O WordPress avisa-me “Its time to blog” !
Hoje avisou-me por volta das onze horas da manhã, estava eu em casa dos meus sogros e o tema, apareceu!
A minha sogra oferecia ao filho (meu marido) um cordão de ouro, com o recado: “se não o quiseres fica para a tua filha, não o ofereço á nora, porque na tua filha ficará sempre na familia!”
Este comentário superou tudo o que estava à espera de escutar. Há 22 anos que estou numa familia que afinal não me assume com sendo parte deles… não por o valor do fio, mas sim pelo peso da pertença.
É muito comum em sessões os desabafos sobre a dificuldade de aceitar o lado da familia do marido/mulher.
Seja no papel de noras, genros ou sogros, existem conflitos de personalidade e dificuldade de aceitar e entender, modelos de sistemas “Familiares” diferentes dos nossos. Por aqui nunca foi o caso, respeitando o espaço de cada um, obviamente fazendo alguns ajustes e apenas partilhando o que nos deixa em harmonia, as décadas foram passando em paz.
No entanto todos sabemos que são muito comuns as criticas, parecendo por vezes existir competição, sobre qual o lado melhor.
Sei que, sistémicamente ninguém se cruza por acaso e que somos atraídos uns pelos outros, também pelos campos energéticos que cada sistema desenhou. É como se um campo se entrelaçasse no outro e fizesse um desenho perfeito. A atração que temos uns pelos outros, passa muito por aí.
Muitas vezes existem resistências automáticas, às familias dos nossos namorados e companheiros. Nem sempre percebemos o que leva a essa resistência. No inicio tudo é um mar de rosas, mas quando se misturam as familias, começam a surgir questões.
Se olharmos para as crenças populares, para os ditados que surgem sobre o (não) pertencimento dos conjuges, conseguimos perceber que as divisões ou exclusões começaram bem lá atrás. Por exemplo, lembro-me da minha mãe contar que a minha avó paterna, decidiu que não podia tomar conta das minhas irmãs, porque tinha de tomar conta dos filhos da minha tia (irmã do meu pai) e que lhe disse que os filhos da filha estavam primeiro , porque “Filhos da minha filha, meus netos são… Do meu filho , serão ou não!”
Crenças como esta, são colectivas, memórias transgeracionais, que ficam nos nossos campos e tem alimentado as relações familiares.
Obviamente revelam a ignorância em que a sociedade se tem movimentado nos últimos séculos no campo das relações familiares e que perpetuam processos de EXCLUSÃO dentro das redes familiares. O querer “manter na familia”. Familia que nunca existiria se outros não entrarem para a aumentar!
Quando a minha sogra disse apenas respondi ” Acredite que existem bens que ficam melhor nas mãos de muitos genros e noras, do que nas mãos dos próprios filhos… e ficam na familia na mesma!”
Para mim isto é simples e claro ora vejamos:
A minha sogra é da minha familia, ainda que eu me divorciasse do meu marido, ela será sempre a avó dos meus filhos.
O netos, tem os genes dos avós, misturadas com os dos meus pais e com os meus. Não seria o suficiente para sermos familia ?
O facto dos netos da minha sogra terem sido gerados por mim, no meu corpo, com as minhas células não será suficiente para que me considerasse da sua familia (?)
O Facto de eu ter educado, criado e lutado para manter saudáveis os netos, não deveria ser suficiente para me considerar da familia ?
O dito fio que vale meia dúzia de tostões, trouxe uma informação preciosa sobre aquilo que tem de mudar na Educação Familiar para que surjam novos contextos e ordens familiares. Para criarmos uma sociedade inclusiva a familia tem de ser inclusiva e infelizmente, os contextos familiares não tem sido o melhor exemplo para as novas gerações.
Temos de deixar de viver em familias provisórias que se fazem e desfazem… Temos de viver inteiros em cada familia pela qual passamos e devemos ficar inteiros mesmo quando as separações físicas acontecem.
Sempre disse que “uma vez sogra, sogra para sempre”. Da minha familia já fazem parte duas sogras e dois sogros, dois maridos, sete irmãs e 11 cunhados.
Ainda tenho um conjunto de toalhas e dois tuperwares especiais “micro-ondas” (aparelho que já não uso) oferecidos pela minha primeira sogra e guardo-as como se fossem ouro. Cada vez que os uso recordo-me dela. Só não ando com eles pendurados ao pescoço porque não são um fio de ouro.
Acredito que os grandes conflitos familiares, entre sogros, genros e noras se devem a estas crenças, de que não pertencemos ao mesmo grupo. Crenças subtilmente enraizadas em todos os sistemas familiares, onde a unidade não existe.
Nenhum sistema vive sozinho a não ser que se casem irmãos com irmãos e as relações entre pais e filhos sejam incestuosas.
A partir do momento que chega alguém de fora da familia de origem ( Nora ou Genro) e permite a reprodução desse sistema e a sua extensão no futuro, essa pessoa fará sempre parte da familia, para o bem e para o mal.
Nunca serão os bens que determinam se uma pessoa pertence ou não a uma familia.
Se os netos da minha sogra nasceram de mim, ainda que ela me exclua da familia, eu tenho um papel fundamental na existência do sistema, faço parte, pois sem mim a familia dela não continuaria.
A crença de que as noras/genros (pais dos netos) não fazem parte, cria um pesado processo de “exclusão”, gerações após gerações.
Incluir não tem a ver com a entrega de bens materiais, mas terminar com a crença de que a nora/genro , pais dos netos, não pertencem à familia. Retirar o pai/Genro ou a mãe/nora da familia de origem dos avós é dividir os NETOS ao meio. Provavelmente e como consequência, criam-se subtis afastamentos. “Se a minha mãe/pai não pertence, eu também não quero pertencer”
O fio de ouro aqui apenas representa a pequenez de pensamento e a energia de exclusão que não queremos em nenhum sistema.
Sobre a minha sogra: É a segunda sogra que tenho e faz parte da minha familia de sogros. Gosto muito dela e ao longo da vida tenho lhe sido muito grata pela simplicidade com que diz coisas que podem doer, não porque queira magoar, mas porque para ela é assim que faz sentido e eu, no meio dos verbos, vou juntando peças e encontrando sentido “sistémico” e cultural, para o que me diz…
Como consigo ? O que diz foi construído por crenças individuais, colectivas, religiosas e culturais. Sei também, que não tem nada a ver comigo…
” Não levando a Peito” e Observando chego mais longe na cura do nosso sistema e no fim … Ganhamos todos!
