. O dinheiro, não deveria ser a motivação para seguir um caminho universitário. Sou uma defensora da ida para a universidade, como forma de aquisição de conhecimento especializado, de novas competências individuais assim como de uma rampa para novas matérias, mas não em busca de mais dinheiro ou status.
Existem no mercado de trabalho profissões extremamente bem remuneradas sem titulo académico, existem pessoas sem formação academica com grande capacidade de empreender e com visões únicas sobre novas oportunidades.
Ao longo dos anos neste meu percurso académico que não pára, percebi a grande utilidade de ter um curso universitário, como um passaporte vitalicio de acesso a outros cursos universitários e outras áreas ao longo da vida .
Percebi também que muitas pessoas só procuraram especialização posteriormente a terem descoberto a sua paixão profissional, motivadas em certificar conhecimento e aceder a novas matérias.
Alimentar nos jovens a crença de que a universidade se traduz em dinheiro é redutor sobre o papel do percurso académico nas nossas vidas. O caminho universitário não é nem nunca foi sinónimo de prosperidade financeira mas sim de abertura de possibilidades para o resto da vida, um outro tipo de prosperidade e de riqueza inquantificável. Um curso é algo que é nosso para sempre, a busca de conhecimento é algo que não se traduz em dinheiro no entanto enriquece-nos.
Sobre as nossas limitações como pais:
Às vezes fazemos um plano perfeito, para os filhos, à nossa imagem obviamente. E ao faze-lo perdemos a oportunidade de os VER , ler , observar , e escutar a sua verdadeira essência, valência e talentos naturais…
Frase 6: ” Se não fossem eles teria uma vida descansada!”
Os pais devem colocar-se na posição de pais e educadores e não na posição de vítimas. Antes de mais foram eles que decidiram ter os filhos. A partir daí muito está dito.
Ouvi muitas vezes a minha mãe dizer que se não tivesse tantos filhos teria tido uma vida luxuosa. Dizia constantemente a tudo o que eu fazia “não ser mais do que a minha obrigação”. Às vezes sentia-me culpada e evitava o mais possível pedir-lhe o que quer que fosse. E esta crença ficou tão enraizada em mim, que sempre que ía almoçar com eles, em adulta , fazia questão de ser eu a pagar algumas vezes. Sempre vivi em grande tensão para não pesar a ninguém e mesmo assim, senti me também sempre em divida
O Guilherme chegou com uma questão: ” tenho uma angustia permanente, acho que a minha namorada vai acabar comigo, parece que estou sempre preparado para o pior. Ela não percebe e eu também não, porque lhe estou sempre a pedir desculpa e sinto que isso está a fazer mal à nossa relação, sinto sempre que posso estar a incomodar!”
Há uma clara falta de confiança no Guilherme. Após fazer o exercício das crenças saltou -lhe a frase “tu és o motivo de todas as minhas angustias” sempre que algo corria menos bem esta era uma das frases que ouvia da mãe. “Se não fosses tu a minha vida era fantástica” foi assim que o Guilherme interpretou sobre o efeito da sua presença na vida dos outros.
Decidimos ter filhos e amamo-los acima de tudo… Não estamos preparados para os desafios que nos trazem e regra geral reagimos em desespero. São muitos os pais que me dizem ” digo coisas ao meu filho que o meu pai/mãe me dizia…sei o quanto me magoava, mas não sei fazer diferente”…
É urgente aprender a fazer diferente, o que dizemos aos nossos filhos em “REPEAT” torna-se uma verdade ou um crença que vai ecoar nas suas mentes e nos seus corações por muito tempo … Crenças que acabam por os limitar e deixar confusos sobre os caminhos a seguir, crenças que criam raízes fortes e duradouras…
Podemos dizer coisas da boca para fora, mas precisamos de as corrigir tão rápido quanto possível e em tempo util, dizer-lhes : “Eu queria ajudar-te mas nem sempre disse as palavras certas… nem sempre o fiz da melhor maneira, claro que não és o motivo das minhas preocupações, mas sim o motivo da minha ocupação, claro que vais ser alguém, SOMOS sempre ALGUEM, Claro que gosto mais da minha vida contigo do que sem TI , Claro que o medo que não ganhes muito, o medo que não valorizes o trabalho são medos meus.
É preciso “DESDIZER” o que se diz sob tensão nos momentos de discussão, é preciso Certificar os nossos filhos com o nosso AMOR INCONDICIONAL , não podemos permitir que crenças bloqueadoras se instalem nas suas mentes…Porque queiramos ou não eles acreditam mais do que deviam no que lhes dizemos…
OBSERVEMOS OBSERVEMOS OBSERVEMOS
